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    Conheça Roman Abramovich, bilionário de origens humildes e próximo alvo da UE

    Empresário russo, que construiu uma das maiores fortunas do mundo do zero, estará na próxima lista de sanções da União Europeia, segundo fonte

    Pedro Falardoda CNN , em Portugal

    “Para dizer a verdade, não posso dizer que a minha infância foi ruim, porque nessa idade não é possível comparas as coisas: um come uma cenoura, outro um doce, e ambos sabem bem. Uma criança não sabe a diferença”.

    A frase é do bilionário Roman Abramovich, que recorda seus primeiros anos de vida, após ficar sem pai nem mães e ter de viver em vários orfanatos. Ela foi dita ao The Guardian quando o magnata tinha 40 anos e já controlava um império.

    Atualmente, aos 55 anos, continua a acumular riqueza — é o 142º homem mais rico do mundo segundo o ranking da Forbes — e tornou-se notícia por ter sido mencionado nas negociações entre a Ucrânia e Rússia.

    O nome do bilionário ficou conhecido em 2003, com a aquisição do Chelsea e subsequente investimento no clube londrino, que conquistou cinco títulos da Premier League (campeonato inglês, cinco Taças de Inglaterra, mas, sobretudo, duas Ligas dos Campeões.

    O seu reinado no futebol agora está prestes a terminar, após 19 anos, um dano colateral da invasão russa à Ucrânia.

    Mas a história deste empresário, que nem sempre teve uma vida de luxo, vai muito além do futebol.

    A biografia não autorizada “O bilionário de lado nenhum”, escrita em 2004 pelos jornalistas Dominic Midgley e Chris Hutchins, conta seus momentos mais difíceis.

    Nascido no seio de uma família judia, Abramovich ficou órfão de pai e mãe com apenas 2 anos e meio, tendo passado a sua infância entre a casa dos tios e vários orfanatos na localidade de Ukhta, perto do Círculo Polar Ártico.

    A sua juventude teria ensinado a ele o valor do dinheiro e, ainda durante a sua passagem pelo exército soviético, entrou no mundo dos negócios, no ramo dos automóveis, como mecânico numa pequena oficina.

    Construção da fortuna

    As grandes oportunidades da vida de Abramovich chegaram com o colapso da União Soviética e o desregulado processo de privatizações levado a cabo pelo então presidente Boris Yeltsin.

    Criou então seu primeiro negócio legítimo, de venda de brinquedos de plástico, com a sua primeira mulher, Olga, mas depressa expandiu os seus investimentos para os setores do petróleo, agricultura e pecuária, entre outros, acumulando bastante capital.

    Em 1995, surge aquele que foi, talvez, o negócio mais importante de Abramovich. Em conjunto com o já estabelecido oligarca Boris Berezovsky, ele comprou a maior parte das ações da Sibneft, uma das maiores produtoras de petróleo da Rússia e do mundo, por pouco mais de 176 milhões de euros.

    O negócio veio a compensar ainda mais vários anos depois, em 2000, já que Berezovsky não caiu nas boas graças do recém-eleito presidente Vladimir Putin e foi forçado ao exílio, não sem antes vender a sua parte na Sibneft a Abramovich, o que aumentou ainda mais a sua fortuna.

    O sucesso da compra ficou evidente em 2003, quando a empresa já valia 13,2 bilhões de euros.

    O passo seguinte foi o mais difícil. O virar do milénio na Rússia ficou marcado pelas chamadas “guerras do alumínio”.

    “A cada três dias, uma pessoa naquela indústria era morta”, disse o próprio Abramovich durante um julgamento em Londres.

    Quase sem querer, e não isento de polémicas, tornou-se um dos grandes produtores de alumínio do país através da Rusal, que ainda hoje é a segunda maior empresa mundial do ramo.

    Política

    Foi também neste período que Roman Abramovich estreou no mundo da política. Após uma curta passagem pela Duma, a câmara baixa da Assembleia Federal da Rússia, o empresário foi eleito governador da Região Autónoma de Chukotka, a mais oriental do país e também uma das mais pobres.

    “Quando você chega lá e vê a situação em que 50 mil pessoas estão, tem vontade de fazer algo. Nunca vi nada pior na minha vida do que aquilo que vi lá (em Chukotka)”, afirmou ao The Guardian.

    Durante os seus dois mandatos, de 2000 a 2008, investiu perto de bilhões de euros na região, que se somaram aos mais de dois bilhões de euros de doações entre 2009 e 2013.

    Nos primeiros seis anos de governo, o salário médio dos trabalhadores de Chukotka quintuplicou, razão pela qual Abramovich é até hoje admirado pelos seus antigos eleitores.

    Inimigos

    Pelo caminho, na construção da fortuna, fez inimigos e colecionou controvérsias. Outrora sócios, Abramovich e Berezovsky vieram a se desentender sobre questões relacionadas aos dinheiro.

    Em 2011, o malogrado Berezovsky (encontrado morto em sua casa dois anos depois) processou o antigo parceiro de negócios por chantagem, quebra de confiança e quebra de contrato.

