Prime Time

seg - sex

Apresentação

Ao vivo

A seguir

    A Bolsa ficou cara? Lucro projetado para 2021 sugere que nem tanto

    Análise dos múltiplos que medem a relação entre preço da ação e lucro no próximo ano revela setores que estão mais caros

    Marcelo Sakate,

    do CNN Brasil Business, em São Paulo

    Operador durante sessão da bolsa de valores de São Paulo

    Operador durante sessão da bolsa de valores de São Paulo: alta de mais de 60% desde março
    Foto: REUTERS/Paulo Whitaker

    Uma pergunta ganhou espaço nas conversas de investidores nas últimas semanas: afinal, a bolsa brasileira ficou cara com a rápida valorização de mais de 60% em quatro meses?

    Um levantamento recém-concluído pelo BTG Pactual oferece novos subsídios para responder a essa pergunta (é importante ressaltar que são dados adicionais para a análise, não sendo suficientes por si só). O banco levantou os múltiplos dos setores das empresas da bolsa e comparou com a média dos últimos cinco anos, dentro da chamada análise fundamentalista das ações.

    Os múltiplos são indicadores que buscam sinalizar se o preço de uma ação está cara ou não. Um dos mais utilizados por analistas e investidores mede a relação do preço da ação dividido pelo lucro esperado da mesma ação em dado período. É o famoso P/L (ou P/E, price-to-earnings, em inglês). Em geral, é considerado o lucro dos 12 meses anteriores ou seguintes ao momento da análise.

    Leia também:
    Carteira Inteligente: Como lucrar com o sobe e desce do mercado financeiro
    Menos famosas, mais lucro: WEG, Totvs, as ‘desconhecidas’ que brilham na bolsa
    As dicas da gestora de Lemann para os negócios atravessarem a crise

    Um múltiplo hipotético de 10 vezes pode ser traduzido da seguinte forma: serão necessários dez anos de lucros para que o investidor detentor da ação recupere o preço que pagou por ela.

    A equipe de research (análises) do BTG, no entanto, decidiu utilizar o lucro projetado para o ano de 2021 para tentar extrair os efeitos atípicos decorrentes da crise provocada pelo novo coronavírus. E comparou com a média dos últimos cinco anos do Ibovespa para dar uma referência.

    O P/L forward (ou seja, dos lucros projetados) atual das ações na B3 está em 15,4 vezes excluindo Petrobras e Vale (para evitar distorções dado o tamanho das duas companhias). A média dos últimos cinco anos do P/E forward da bolsa é de 12,7 vezes na mesma comparação.

    Ou seja, o patamar corrente de preço de negociação sinaliza que a bolsa está cara mesmo pela métrica do lucro projetado em 2021. Mas, se fosse utilizada a referência tradicional dos próximos 12 meses (metade de 2020 e metade de 2021), a diferença seria ainda maior: o P/L é de 18,8 vezes. 

    A mesma lógica se aplica à bolsa com Petrobras e Vale. O P/L para os próximos meses é de 18,9 vezes, mas cai para 14,3 vezes quando se considera o lucro projetado para 2021. De todo modo, em ambos os casos o P/L está acima da média dos últimos cinco anos, que é de 11,5 vezes. 

    Os múltiplos mostram uma bolsa descolada da média histórica recente. Mas o que se deve esperar agora? Para Carlos Sequeira, head de research do BTG Pactual, o P/L vai acabar convergindo para a média histórica, mas isso não necessariamente vai acontecer nos próximos meses.

    “Não vejo um movimento de vendas acontecendo. A bolsa vai operar com prêmio no preço até que haja uma correção”, afirma Sequeira, citando como fatores que podem precipitar a queda nas cotações uma segunda onda da pandemia que leve ao fechamento de parte da economia americana.

    No cenário doméstico, a taxa Selic em nível historicamente baixo, em 2,25% ao ano, e as perspectivas de que permaneça nesse patamar até o próximo ajudam a sustentar os preços na bolsa.

    Ações caras x baratas 

    O levantamento do BTG Pactual revela uma disparidade enorme no P/L com lucros projetados para 2021 entre os setores. E que a maioria está sendo negociada a preços muito acima da média histórica, o que sinaliza que, por essa perspectiva, as ações estão caras ou sobrevalorizadas. 

    Os setores mais caros são os de bens de capital (48,4 vezes), varejo (40,2 vezes) e saúde (37,0 vezes). Na média dos últimos cinco anos, o P/L de cada um desses três setores ficou em 26,1 vezes, 33,5 vezes e 18,9 vezes, respectivamente.

    No primeiro grupo estão companhias como WEG, Randon e Marcopolo. Na média, as ações das companhias do setor subiram 78,3% desde o fim do ano passado, mesmo com a pandemia. 

    No segundo segmento com múltiplos mais altos estão empresas cujas redes já tinham operação robusta no e-commerce, como o Magazine Luiza, e outras outras cujas vendas estavam amplamente concentradas em lojas físicas e que tiveram que reforçar o canal online, como a C&A. 

    Na outra ponta da análise, os setores que englobam bancos, papel e celulose e mineradoras e siderúrgicas são aqueles cujas ações estão mais baratas em relação à média da bolsa.  

    O P/L de bancos, por exemplo, está em 9,2 vezes considerando os lucros projetados para 2021, pouco abaixo da média de 9,8 vezes dos últimos cinco anos.

    Clique aqui e siga a página do CNN Brasil Business no Facebook