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    As ações da Eletrobras vão cair mais? Como ficam os papéis após a saída do CEO

    A Eletrobras despencou quase 10% no primeiro pregão após o anúncio da renúncia de Wilson Ferreira Jr. e analistas temem o fim da linha da privatização

    Logo da Eletrobras / Foto: Reuters/Brendan McDermid

    André Jankavski, do CNN Brasil Business, em São Paulo

    Surpreendendo o total de zero pessoas, as ações da Eletrobras (ELET3, ELET6) despencaram no pregão da terça-feira (26). As ações ordinárias da empresa tiveram uma queda de quase 10% no primeiro dia de negociações após o anúncio da saída de Wilson Ferreira Jr. do cargo de presidente da estatal. O principal motivo, claro, foi o temor dos analistas de que a privatização da empresa subiu no telhado.

    Motivos para essa preocupação não faltam. Ferreira Jr. assumiu a empresa em 2016, ainda durante o governo ex-presidente Michel Temer, e teve como missão arrumar a casa para preparar a Eletrobras para uma privatização ou capitalização. O trabalho foi reconhecido pelo mercado. Se em 2016 a empresa tinha um valor de mercado próximo de R$ 9 bilhões, chegou a valer mais de R$ 60 bilhões com o CEO.

     No entanto, a empresa, agora, vale R$ 43 bilhões. Um valor baixo, ainda mais pensando que o patrimônio líquido da empresa, que é a diferença entre os valores do ativo e do passivo da empresa, estar em cerca de R$ 70 bilhões. Mas não são essas contas que os analistas estão de olho e sim no futuro dela, agora sem um capitão no volante.

    Todos os bancos de investimento que acompanham a estatal foram taxativos: há muitas incertezas no caminho. Nem mesmo as falas do presidente Jair Bolsonaro e do Ministério das Minas e Energia, que confirmaram que a privatização vai acontecer, acalmaram os ânimos.

    O Banco Safra, por exemplo, reduziu em 20% a possibilidade de a privatização sair do papel. Por isso, tirou a recomendação de compra dos papéis da companhia. Ainda assim, o preço alvo está em R$ 35,10, o que daria uma valorização de 28,6% em 12 meses.

    “Nós precisamos esperar o anúncio do novo CEO antes de tomar quaisquer conclusões sobre o processo”, escreveram os analistas em relatórios.

    Risco político

    Em outras palavras, o mercado está cansado de esperar e quer mais ação. O Bradesco também está de olho quem será o próximo presidente. O banco enxerga um valor para a ação de R$ 41 se ela for privatizada ou capitalizada.

    Mas fez algumas observações: se vier apenas um novo CEO que tocará a empresa da mesma forma que Ferreira Jr., os analistas Francisco Navarrete, Bruno Reis e Jonny Oda acreditam que o valor pode ser de R$ 35.

    No entanto, há também o cenário pessimista. Se a empresa voltar a ser alvo de interesses políticos, como aconteceu no governo da ex-presidente Dilma Rousseff, o preço-alvo da ação cairá para R$ 27. Ou seja, menor do que o preço que a ação fechou o pregão da terça-feira.

    O relatório da Brasil Plural também coloca a privatização como elemento chave para a empresa ter um futuro de longo prazo positivo. “Após cinco anos de uma excelente liderança, nós vemos a saída do presidente aumentando a percepção de risco político”, escreveu o analista Vitor Souza. Ele também cita que a queda na popularidade de Bolsonaro pode criar mais um entrave ao negócio.

    Ferreira Jr. já tinha dado o tom do problema. Em entrevista recente ao CNN Business, ele disse que a Eletrobras, atualmente, pode investir R$ 6 bilhões ao ano. Porém, com uma capitalização, seria possível alcançar patamares de R$ 14 bilhões anuais. Algo fundamental, ainda mais para um setor que exige capital intensivo e está mudando completamente nos últimos anos.

    “Quanto mais tempo demorar, não será pior só para a Eletrobras: será para a União e para os brasileiros”, disse Ferreira Júnior. “Temos que olhar a agenda de privatizações como uma agenda dos brasileiros.”

    É isso o que o mercado quer. E os investidores já estão demonstrando que estão cansados de esperar.