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    As grandes empresas não deveriam ter acesso a benefícios, diz CEO da Suzano

    Para Walter Schalka, CEO da maior empresa de celulose do mundo, o foco deve ser nos vulneráveis e em companhias menores – as grandes possuem outras alternativas

    André Jankavski do CNN Brasil Business, em São Paulo

    A Suzano, maior produtora de celulose do mundo, passa pela crise do novo coronavírus praticamente em uma ilha. Enquanto a maior parte dos segmentos econômicos sofrem com os efeitos da pandemia, a Suzano vê a sua produção normalizada, preços de sua matéria-prima subindo no mercado internacional e o dólar se valorizando frente ao real, o que ajuda (e muito) as suas exportações. Não por acaso, suas ações recuaram menos de 1% desde janeiro, enquanto o Ibovespa tem uma queda de 30% no mesmo período.

    Esses fatores foram preponderantes para a empresa se colocar a frente de movimentos como o #NãoDemita, que prega a grandes companhias a não demitir durante a crise, assim como a empresa anunciou que não utilizará da Medida Provisória que permitiu empresários reduzir salários e jornadas de seus colaboradores.

    O presidente da Suzano, Walter Schalka, afirmou que se solidariza com a necessidade das empresas que precisaram utilizar dessa ferramenta para sobreviver, mas discorda de eventuais benefícios fiscais ou ajudas do governo às grandes corporações. A atenção precisa ficar para os mais vulneráveis, assim como para as empresas menores, que devem sofrer mais com a pandemia.

    “As grandes empresas não deveriam ter acesso a benefícios. O foco precisa ser nos vulneráveis e não às grandes empresas, pois elas têm outras alternativas para conseguir recursos”, disse Schalka em entrevista exclusiva ao CNN Business.

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    A Suzano chega a 2020 mais organizada do que em outros anos. Não por falhas, mas por uma grande fusão com a então rival Fibria, anunciada em 2018, que tomou boa parte do tempo de Schalka e de boa parte dos funcionários. A junção das operações resultou em uma gigante que teve um faturamento de R$ 26 bilhões em 2019.

    Mesmo assim, os números não foram tão positivos quando comparados aos de 2018, quando a companhia teve uma receita líquida de R$ 31,7 bilhões. Entre os principais motivos para essa queda estava a queda de vigor no crescimento chinês, assim como a guerra comercial entre gigante asiático com os Estados Unidos.

    Mas, agora, com o cenário de pandemia, ironicamente, as coisas andam bem para a Suzano. Não que ela não tenha mudado a rotina dos seus funcionários: agora, há mais cuidado com a higienização de suas unidades fabris, onde trabalham 11 mil pessoas, assim como 4 mil colaboradores foram colocados para trabalhar em casa.

    As finanças, no entanto, estão indo melhor. Não por acaso, Schalka admite que a redução do endividamento da empresa pode ser mais rápida por causa do dólar alto e pelo crescimento da demanda pela celulose. Afinal, mesmo com a crise e com as pessoas em casa, ninguém deixará de utilizar papel higiênico e nem bebês usarão menos fraldas – produtos que são originados por boa parte da produção da Suzano.

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    A relação dívida líquida e EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) da Suzano, que é uma importante medida para entender em quanto tempo a empresa conseguirá pagar o que deve, foi de 4,9 vezes no quarto trimestre do ano passado. Schalka acredita que, até o fim de 2021, a empresa voltará ao patamar abaixo de 3,5 vezes. Isso significa que a empresa poderá voltar às compras e anunciar novos investimentos.

    Um deles já está em fase de gestação: trata-se de uma nova fábrica no estado do Mato Grosso do Sul. O montante para esse investimento ainda não foi anunciado, mas deve ser em breve, segundo Schalka. 

    Cuidado com a doença

    Mas mesmo com a empresa que comanda estando em um bom momento, se engana quem acredita que Schalka está feliz com a situação. Ao contrário. Para ele, é necessário que as empresas assumam a sua posição no combate à COVID-19 e também que haja uma união entre o poder público para resolver o problema.

    “Devemos focar na saúde para poder resolver o problema econômico. Somos o único país que se dividiu nisso, enquanto os outros se uniram”, diz Schalka.

    Ele dá o exemplo da própria China, que é uma de suas principais clientes. A quarentena mais agressiva conseguiu conter a pandemia na província de Hubei, primeiro epicentro da doença e uma das principais zonas industriais do país.

    No cenário pós-pandemia, Schalka acredita que o país poderá voltar ao normal caso as reformas estruturantes, como a tributária e a administrativa, sejam realizadas. Isso também faria com que o dólar voltasse para o patamar dos R$ 4, o que não seria necessariamente bom para a Suzano. Porém, Schalka acredita que essas mudanças poderiam elevar o Brasil para um nível diferente de eficiência.

    “Pode ser uma reação do Estado brasileiro”, diz ele.