    O caso foi, no entanto, arquivado pelo Tribunal Superior de Londres no ano seguinte, que considerou o acusador uma testemunha “pouco confiável”.

    Sobre Abramovich recaem também suspeitas de que ele pode ter mandado matar vários empresários durante as “guerras do alumínio”. No entanto, o empresário nunca foi formalmente investigado por isso.

    Na questão ambiental, o empresário é campeão em repercussão negativa. De acordo com a publicação The Conversation, Abramovich era, em 2018, o bilionário mais poluidor do mundo, isto apenas contando suas propriedades e bens pessoais, deixando de fora as participações em empresas de setores nefastos para o ambiente.

    A passagem pelo Chelsea levou-o à fama mundial, muito impulsionada pela contratação de José Mourinho no verão de 2004, que trouxe os grandes títulos nacionais de volta a Stamford Bridge.

    Mas a complicada relação com alguns treinadores, bem como a rapidez com que os despedia após uma má série de resultados, foram marcas bastante características da sua presidência.

    Até ao verão de 2020, o russo tinha gastado cerca de 2,5 bilhões de euros só em transferências, valor superior inclusive ao desembolsado por Florentino Pérez à frente do Real Madrid.

    Coleção

    Ao longo dos anos, tornou-se o maior comprador mundial de iates, embora atualmente só tenha dois: o Eclipse, que chegou a ser o maior do mundo e pelo qual pagou 370 milhões de euros, e o Solaris, encomendado por 563 milhões de euros.

    O empresário é também dono de um Boeing 767, de nome “The Bandit” (“O Bandido”), e de múltiplas mansões em Londres, Nova Iorque e Moscovo.

    Abramovich é, igualmente, colecionador de obras de arte, de pintores como Francis Bacon e Lucian Freud, entre outros, tendo ainda patrocinado várias exposições de fotografia sobre a antiga União Soviética.

    Família

    Apesar de estar solteiro, Abramovich já casou três vezes. O primeiro casamento, com Olga Lysova, terminou ao fim de três anos, em 1990.

    O segundo, e mais longo, data de 1991, com Irina Malandina, e acabou em 2007, ano em que surgiram rumores na imprensa britânica de um relacionamento com Darya Zhukova, filha de um outro oligarca.

    O empresário casou com Zhukova um ano depois, em 2008. A união entre os dois terminou ao fim de dez anos. Com as duas últimas mulheres teve sete filhos (cinco com Irina e dois com Darya), e todos têm as suas vidas independentes.

    O filho mais velho, Arkadiy, seguiu os passos do pai e é já dono de empresas e fundos de investimento, e duas das suas filhas, Arina e Sofia, são amazonas profissionais.

    Abramovich é também ativista contra o antissemitismo, promovendo várias instituições que apoiam esta causa.

    Foi oficialmente reconhecido pelo Fórum para a Cultura e Religião Judaicas pela sua contribuição de mais de 460 milhões de euros para causas do judaísmo em todo o mundo, tendo de igual modo, durante a sua presidência do Chelsea, assinado uma parceria entre o clube e a Liga Antidifamação.

    Na lista da UE

    A sua ascendência judaica esteve na origem de um dos assuntos mais comentados na sociedade portuguesa no fim do ano passado.

    Revelada pelo jornal “Público”, a atribuição da nacionalidade portuguesa ao bilionário russo, decorrente da lei que permite a descendentes de judeus sefarditas adquirir a cidadania como compensação pela expulsão decretada no final do século XV, levantou algumas dúvidas, dada a falta de ligação aparente entre Abramovich, apelido comum entre judeus asquenazes, e este grupo étnico.

    Suspeito é também o fato do bilionário ser parceiro há vários anos da Comissão de Certificação do Judaísmo, que lhe comprovou a ascendência, e patrocinador da Comunidade Judaica do Porto e do Museu do Holocausto da cidade, cujo representante, Hugo Miguel Vaz, editou a página da Wikipédia de Abramovich 18 vezes, introduzindo várias referências às alegadas origens sefarditas do russo.

    A atribuição da nacionalidade será investigada pelas autoridades, mas, até que a decisão seja revertida, o empresário tem passaporte português (que juntou ao russo e ao israelita), um dos mais poderosos do mundo, sendo assim cidadão da União Europeia.

    O futuro de Abramovich, assim como de todos os oligarcas russos próximos de Putin, é incerto.

    Uma fonte de Bruxelas garantiu à CNN Portugal que o luso-russo vai estar na próxima lista de sanções da União Europeia.

    A sua filha Sofia expressou no seu perfil do Instagram que faz oposição à guerra e ao presidente russo, Vladimir Putin.

    O próprio empresário comprometeu-se a doar o lucro da venda do Chelsea às vítimas da guerra na Ucrânia, através de uma fundação criada com essa finalidade.

    Contudo, esta ação, praticada após anos e anos de amizade com Vladimir Putin e as elites russas, não deverá livrar o empresário de um pesado rombo nas suas finanças, colocando em risco a sua fortuna de cerca de 12 bilhões de euros.

     

     

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