Copom começa reunião para decidir nova Selic; saiba o que esperar
Comitê de Política Monetária terá dois dias de encontros consecutivos em agosto, que podem ser marcados pelo fim do ciclo de aperto monetário, segundo especialistas
O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, iniciou nesta terça-feira (2), em Brasília, a reunião para definir a nova Selic, a taxa básica de juros. São dois dias de encontros seguidos. Na quarta-feira (3), o Copom anunciará sua decisão.
O mercado espera mais uma alta nos juros, dessa vez de 0,50 ponto percentual, o que levaria a Selic a 13,75% ao ano. Caso confirmada a previsão, este será o 12º aumento consecutivo da taxa.
O Banco Central (BC) iniciou um ciclo de aperto monetário em 5 de maio de 2021, quando anunciou elevação dos juros em 75 pontos-base. Na época, a Selic estava a mínima histórica de 2% ao ano e foi a 2,75% a.a.
Os demais encontros foram marcados por decisões mais agressivas, com aumentos maiores na taxa básica visando controlar a inflação, que dava sinais de persistências. Veja o gráfico abaixo sobre a escalada da Selic:
Fim do ciclo?
Especialistas ouvidos pelo CNN Brasil Business afirmaram que a reunião do Copom de agosto pode ser a última em que será anunciado aumento na taxa básica de juros.
Isso porque, segundo eles, o mundo passa por um momento de desaceleração da economia e a inflação já dá sinais de arrefecimento, com a “pancada” iniciada em meados de 2021 começando a surtir efeito sobre os preços.
O IPCA de junho variou 0,67%, enquanto a expectativa para o índice de julho é de deflação. Já o IGP-M desacelerou a 0,21% no mês.
O arrefecimento da inflação oficial do país também é observado pelo mercado. A previsão do IPCA passou de 7,30% para 7,15% segundo o boletim Focus desta semana, enquanto a projeção do PIB avançou para 1,97%, ante 1,93%.
“A economia brasileira tem reagido muito bem às questões que foram impostas. Ela se mostrou muito resiliente em 2021 e 2021”, afirmou José Márcio Camargo, economista-chefe da Genial Investimentos, sobre um possível fim da alta de juros depois de agosto.
O economista explicou que tem sido otimista em relação à recuperação econômica do país. Ele destacou a redução da alíquota do ICMS sobre combustíveis e energia elétrica como um fator preponderante para a desaceleração da inflação, mas disse que o BC deve ficar mais atento com uma nova elevação de preços no segundo semestre.
“Com a redução de impostos, a inflação vai cair, mas haverá outro aumento de demanda com a aprovação da PEC dos Benefícios, que levará a um ganho real na renda familiar, e isso pode causar uma pressão inflacionária adicional que não estava no horizonte do BC”, ponderou.
Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Órama, disse que também acredita em um aumento de 50 pontos-base nos juros na reunião de agosto, com uma estabilização da Selic a partir de setembro.
Para a economista-chefe do Inter, Rafaela Vitória, a alta de 0,5 ponto percentual esperada para a reunião de agosto nem seria necessária, mas o Copom não deverá surpreender o consenso de mercado.
Apostas na escalada dos juros
Ainda que a economia tenha apresentado resultados mais positivos que o esperado pelo mercado, não há consenso quanto à estabilização dos juros neste momento.
O Credit Suisse revisou na segunda-feira passada a sua previsão sobre a Selic, apontando para uma taxa de 14,25%, ante 13,75% na projeção anterior. O banco estima que haverá uma elevação de 50 pontos-base em agosto e mais duas, de 25 pontos cada, em setembro e outubro
Uma das principais razões para essa divergência sobre o fim da alta dos juros é o aumento das projeções inflacionárias para os próximos anos.
O ex-diretor do BC Tony Volpon reforçou ser “muito difícil” a entidade monetária brasileira atingir a meta para o ano que vem, e afirmou que a instituição já trabalha visando conter os preços dentro das projeções para 2024.
Sérgio Goldeinstein, estrategista-chefe na Renascença DTVM, pontua que existem uma gama de fatores que contribuem para as projeções elevadas de inflação, sendo uma das principais a preocupação do mercado com a situação fiscal do país.
“Com a PEC [dos Benefícios] aprovada, que contorna o teto de gastos, aumenta a demanda em um momento em que o banco central tem uma política contracionista. Além disso, ultrapassar o teto novamente tira a credibilidade da âncora fiscal do país, e isso contribui para a depreciação do câmbio a para a piora das expectativas de inflação”, acrescentou.