Aviões supersônicos e carros voadores: como será futuro da aviação comercial
Projetos em andamento começam a dar os primeiros sinais de como será o mercado de aviação comercial nas próximas décadas
A busca por formas mais eficientes de voar e transportar passageiros pelos céus emitindo menos gases poluentes (ou até zerando) é o grande desafio da indústria aeronáutica para os próximos anos. Essa alteração exigirá a uma reformulação tecnológica dos aviões e nos hábitos dos passageiros.
Como será o futuro da aviação comercial? Essa é uma pergunta com muitas respostas e que levará o setor aéreo por diferentes caminhos, sendo que alguns desses movimentos já começaram. Há estudos sobre aviões elétricos, viagens supersônicas, carros voadores, entre outras inovações que mudarão em muitos sentidos o nosso acesso e a interação com o voo.
Veja abaixo as principais tendências para aviação comercial no futuro.
Aviões elétricos
A solução do avião elétrico é linda na teoria, mas ela ainda não funciona em aeronaves de grande porte. O que podemos construir, por ora, são aviões elétricos com capacidade um pouco acima de 10 passageiros e alcance de voo em torno de 300 km. Outra opção avaliada nessa área é a propulsão híbrida, combinando motores convencionais e fontes elétricas.
Os aviões elétricos não devem evoluir tão rapidamente ao ponto de tomarem o posto dos jatos no curto ou médio prazo. No entanto, a tecnologia já é bem-vinda nos segmentos de acesso da aviação. Já existem, por exemplo, aviões elétricos usados em escolas de pilotagem, e companhias aéreas da categoria sub-regional cogitam adotar aeronaves elétricas ainda nesta década.
As empresas aéreas Finnair, da Finlândia, e a Widerøe, da Noruega, anunciaram recentemente planos de introduzir aviões elétricos de passageiros em suas frotas até 2026. As aeronaves, para até 19 ocupantes, serão empregadas inicialmente em trechos curtos, algo comum na região da Escandinávia. No Canadá, onde o uso de aviões comerciais pequenos também tem boa adesão, a Harbour Air está testando hidroaviões adaptados com propulsores elétricos.
O processo de eletrificação da aviação é algo que vamos acompanhar em pequenas doses. As baterias elétricas, o “combustível” desse novo tipo de avião, são pesadas demais e pouco eficientes, comparado à alta potência dos motores a jato e turboélices. Outra fonte elétrica em estudo são os geradores a hidrogênio, tecnologia que ainda precisa amadurecer até se tornar realmente viável. Até lá, um passo de cada vez.
O fim dos quadrimotores
Num passado não muito distante, o conceito do avião quadrimotor era sinônimo de segurança e grande capacidade. Hoje em dia, essas máquinas eternizadas na forma dos gigantes Boeing 747 e Airbus A380, estão caindo em desuso no transporte de passageiros. Eles são caros demais de operar, exigem mais cuidados de manutenção e consomem enormes quantidades de combustível.
A alternativa a esses gigantes com quatro motores são os novos widebodies (aviões de fuselagem larga) bimotores de última geração, como o Airbus A350 e o Boeing 787. Não são tão capazes como os quadrimotores 747 e A380, mas também não deixam a desejar, sobretudo em autonomia. A Boeing ainda está trabalhando no novo 777X, o maior avião bimotor de todos os tempos –e o substituto definitivo do lendário 747.
Jatos pequenos para voos longos
A expectativa de embarcar num grande jato comercial e seguir viagem até o outro lado do mundo logo será algo tão trivial quanto um voo doméstico, numa aeronave “normal”. Jatos widebodies já podem ser substituídos por aviões menores, como os tradicionais Airbus A320 e Boeing 737, adaptados para voos transoceânicos.
O avanço nas tecnologias de motores e novas soluções aerodinâmicas contribuíram para reduzir significativamente o consumo de combustível dos aviões comerciais, abrindo a possibilidade de rotas cada vez mais longas. Se aproveitando dessa evolução, aviões menores, antes restritos a voos domésticos, partiram para a carreira de viagens internacionais entre continentes.
