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    Boletim Focus, do Banco Central: o que é e como impacta o mercado financeiro

    BC realiza pesquisa semanal com a projeção de cerca de 140 instituições para identificar as principais variáveis da economia brasileira

    Sede do Banco Central, em Brasília: autarquia solta semanalmente pesquisa de projeção de crescimento e inflação
    Sede do Banco Central, em Brasília: autarquia solta semanalmente pesquisa de projeção de crescimento e inflação Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

    Anna Russi,

    do CNN Brasil Business, em Brasília

    As estimativas do mercado financeiro para os principais indicadores macroeconômicos servem de bússola para a condução da política monetária pelo governo federal. Com o objetivo de identificar e ter o termômetro dessas expectativas, o Banco Central (BC) realiza, semanalmente, uma pesquisa com a projeção de cerca de 140 instituições financeiras para as principais variáveis da economia. 

    Assim, toda segunda-feira é publicado o Boletim Focus, documento que reúne a mediana das previsões para indicadores como o Produto Interno Bruto (PIB), o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a taxa de câmbio e a taxa básica de juros (Selic).  Fazem parte da elaboração do relatório bancos, gestores de recursos, distribuidoras e corretoras, assim como consultorias e empresas não-financeiras do “setor real.”

    Além das previsões de dados como o PIB, o boletim também indica o termômetro para o resultado da balança comercial, da dívida do setor público, dos resultados primário e nominal das contas públicas e do investimento direto no país. “A expectativa do Banco Central é ver o que os economistas dos principais bancos e grandes empresas enxergam para o futuro em termos econômicos”, diz Frederico Gomes, professor de economia do Ibmec. “Por isso é preciso formar o cenário com diversos indicadores econômicos”, comenta. 

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    Gomes ainda destaca que o relatório possibilita uma melhor condução da política monetária do Brasil – que tem como uma das finalidades manter o controle inflacionário no regime de metas de inflação. Segundo ele, a credibilidade dos agentes econômicos no BC é fundamental para uma política monetária menos custosa. 

    “Os agentes econômicos precisam acreditar que o BC, e o governo de maneira geral, está comprometido com inflação baixa e com o cumprimento da meta. Isso é o que chamamos de ancorar as expectativas: facilita o trabalho de condução da política monetária e gera um custo muito menor para a sociedade”, esclarece. 

    Ele exemplificou a relação da maior credibilidade da autoridade monetária com o menor custo das ações de política monetária: “Se a inflação começasse a subir, o principal instrumento para controle hoje é a taxa Selic. Então, os agentes que atuam no Focus trazem o termômetro do que o mercado espera para a boa condução da política monetária do Banco Central”, explica. “Dessa forma, a credibilidade acaba gerando um custo muito menor para a sociedade, pois direciona para uma atuação mais assertiva”, explica. 

    O professor ainda ressalta que, apesar da importância do Focus, o Banco Central não é obrigado a agir em função das previsões trazidas pelo documento. “É uma excelente fonte de consulta, mas o BC não pode estar a reboque do setor privado e do mercado. A intenção é apenas conhecer essas previsões”, reforça. 

    Já o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, lembra que a economia é uma ciência humana e, por isso, “muda todo dia”, bem como a cada divulgação de um novo indicador econômico. Dessa forma, o relatório apresentado pelo mercado também serve para comparações entre as projeções de instituições diferentes. Exemplo disso é que, até meados de abril, o mercado brasileiro previa uma queda para o PIB de apenas 3%, enquanto instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial estimavam retração para a economia brasileira de 5,3% e 5%, respectivamente. 

    “As projeções não são verdades únicas. O Focus serve também para ver se houve algum erro, se você está muito fora da média. Se você está muito diferente, isso te faz buscar o que está diferente entre a sua visão e a dos demais”, diz Agostini. “O erro de interpretação pode ser seu ou do mercado. Portanto, traz, também, um alinhamento das projeções”, afirma. 

    Esse alinhamento, na visão dele, fornece um norte para a melhor coordenação de novos negócios e gestão do orçamento de empresas brasileiras. “O Focus ganhou grande relevância não só no mercado financeiro mas também no mercado de capitais (empresas não financeiras)”, completa.

