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    Mercado financeiro está mais pop: fusões e aquisições devem crescer 50% em 2021

    De 2015 para 2021, o número de fintechs mais do que dobrou — o que aumentou a competitividade e a briga pelo espaço no ranking dos unicórnios

    Tamires Vitorio, do CNN Brasil Business, em São Paulo

    O mercado financeiro está cada vez mais pop — e não é só por causa da entrada da cantora Anitta no conselho administrativo da fintech Nubank, um dos maiores unicórnios (startups avaliadas em mais de US$ 1 bilhão) do Brasil. O avanço dos “banquinhos digitais”, corretoras e gestoras é um marco em um setor que, por muitos anos, foi altamente concentrado. 

    De 2015 a 2021, o número de startups financeiras mais do que dobrou, saindo de 474 empresas para 1.174 neste ano, segundo o ecossistema Distrito. Ao longo desses seis anos, o investimento nessas companhias ultrapassou a casa dos US$ 3 bilhões, sendo que mais da metade deles foi injetado no Nubank. 

    Vários fatores explicam esse boom de fintechs. O primeiro é a enxurrada de dinheiro “barato” no mundo. Os Estados Unidos imprimiram dólares e cortaram os juros, a fim de estimular o crescimento econômico do país. Com isso, os investidores passaram a buscar opções mais rentáveis do que os títulos americanos — leia-se mais arriscados. 

    Esse cenário fez com que fundos de venture capital passassem a se interessar mais pelas startups brasileiras, e aos poucos o ecossistema de investimentos foi se fortalecendo no país. Esse quadro ganhou mais um empurrãozinho quando o Banco Central derrubou a taxa Selic de dois dígitos ao menor patamar da história.

    E o que vale nos EUA vale aqui: investidores locais precisaram diversificar ainda mais sua carteira de investimentos. Por que não em startups e fintechs?

    Mas isso é só uma parte da história. O corte de juros foi uma resposta à crise em curso no país. E, com crise, surgem necessidades e oportunidades. “Quando se tem uma crise, a primeira coisa que se repara é que é preciso crescer. Para um banco ou até mesmo uma startup maior, é mais fácil comprar [do que começar algo do zero]”, diz Para William Eid Júnior, diretor do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGVcef). 

    Não é por um acaso que o número de fusões e aquisições de fintechs neste ano deve ser 50% maior do que em 2020, quando foram realizadas 28 operações de fintechs. Até maio, já foram feitas 11 transações, de acordo com a Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs), com base no levantamento do ecossistema Distrito.

    O cenário é o mesmo quando o assunto são empresas maiores, mais consolidadas. Em maio, por exemplo, o BTG Pactual Digital anunciou a compra da gestora Vitreo e da casa de análise Empiricus. No ano passado, o Nubank adquiriu a corretora Easynvest, enquanto a XP comprou a plataforma de investimentos Fliper.

    Até mesmo empresas de outros setores estão de olho no segmento financeiro. A varejista Magazine Luiza, por exemplo, foi às compras e arrematou a Hub Fintech, cujo foco são soluções bancárias, como fazer transferências, pagamentos e saques. Tudo em nome do crescimento. 

    Mas o que explica essa busca? Segundo Eid, no caso dos “bancões” que adquiriram empresas menores do setor, o motivo é ganhar mais agilidade nos processos mais burocráticos.

    É bom lembrar, contudo, que as fusões permeiam há anos o setor financeiro — como quando o Santander comprou o Banespa e o Itaú, o Unibanco. “Mas, antes, a companhia a ser comprada precisava ter se estabelecido há décadas para ter volume e peso. Hoje, não. Hoje é possível comprar um escritório de agentes autônomos e, se ele tiver clientes bons, já é considerado um sucesso”, explica. “Hoje não importa mais o tempo que a empresa existe, e sim se ela tem uma boa posição no mercado. O mundo digital trouxe isso”, afirma.

    Aumento da competição

    Para Michael Viriato, professor do Insper, a competição tem aumentado nos últimos anos em decorrência das diversas decisões tomadas pelo Banco Central (BC) que facilitaram o funcionamento das fintechs. “Abrir uma fintech, hoje em dia, é muito mais fácil do que era em 2017, por exemplo. E isso acirrou a competição — e isso deve aumentar ainda mais”, afirma. “As aquisições têm relação com a competitividade do setor. Sempre que surge algum novo competidor, muitos ficam receosos, então logo  querem se juntar para inibir o crescimento do outro”, diz. 

    Por isso, as empresas do setor também brigam entre si para ver quem cresce mais rápido. No centro de um dos maiores embates recentes estão o BTG e a XP. Apesar de terem tido origens diferentes — o primeiro era mais focado no atacado, enquanto o segundo tinha os olhos voltados para o varejo —, hoje disputam pelo mesmo cliente: o investidor.

    Nesse cabo de guerra, os executivos se tornaram peças muito cobiçadas. Não é por um acaso que diretores de grandes bancos têm se tornado presidentes de fintechs ou de bancos digitais. “O fluxo de empregados saindo de bancos grandes para pequenos acontece, porque as pessoas estão vendo que, em instituições menores, podem crescer mais rapidamente na carreira”, diz.

    A dúvida que fica é se, com tantas fusões e aquisições, o mercado financeiro estará mais ou menos concentrado que hoje. E se ficará ainda mais pop. 

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