A Airbus já atua com firmeza nesse mercado com o A321LR. O modelo é uma versão de longo alcance do A321neo, com alcance ampliado para 7.400 km. Outra evolução do A321neo, o A321XLR, terá um desempenho ainda mais impressionante, de até 8.700 km. Significa poder voar de São Paulo ou do Rio de Janeiro para Nova York ou Lisboa sem paradas, rotas hoje executadas somente por widebodies. O lançamento da aeronave é programado para meados de 2024.
Os jatos da série 737 MAX da Boeing também apresentam bons números de autonomia. O menor modelo da família, o MAX 7, tem alcance de 7.130 km, o suficiente para voar sem escalas de São Paulo para Miami. O emprego de aviões pequenos e menos onerosos em relação aos widebodies abre um novo nicho no mercado de viagens internacionais com a oferta de passagens mais baratas.
O retorno dos aviões supersônicos de passageiros
Quando o Concorde foi aposentado, em 2003, foi como se a aviação tivesse regredido. Deixamos de voar em regime supersônico para nos deslocarmos em velocidades módicas. Esse fato ainda foi atenuado pela ausência de um substituto à altura do raro avião que voava de Londres a Nova York em três horas, ou de Paris para o Rio de Janeiro em cinco –voo hoje realizado em quase 12 horas.
Esse alívio no acelerador dos aviões, porém, logo será liberado e disponibilizado para todos nós (ao menos para quem puder pagar). Nos Estados Unidos, duas startups, a Boom Technologies e a Aerion Corporation, estão trabalhando em projetos de novos aviões supersônicos de passageiros.
A Boom tem a proposta que mais se aproxima do que foi o Concorde, o conceito Overture. Trata-se de um jato supersônico capaz de alcançar Mach 2,2 (2.355 km/h) e transportar 55 passageiros em voos de até 8.000 km. Um protótipo da aeronave em escala reduzida será testado ainda neste ano. A empresa programou a estreia comercial do aparelho para 2029.
Disputando em outro campo, a Aerion quer emplacar o primeiro jato executivo supersônico do mundo, o AS2. O modelo de luxo é projetado para receber 12 ocupantes e voar na faixa de Mach 1,4 (1.730 km/h), com autonomia transatlântica de 7.000 km.
As fabricantes também garantem que vão solucionar os problemas que acompanharam a carreira do Concorde, como o altíssimo consumo de combustível e o efeito do “sonic boom”, o incômodo estrondo sônico gerado pela passagem de um avião em velocidade supersônica.
Aviação executiva compartilhada
A aviação executiva também está passando por um momento de reformulação. A tendência nesse segmento são os voos compartilhados sob demanda, modalidade que permite ao cliente reservar um voo executivo e seu destino e, em seguida, disponibilizar os demais assentos da aeronave para outros passageiros, diluindo os custos da operação. Esse tipo de serviço, uma espécie de “Uber da aviação”, está avançando rapidamente no mundo todo, inclusive no Brasil.
A companhia de voos compartilhados mais popular no Brasil é a Flapper. A empresa oferece seus serviços por meio de aplicativos de smartphones, onde os viajantes podem reservar assentos em voos já programados. Outra possibilidade é fretar um avião (ou um helicóptero) e marcar um novo voo compartilhado para um determinado destino. Em alguns casos, pode ser mais barato viajar de jato executivo do que comprar uma passagem de companhia aérea.
Outro movimento observado no setor da aviação de negócios é a disseminação da propriedade compartilhada, que consiste na venda de uma aeronave para um grupo de pessoas. A primeira empresa a oferecer essa modalidade no Brasil foi a Avantto, criada em 2011. Ela negocia as aeronaves com os cotistas e gerencia a frota e a escala de trabalho dos pilotos.
A invasão dos eVTOLs
Chamados de “carros voadores” ou “táxis aéreos”, os veículos eVTOL (sigla em inglês para Aeronaves Elétricas de Pouso e Decolagem Vertical) estão próximos de seu batismo comercial. As pequenas aeronaves são propostas como uma alternativa de transporte urbano. Cidades na Austrália e nos Estados Unidos já estão se preparando para receber o novo modal, numa iniciativa liderada pela Uber em parceria com importantes nomes da indústria, entre eles a Embraer.
Os eVTOLs serão operados entre estações em centros urbanos, e as viagens poderão ser reservadas pelo aplicativo da Uber, combinando as viagens aéreas com deslocamentos de carro. Futuramente, prevê-se que essas aeronaves deixarão de ter pilotos e serão comandadas de forma autônoma.