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    Preocupação com retomada faz cada vez mais economistas apoiarem volta do auxílio

    Dados recentes mostram enfraquecimento da retomada, e analistas começam a apoiar a extensão do programa, desde que amparado por cortes em outras frentes

    Juliana Elias, , do CNN Brasil Business, em São Paulo

    Até os primeiros dias deste ano, tanto o presidente Jair Bolsonaro quanto seu ministro da Economia, Paulo Guedes, estavam bastante alinhados no discurso de que o auxílio emergencial, pago a famílias de baixa renda durante a pandemia, acabava com 2020 e não voltava mais em 2021.

    Guedes repetiu algumas vezes que o governo não tinha intenção de prorrogar o pacote bilionário de ajuda, enquanto Bolsonaro reforçava a falta de dinheiro para isso. O programa custou mais de R$ 300 bilhões em 2020 e foi um dos principais responsáveis pela disparada da dívida pública, que saltou de já altos 75% do PIB, em 2019, para 90%, ao fim de 2020. Ele foi pago de abril a dezembro a trabalhadores informais e famílias de baixa renda. 

    O discurso, porém, começou a mudar rápido nas últimas semanas, até o anúncio do presidente, na quinta-feira (11), de que a volta do benefício é quase certa para março

    Mercado faz as contas

    Unanimidade no ano passado, a extensão do benefício para 2021 tinha forte resistência de boa parte dos economistas, em especial no mercado financeiro. A preocupação primeira está no equilíbrio das contas públicas, que estão no vermelho há anos, e na tarefa já difícil que o governo tem para este ano de cumprir o teto de gastos, regra que limita o crescimento das despesas à inflação.

    Mas isso também começa a mudar, e mais economistas já começam a amparar Guedes e Bolsonaro no apoio à volta do benefício. A questão, agora, está no “como”: dentro do mercado financeiro, o consenso é de que o que for gasto a mais com auxílio deve ser cortado na mesma medida em algum outro lugar.

    Fora dos círculos financeiros, fala-se em alternativas como deixar o orçamento dos novos pagamentos de fora da conta do teto de gastos, o que tira a necessidade de outros cortes para que ele possa entrar no lugar. Os primeiros diálogos entre governo e parlamentares indicam que a solução deve ter um pouco das duas coisas.  

    Os números mostram uma recuperação cada vez mais lenta, e não é só coincidência com o fato de que foi quando o auxílio foi reduzido. Não há a menor dúvida de que a economia continua precisando de estímulos.

    Helena Veronese, economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management

     

    O auxílio começou em abril previsto em três parcelas mensais de R$ 600, ganhou depois mais duas de R$ 600 e, em setembro, foi estendido pelos últimos quatro meses do ano em um valor menor, de R$ 300. O programa acabou em dezembro. Mais de 50 milhões de brasileiro receberam o pagamento todos os meses. As propostas mais recentes falam em mais quatro parcelas em torno de R$ 250.

    “O auxílio emergencial viabilizou que milhões de pessoas se alimentassem, e, se essas pessoas se alimentam, é porque alguém vendeu para elas”, disse o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Lima Gonçalves.

    “Um auxílio novo depende do tamanho que ele terá, mas o fato é que fevereiro já está acabando e não há nada definido. Já terá sido o primeiro trimestre assim, com as coisas afundando. Os dados de janeiro apontam que este trimestre será de queda e não será uma surpresa se, no segundo trimestre, tivermos uma contracão também”, acrescentou Gonçalves.

    Economia em desaceleração 

    O coro de apoiadores à extensão do programa cresce conforme os dados de atividade econômica confirmam um ritmo de recuperação mais lento no último trimestre do ano, depois de um terceiro trimestre fenomenal. O PIB do país cresceu 7,7% no terceiro trimestre, depois de levar um tombo histórico de 9,6% no segundo.

    O PIB do quatro trimestre ainda não foi divulgado, mas o dados prévios já conhecidos confirmam a trajetória de uma recuperação que, depois da arrancada, está tendendo a estacionar. 

    Divulgado nesta sexta-feira, o IBC-Br, que é calculado pelo Banco Central e funciona como uma prévia do PIB, mostrou um crescimento de 0,7% no nível de atividade econômica na comparação com o mês anterior. Foi o menor avanço desde que a economia voltou a crescer, em maio. A perda de velocidade foi murchando a volta do “V” da recuperação que se desejava.  

    As vendas dos serviços terminaram dezembro 0,2% menores que em novembro, e comércio, que vinha liderando as altas, caiu 6% no mês, o pior desempenho em duas décadas. 

    As projeções dos economistas consultados pelo CNN Business estimam que a alta do PIB do quarto trimestre do ano passado ficou entre 1% e 3%, depois do salto de mais de 7% do segundo. Para o primeiro trimestre deste ano, esse crescimento já deverá estar mais perto do zero, podendo até ser negativo

    “É evidente que, quando o auxílio saiu, muitos setores começaram a ter queda”, disse o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas, que também foi diretor da Petrobras, do Banco Central e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). 

    “Tem que voltar o auxílio, e tem que voltar o ‘BEM’ [Programa Emergencial do Emprego], também. Mas com tamanho menor e com alguma compensação de corte, se não causa inflação e ela toma o dinheiro que é dado”, disse ele. 

    O BEM, que também acabou em dezembro, foi o programa que permitiu a redução proporcional de jornada e salário de empregados com carteira assinada, com complementação do salário paga pelo governo. 

    “De fato, se só olharmos para o lado das contas públicas, não tem o que discutir, não dá para refazer o auxílio”, disse Veronese, da Azimute. “Mas as coisas não são binárias assim. Os indicadores de fraqueza da economia estão muito claros, e a opinião do mercado acabou mudando junto com a do governo.” 

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