    História do Focus 

    A busca do Banco Central por expectativas de mercado começou em 1999, mesmo ano em que foi alterado o regime cambial do Brasil – do sistema de banda cambial para o câmbio flutuante – e também implementado o sistema de metas de inflação. Ambas as mudanças trouxeram a necessidade do chamado ancoragem de expectativas, ou seja, uma convergência do cenário esperado pelo BC com as expectativas do mercado. Em outras palavras: para resultar em uma alta credibilidade, a projeção oficial do Banco Central não pode ser descolar da previsão do mercado. 

    Em 2010, o Sistema de Expectativas de Mercado ganhou o segundo lugar na segunda edição do Prêmio Regional para Inovação em Estatística para a América Latina e Caribe, do Banco Mundial. O reconhecimento visa prestigiar os programas e atividades estatísticas que se destacam por sua qualidade, utilidade no desenho, implementação e avaliação de políticas públicas prioritárias para o desenvolvimento.

    “Com um novo regime cambial, a expectativa de um futuro da taxa de juros, bem como as reuniões do Copom e o Focus se tornaram mais importantes”, diz Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating. “Para ter maior eficiência em sua gestão, a autoridade monetária precisa coordenar muito bem suas expectativas futuras em relação a taxa de juros de mercado”, explica o especialista que, ao trabalhar em outras empresas, já foi responsável por encaminhar projeções ao Banco Central.

    Agostini observa também que os novos regimes de câmbio e metas de inflação impuseram ao BC a necessidade de compreender a visão de especialistas do mercado financeiro sobre os possíveis futuros do cenário econômico, de forma que as alterações na taxa de juros tivessem os resultados desejados. 

    “O mercado financeiro é quem determina as taxas de juros futuras. Pessoas físicas, e mesmo empresas, quando fazem financiamento de um imóvel ou veículo, não contratam a taxa básica e sim a de mercado, por exemplo”, diz o economista. “Então, para tomar essa decisão sobre a Selic, o colegiado precisa da previsão para ver o que o mercado está esperando de todos os indicadores, que afetam de forma direta ou indiretamente a política monetária”, complementa.

    Regime de metas 

    Após a definição feita pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), cabe ao BC perseguir a meta de inflação, por meio dos instrumentos monetários a sua disposição, como a taxa Selic. A meta se refere à inflação acumulada no ano medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), um dos indicadores de inflação calculado pelo IBGE. 

    Todo ano, o CMN define, no mês de junho, a meta para a inflação de três anos-calendário à frente. Ainda no mês de junho, portanto, será estabelecida a meta para 2023. Segundo o BC, o horizonte mais longo reduz incertezas e melhora a capacidade de planejamento das famílias, empresas e governo.

    Para 2020, o centro da meta é de 4%, com margem de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, a inflação poderia variar entre 2,5% e 5,5%. Desde março, as projeções do Focus trazem uma inflação abaixo do piso da meta. 

    Gomes, do Ibmec, explica que um IPCA tão abaixo da meta não necessariamente é bom. Em termos gerais, um cenário deflacionário pode impactar em um ciclo negativo para a economia. Isso porque, em uma deflação, as pessoas ‘empobrecem’, os salários ficam estagnados e a receita das empresas cai, fazendo com que elas parem de investir

    “Eu diria que furar a meta para passar o teto ou o piso são duas coisas ruins, uma vez que o BC não vai ter feito o seu trabalho totalmente”, afirma. “O principal ponto é que observar o que está levando a inflação lá para baixo: é ganho de produtividade? Não. No nosso caso, é uma recessão que a gente atravessou a pouco tempo e vai voltar agora”, diz.  

    Destaques Top 5 

    Como forma de incentivar o aprimoramento da capacidade preditiva das instituições participantes da pesquisa, o BC criou um sistema de classificação baseado no índice de acerto das projeções, o ranking Top 5. 

    Para Agostini, além de ser uma forma de premiar as instituições, o ranking também é benéfico para o próprio BC. “Esse reconhecimento é porque quanto melhor e mais precisa for a projeção, menor será também o erro do Banco Central”, observa. 

    Estar entre os Top 5 melhora a percepção de investidores sobre tais instituições. “É ganho de reputação. É importante porque se estamos falando de mercado financeiro, reputação significa dinheiro. Estando no topo do ranking, a instituição será procurada por mais investidores e clientes”, complementa o professor Gomes.

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