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    Com a taxa de juros em baixas históricas, ainda é vantajoso sacar o FGTS?

    A partir do dia 15 de junho, trabalhadores com saldo disponível em contas ativas e inativas do FGTS poderão sacar R$ 1.045

    Matheus Prado, , do CNN Brasil Business, em São Paulo*

    A partir do dia 15 de junho, trabalhadores com saldo disponível em contas ativas e inativas do FGTS poderão sacar R$ 1.045. A Medida Provisória (MP) 946/2020, publicada no Diário Oficial da União no último dia 7 de abril, extinguiu o Fundo PIS-Pasep, transferiu o seu patrimônio para o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e liberou saque emergencial de um salário mínimo por CPF por conta da pandemia do novo coronavírus e as consequentes crises de saúde e econômica.

    Se o trabalhador não se manifestar negativamente até o dia 30 de agosto, o crédito será depositado automaticamente na conta poupança de sua titularidade ou em outra instituição financeira, sem qualquer custo. Este ponto da MP, no entanto, levanta uma discussão: quem deve sacar o dinheiro e quem deve mantê-lo na conta do FGTS? Com a taxa de juros baixíssima e podendo sofrer novo corte em junho, a conta do Fundo de Garantia pode ser mais rentável do que as principais modalidades de renda fixa.

    A taxa Selic está atualmente em 3%. Com isso, a rentabilidade do Tesouro Selic acompanha o valor e o CDI, usado para remunerar as CBDs, se aproxima dele. A Poupança, por outro lado, rende 70% da taxa básica de juros. Há ainda uma real possibilidade de novo corte em junho, para 2,25%, como já adiantou o Copom, o que diminuiria ainda mais a margem de lucro dos investidores.

    As contas do FGTS, por outro lado, rendem 3% e estão livres de imposto de renda. Além disso, há anos em que parte dos lucros são compartilhados com os cotistas, fazendo com a rentabilidade cresça. Em 2019, por exemplo, este valor saltou para 6%. Tudo apontaria, então, para uma manutenção do dinheiro na conta, certo? Os especialistas ouvidos pelo CNN Brasil Business consideram que não.

    Para quem precisa do dinheiro para pagar contas ou reforçar os ganhos familiares, não há dúvidas: a quantia deve ser sacada. Já para aqueles que possuem reservas e não precisam, necessariamente, destes recursos, a orientação de muitos especialistas também é considerar o saque para um investimento mais estruturado. 

    A recomendação de analistas nesse sentido é: focar em liquidez e olhar investimentos no longo prazo. Isso porque, o problema em manter o benefício do FGTS na conta começa exatamente na taxa de juros, já que o risco Brasil segue elevado e a tendência para o próximo ano é que a Selic volte a subir. Em seu relatório semanal Focus, o Copom projeta que a taxa estará em 3,38% no ano de 2021. 

    “Não temos estrutura para manter a Selic assim por períodos longos de tempo. Se o Brasil tem um risco maior para o investidor, isso tem um preço, e esse preço é que não conseguimos ter taxas de juros tão baixas”, afirma Flávio Pretti, planejador financeiro CFP pela Planejar. 

    Caso escolha não realizar o saque nesse momento, o contribuinte pode até ter uma rentabilidade maior, mas não sabe qual será a próxima janela para sacar o dinheiro, o que gera uma questão importante de falta de liquidez. “Se foi dada a opção de sacar, ter esse dinheiro em mãos faz mais sentido, com o investidor podendo tomar suas próprias decisões”, afirma Paloma Brum, analista de investimentos da Toro Investimentos.

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    Ela também explica que, apesar do FGTS bonificar seus cotistas em algumas circunstâncias, nada garante que o mesmo será feito este ano. “Também tivemos muitos saques nos últimos anos, então, com menos dinheiro disponível, a rentabilidade tende a cair”, completa.

    Mas o que dá para fazer, em termos de investimento, com R$ 1.045? Pretti prega cautela. “A bolsa deu recuperada, mas a gente não sabe bem porquê. As expectativas mudaram, mas o mundo nem tanto”, afirma. “Aconselho manter este dinheiro num fundo DI com taxa de administração baixa ou no Tesouro Selic. O importante é ter liquidez para resgatar o dinheiro em caso de emergência.”

    Como alternativas de investimentos ao FGTS, Paloma dá sugestões para os três perfis de investidores (conservador, moderado e arrojado). Os primeiros devem manter toda quantia em renda fixa. 60% em papéis pós-fixados, 25% em prefixados –uma segurança caso as taxas continuem caindo–, e 15% em títulos que seguem a inflação, como o IPCA+.

    Para o segundo grupo, ela indica uma proporção 70/30 entre rendas fixa e variável, apostando a segunda parcela, ou cerca de R$ 300, em fundos de índice como o BOVA11. Por fim, os arrojados devem separar 40% para a renda fixa e 60% para investimentos mais avançados. Com estes R$ 600, é possível, por exemplo, entrar em fundos de investimento imobiliário, que perderam muito na crise e devem começar a se recuperar.

    Como sacar

    Com a data prevista para o início dos saques se aproximando (15 de junho), já é possível esclarecer algumas dúvidas sobre como o processo será realizado. O limite será mesmo de R$ 1045 por contribuinte, sendo que qualquer brasileiro com saldo nas contas do FGTS poderá sacar.

    Entre as contas, poderão ser sacados valores inativos (de empresas que trabalhou no passado) ou ativos (da companhia que trabalha agora). O dinheiro será descontado em ordem crescente, da conta com menos dinheiro em diante. É possível sacar ainda valores inferiores aos R$ 1045 se o trabalhador não possuir o valor cheio.

    Os saques devem seguir cronograma da Caixa Econômica, que “divulgará o calendário de pagamento e demais informações nos próximos dias”. Segundo a MP, os pagamentos serão realizados até dia 31 de dezembro.

    *Com Agência Senado

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