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    Victor Irajá
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    Victor Irajá

    Com passagens por Estadão e rádio CBN, foi editor do Radar Econômico, da revista Veja. É especializado em Economia pela FGV e pelo Insper

    Análise: Lula deveria agradecer a Campos Neto

    Crescimento de 0,8% no primeiro trimestre foi baseado no avanço dos serviços e consumo — o que pressiona a inflação

    Dadas as novas condições estabelecidas na relação entre o governo federal e um presidente do Banco Central (BC) indicado pela gestão anterior, Lula deveria é agradecer a Roberto Campos Neto.

    Isso porque uma das narrativas preferidas de Lula e da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, é a pressão por um ritmo mais acelerado no ciclo de cortes na taxa básica de juros, a Selic.

    Mesmo em um cenário de críticas ao BC, o Brasil teve crescimento de 0,8% do Produto Interno Bruto (PIB) do país no primeiro trimestre — divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no mesmo dia.

    “O PIB avançou no primeiro trimestre desse ano puxado por maior consumo das famílias e serviços. E outra boa notícia é que, segundo a previsão do FMI, o Brasil subirá mais uma posição chegando a 8º PIB mundial. Mais uma prova de que estamos no rumo certo”, escreveu o presidente no X, antigo Twitter, na terça-feira (4).

    Os dados elencados por Lula estão corretos: segundo o IBGE, o setor de serviços avançou 1,4%, enquanto o consumo das famílias teve incremento de 1,5%.

    Como as principais boas notícias em relação à volta do crescimento trimestral do país têm relação com o consumo, Lula deveria agradecer os resultados também a Roberto Campos Neto, presidente do BC.

    Se o consumo está aquecido, como comprovam os dados do IBGE, é a taxa básica de juros de 10,5% que permite que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) esteja no patamar de 3,69% — dentro da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

    Desde o início do governo, quem conhece de perto Lula garante que o presidente jogaria nas costas das decisões de política monetária de Campos Neto um possível fiasco no crescimento econômico do país — o que, reitere-se, não aconteceu em nenhum momento.

    Essas mesmas fontes garantem que Lula é afeito a ter um ortodoxo à frente do Banco Central, garantindo estabilidade para a moeda do país.

    Em 2009, o então presidente era pressionado para trocar o então presidente da autarquia, Henrique Meirelles, por alguém mais alinhado ao PT. Lula chamou o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, para comunicar que estava decidido a demitir Meirelles e colocar em seu lugar o economista Luiz Gonzaga Belluzzo.

    Lula pediu a Palocci que conversasse com Meirelles. O ministro, então, sugeriu que a demissão se desse em um ato honroso, com uma cerimônia para homenagear o bom trabalho de Meirelles no comando da autarquia.

    Depois de ser comunicado por Palocci da decisão de Lula, Meirelles solicitou uma audiência com o então presidente para pedir demissão. Durante a conversa, Lula, no entanto, recuou. Mais ouviu do que falou e se convenceu de que Meirelles era “o cara certo” para dar continuidade à política monetária. O resto é história: Meirelles foi mantido.