Com o dólar em alta, Reserva quer ser opção aos outlets e lojas de Miami e NY
Fundador da empresa, Rony Meisler quer ser alternativa para brasileiros que faziam compras fora do país, substituindo grifes como Lacoste e Ralph Lauren
A Reserva quer ser uma opção a Miami. De repente, até mesmo a Nova York, Milão e Barcelona, conhecidas pelo aquecido mercado de moda. Essa é a intenção do fundador da empresa, Rony Meisler, para se recuperar do tombo que o varejo de vestuário como um todo teve durante a pandemia da Covid-19.
Afinal, já que o dólar deve permanecer em patamares altos por um bom tempo e as viagens para o exterior ficarão mais limitadas (especialmente as originárias do Brasil) até a existência de uma vacina, será muito difícil para a elite brasileira dar uma voltinha por Orlando e trazer malas recheadas de camisas, tênis, calças e afins. E a Reserva pretende tomar parte das vendas que iriam para as grifes internacionais nesses outlets espalhados pelos Estados Unidos e pela Europa.
É um fato que já aconteceu no primeiro semestre, segundo dados divulgados pelo Banco Central na terça-feira (28). Os gastos do brasileiro no exterior caíram 59,4% de janeiro a junho, para o menor valor desde 2007. Em junho, foram registradas despesas de R$ 239 milhões lá fora, um recuo de 84,3% em comparação ao mesmo período de 2019.
Leia também:
Carrefour muda planos por pandemia e está no caminho para lucrar no e-commerce
De atriz a empresária: Marina Ruy Barbosa lança Ginger, grife de moda consciente
Varejo não vai aceitar aumento de impostos, diz Luiza Trajano, do Magazine Luiza
Isso porque a empresa tem como principal foco os clientes mais endinheirados, das classes A e B. Elas costumam ser as menos afetadas pela crise, já que possuem empregos mais estáveis e o ímpeto de consumo não costuma arrefecer tanto. Prova disso é que na na China, após o pior da pandemia ter passado, as vendas no setor de luxo dispararam – uma única loja da grife Hermès, por exemplo, chegou a vender R$ 14 milhões em 24 horas.
Essa será uma forma de compensar parte das perdas que a empresa teve em 2020. Era para ser um ano memorável: aumento de faturamento, crescimento no número de lojas e até mesmo uma possível abertura de capital na bolsa de valores. Nada disso vai acontecer. Nas contas de Meisler, a queda nas receitas será entre 25% a 35% em comparação aos R$ 400 milhões registrados no ano passado.
A redução poderia ser ainda maior, mas a Reserva se mexeu durante a quarentena. Com boa parte de suas 113 lojas está instalada dentro de shoppings – que foram prontamente fechados para, depois, abrirem com uma série de restrições –, a empresa chegou a ver as vendas caírem 65% em abril.
Uma das saídas encontradas foi a ampliação das vendas online, movimento visto por todo o mercado. Não que a empresa estivesse mal posicionada: 22% do faturamento já vinha da operação digital, um índice alto dentro do varejo. Mas insuficiente para manter a operação rodando. Diante disso, a companhia decidiu acelerar um projeto de CRM, uma espécie de software de gestão e de vendas, para colocar os seus vendedores (que estavam parados) para vender.
Batizado de Now, a ideia consiste em montar uma base de dados dos clientes e colocar os vendedores para ter um contato assíduo com eles – não só para comercializar, mas também para ajudar os clientes com dicas de estilo (claro que apresentando novos modelos para que eles consumam).
Para conseguir fazer com que as roupas chegassem mais rápido às casas das pessoas, também foi criado um sistema de estoque em que seria entregue para o cliente a roupa mais próxima da casa dele – seja de loja própria, franquia ou até mesmo multimarcas. Isso aconteceu até para não causar ainda mais danos para a cadeia da Reserva como um todo.
“Todos agora têm estoques 100% digitais e estamos trabalhando ombro a ombro com eles e de maneira bem sucedida”, diz Meisler.
Com isso, as vendas foram aumentando mês a mês. Em maio, 50% do faturamento em relação ao mesmo período do ano passado já tinha sido recuperado. Um mês depois, 65%. Em julho, se tudo continuar da forma como se apresenta, segundo Meisler, a conta sobe para 90%.
“Acredito que conseguiremos voltar aos patamares do ano passado em setembro ou até mesmo em agosto”, diz o empresário.
Um avião abatido por aves
Meisler gosta de comparar o atual momento com a queda do avião US Airways 1549 no Rio Hudson, em Nova York, em 2009.
Após levantar voo, o avião foi atingido por um bando de aves na turbina, o que fez com que o piloto Chesley Sullenberger, conhecido também como Sully, tomasse uma difícil decisão: pousasse no Rio Hudson, bem próximo à ilha de Manhattan. Nenhum dos 155 viajantes morreu.
“Nós estávamos levantando voo e fomos atingidos por um bando de aves. Se Deus quiser, será a pior crise pela qual passamos na nossa vida”, diz Meisler.
Por isso, os planos de expansão foram postergados. A empresa apertou o cinto para não sofrer mais e ajudar os seus clientes. Um exemplo foi o adiamento de diversos boletos que lojas multimarcas e franqueados tinham com a empresa.
Oportunidades
As oportunidades aparecem no momento de crise, como diz o clichê do mundo corporativo. No caso do varejo têxtil, faz ainda mais sentido. Meisler acredita que está sofrendo menos do que a concorrência neste momento.
Segundo ele, a empresa sempre apostou no crescimento de maneira orgânica, sem empréstimos vultosos nem apostas de alto risco. Por isso, quando veio a crise, foi mais fácil reverter a situação de falta de entrada de caixa.
Outras empresas importantes do setor, no entanto, não tiveram o mesmo caminho. A Restoque, dona de marcas como Le Lis Blanc e Dudalina, acertou um acordo de recuperação extrajudicial com seus credores. A Inbrands, que possui grifes como Ellus e Richards, pode seguir no mesmo caminho, segundo especialistas. E isso pode ser uma boa oportunidade para empresas capitalizadas.
“Deverá haver vacância em pontos importantes, o que é importante para nós. E até mesmo uma consolidação de outras marcas, que podem fazer sentido para nós”, diz ele.
Por isso, os planos de abertura de capital não devem ser tão adiados. Para 2020, no entanto, está descartado. “Mas é um caminho natural para a empresa”, diz Meisler.
Para isso, o desafio de Meisler será mostrar aos endinheirados brasileiros que a Reserva não perde em nada para grifes como Ralph Lauren, Lacoste, Tommy Hilfiger e Emporio Armani. E que gastar dinheiro no Brasil pode trazer tanto status quanto fora dele.
Clique aqui para acessar a página do CNN Business no Facebook