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    China, teto de gastos, política: por que o dólar disparou e a bolsa caiu

    Desde a mínima do ano, em junho, dólar já subiu 9,5% e, desde a máxima, Ibovespa caiu 10%

    Juliana Eliasdo CNN Brasil Business , São Paulo

    Até junho, os principais problemas chegaram a parecer resolvidos nas mesas de operações de investidores, bancos, corretoras e gestoras.

    Os piores momentos da pandemia no Brasil começavam a passar, a vacinação da população finalmente pegava ritmo e até as contas públicas, o grande medo dos economistas nos últimos anos por conta da alta dívida brasileira, ficaram melhores.

    O dólar chegou a cair abaixo dos R$ 5 pela primeira vez em um ano naquele mês e o Ibovespa, principal índice acionário da bolsa de valores paulista, engatou em uma sucessão de recordes até passar dos 130 mil pontos pela primeira vez.

    Nas últimas semanas, tudo mudou. Desde a mínima do ano (R$ 4,91, em 24 de junho), o dólar já subiu 9,5% e voltou para perto dos R$ 5,40. A bolsa, desde a máxima (130.776 pontos, em 7 de junho), caiu 10% – mesmo enquanto os principais índices norte-americanas batiam recordes.

    Fatores globais importantes ajudam a explicar uma parte da história, como a expectativa crescente de os Estados Unidos voltarem a subir os juros e um crescimento abaixo do esperado na China, o que enfraqueceu bolsas e moedas de todo o mundo emergente.

    Mas a outra parte da história – aquela em que a bolsa e a moeda brasileiras pioraram mais do que as outras – passa necessariamente pela sucessão de más notícias vindas de Brasília.

    Só nestes 24 dias de agosto, elas foram de manobras fiscais para tentar resolver uma dívida bilionária de precatórios e o fracasso da reforma tributária do imposto de renda, até ameaça de boicote às eleições e um pedido de impeachment inédito de um ministro do Supremo Tribunal Federal, ambos vindos do presidente da República.

    Instabilidade institucional

    Tudo isso fez o medo de descontrole dos gastos – o chamado “risco fiscal” – voltar e colocou de vez o “fator Bolsonaro” nos preços do Brasil, elemento que, até aqui, tinha ficado razoavelmente de fora das contas do mercado financeiro.

    “Por muito tempo, a percepção era de que, conforme Bolsonaro fosse entregando o poder decisório para terceiros, a condução da política iria melhorar, mas o que se viu é que ele é incontrolável”, disse Nicolas Borsoi, economista da corretora Nova Futura Investimentos.

    “Chegamos a uma discussão de se vai ter golpe. E isso afeta a bolsa porque a democracia tem pesos e sobrepesos que não permitem ao governo fazer tudo o que quer. Sem isso, ficamos como na China, tem que precificar se o governo vai acordar de mau humor ou não”, completa.

    “Ameaça de golpe não cai bem em nenhum mercado financeiro do mundo”, disse o economista-chefe da gestora BlueLine, Fabio Akira.

    O economista-chefe da RPS Capital, Gabriel Leal de Barros, acrescenta que a escalada de rusgas entre o Executivo e os outros poderes apenas colabora para congelar ainda mais o andamento das grandes reformas, como a tributária e administrativa.

    “Essa crise também tem efeito colateral negativo na perspectiva de avanço das reformas econômicas. Com essa briga, fica muito mais difícil o Congresso aprovar alguma coisa de qualidade”, disse.

    “Risco fiscal” e descontrole de gastos

    A escalada da turbulência política vem em um momento já instável na economia também.

    Uma inflação alta e sem sinais de alívio está obrigando o Banco Central a subir os juros muito mais do que o desejável. Isso prejudica a recuperação econômica e já começa a murchar as expectativas para o crescimento do país no ano que vem, o que por si já é um inibidor de investimentos.

    A queda persistente da popularidade de Bolsonaro também ajudou a trazer de volta o temor de que o governo escanteie de vez a regra do teto de gastos, que limita o crescimento do orçamento, para conseguir ampliar despesas e programas no ano eleitoral, o que agrava o já temido risco fiscal.

    O anúncio recente de uma possível ampliação robusta do Bolsa Família, ao lado das manobras nos precatórios para liberar a verba para o programa, foram os sinais de que o mercado precisava para levar o receio a sério.

    O “risco fiscal”, como os economistas gostam de chamar, é o temor de o governo seguir gastando indefinidamente mais do que arrecada e a dívida do país sair – ainda mais – do controle.

    Esse desequilíbrio desencadeia uma espiral de problemas que respingam em uma piora da economia como um todo, e é o que faz indicadores financeiros como a bolsa, o dólar e os juros futuros desandarem a cada sinal de fumaça.

    “Um risco fiscal alto afeta a taxa de câmbio, o que aumenta as pressões inflacionárias, e o que faz o Banco Central puxar mais os juros para cima, a ponto de começar a frear o crescimento da economia”, explica Akira, da Blue Line.

    “Economia fraca tende a reduzir ainda mais a popularidade do presidente, o que pode aumentar os gastos e bate de novo no risco fiscal. Os fatores se retroalimentam.”

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