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    BlackRocks quer impulsionar o sucesso de empreendedores negros no Brasil

    A startup liderada por Maitê Lourenço, uma das 50 pessoas mais criativas do Brasil, fez parceria com o banco BTG Pactual para incentivar novos empreendimentos

    Aline Macedo do CNN Brasil Business, em São Paulo*

    Maitê Lourenço se descreve como provocadora, uma empresária que vive em busca de conhecimentos e desafios para desbravar o universo do empreendedorismo. Com o esforço, veio o sucesso — ela é reconhecida como uma das 50 pessoas mais criativas do Brasil, segundo a revista Wired Festival Brasil e Ambev CreativeX —, mas não sem sobressaltos.

    Como mulher e moradora do Jardim das Rosas, zona leste de São Paulo, ela sentiu na pele negra retinta todas as dificuldades que empreendedores com as mesmas características e origem enfrentam ao longo da caminhada. Por isso, decidiu ajudar empreendedores negros a acessar o restrito — e muitas vezes elitista — setor de tecnologia e inovação no Brasil.

    Fundou em 2016 a BlackRocks, um hub que conecta empreendedores a investidores, clientes e mentores. O negócio deu tão certo que recentemente a startup fez uma parceria com o banco BTG Pactual. Nos próximos dois anos, a BlackRocks receberá investimento financeiro e terá acesso a conhecimentos, de tal forma que poderá ajudar mais 24 pequenos empreendimentos a crescer. 

    O processo de mentoria da BlackRocks começou com 12 startups, mas, no ano passado, outras 10 se juntaram ao portfólio, mesmo em um ano atípico de pandemia.

     

    Aliás, a BlackRocks teve de se adaptar como tantas outras empresas mundo afora. Mas, segundo Lourenço, as mudanças não foram um problema: só anteciparam algo que já teria de ser feito eventualmente.   

    Os cursos da Arena BlacksRocks, que até então eram ministrados presencialmente, passaram a ser transmitidos pela internet, o que trouxe benefícios: pela primeira vez, a organização alcançou empreendedores das mais diversas regiões do país. No total, participaram do evento 13 mil pessoas, “mais do que esperávamos”, comemora. 

    O próximo passo deve ser ir além das fronteiras. Lourenço afirma que pretende levar a BlackRocks para outros países, de preferência os de língua portuguesa, como alguns países africanos, e para outras localidades da América Latina.  

    “É uma forma de valorizar a América do Sul, para que seja reconhecida como uma região de um povo inovador e tecnológico. E como o fator mais importante, pensar em ações para a população negra e indígena da América Latina”, afirma. 

    De acordo com dados da empresa de pesquisa Locomotiva, a população afro-brasileira movimenta o equivalente a R$ 1,7 trilhão por ano. Os negros também são a maioria nos pequenos negócios no Brasil: respondem por 38%, enquanto as pessoas brancas são responsáveis por 32,9%, segundo pesquisa da Global Entrepreneurship Monitor (GEM), realizada pelo Sebrae em 2017.       

    Apesar de maioria numérica, os negros são minoria em termos de oportunidade. Cerca de 32% dos empreendedores pretos e pardos tiveram um ou mais pedidos de crédito negados por seus bancos, sem que fossem esclarecidas as razões, de acodo com pesquisa realizada pela PretaHub, em parceria com Plano CDE e JPMorgan. “Apenas 6% das startups são lideradas por negros no Brasil”, afirma Lourenço.

     

    Foi a partir desse cenário desigual que ela desenhou o objetivo da BlackRocks: facilitar a compreensão de empreendedores (em especial, negros) sobre como construir uma startup. “Desse processo, faz parte, por exemplo, a desconstrução de teorias de que para entrar nesse segmento precisa falar difícil”, diz a empreendedora.

    Entre as iniciativas para auxiliar os empreendedores, a companhia promove o ArenaBlackRocks, um festival online com mais de 90 horas de conteúdo sobre inovação, tecnologia e negócios digitais. Também  promove o IdeiAção, para auxiliar a tirar ideias do papel, e o Noites de Mentoria, que ajuda a aprimorar e potencializar negócios já existentes.

    “Uma das ferramentas mais ricas desse processo é ajudar os interessados por meio de conexões entre empreendedores e mercado. Os candidatos recebem acesso à rede de contatos da BlackRocks, para que assim seja formado um novo ciclo de confecções e novas possibilidades”, explica Lourenço.

    O primeiro contato com o mundo do emprendedorismo foi no site de elaboração de currículos e simulação de entrevistas que Lourenço fundou em 2010. Com o Cia de Currículos, ela notou que o ambiente extremamente rico e cheio de oportunidades era voltado unicamente para os homens brancos.

    Logo, uma mulher negra na liderança era exceção, uma resistência — que ela quer que vire cada vez mais regra por meio da inclusão. Os benefícios são vários. A diversidade amplia as dicussões de trabalho e abrange um público maior.

    “A representação vem da base matriarcal da África, matriarcal da população negra e brasileira de que todos nós já somos gestoras. Esse ímpeto vem da nossa mãe, das nossas avós e nossas tias. Perpetuar essa visão é reverberar toda a história nas instituições”, diz.

    Lourenço é, de fato, uma provocadora. Uma provocadora de mudanças.

    *Com supervisão de Ligia Tuon e Natália Flach

     

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