“Boules”, “Pablito” e xingamentos: o debate agressivo em SP que deixou propostas de lado
Embate promovido pela TV Gazeta deixou problemas de São Paulo de lado, vira "ringue" e oportunidade para produzir material para cortes para a internet
“Picareta”, “bananinha”, “palhaço”, “bandido”, “invasor”, “criminoso”, “sem caráter”, “estelionatário”, “ladrãozinho”, “vagabundo”. Essas foram apenas algumas das expressões utilizadas pelos principais candidatos à prefeitura de São Paulo durante o debate promovido pela pela TV Gazeta em parceria com o canal MyNews.
O encontro, que aconteceu neste domingo (1º), foi marcado pela agressividade e acusações. E também por um acirramento no tom de acusações e perguntas por parte dos principais candidatos à prefeitura de São Paulo contra Pablo Marçal (PRTB). Poucos dos problemas da cidade foram discutidos. Entre as raríssimas interações envolvendo aspectos de São Paulo, o tom foi similarmente agressivo.
Além de Marçal, Ricardo Nunes (MDB), Guilherme Boulos (PSOL), José Luiz Datena (PSDB) e Tabata Amaral (PSB) estiveram presentes no debate. Preocupados de antemão nos cortes para as redes sociais, os candidatos usaram termos duros contra o coach nas interações com o candidato do PRTB e entre os demais adversários.
Em ascensão nas pesquisas, Marçal virou alvo principal de todos os candidatos. Quatro pesquisas divulgadas na útima semana apontam empate técnico na liderança entre Boulos, Nunes e Marçal. Marcado por ataques entre os políticos, o debate foi pobre em propostas e em nível das discussões.
A tríade que divide a liderança nas pesquisas preferiu os embates entre si.
Datena chegou a deixar o púlpito e caminhar em direção a Pablo Marçal, o chamando de “vagabundo”. Ele foi advertido formalmente pela moderadora, a jornalista Denise Campos de Toledo — que também repreendeu Marçal por chamar o jornalista “para a briga”.
A comunicadora pediu reiteradamente durante as mais de duas horas que os candidatos se comportassem, tivessem decoro e respeitassem a televisão e os eleitores. Ela revelou que, nos bastidores, houve embates.
Anteriormente, o apresentador licenciado já havia atacado Ricardo Nunes. “Ele disse que eu não tenho coragem de falar na sua cara, eu falo na sua cara: picareta”, afirmou. Os dois protagonizaram um bate-boca acalorado com o microfone desligado.
O encontro entre os candidatos foi marcado por uma quantidade cansativa de pedidos de direito de resposta.
O terceiro bloco contemplava o sorteio de perguntas temáticas que obrigou os candidatos a falar sobre as questões da maior metrópole da América do Sul — mas, reitere-se, en passant.
Depois de faltarem ao debate promovido pela revista Veja em parceria com a universidade ESPM, Datena, Boulos e Nunes concordaram em comparecer depois de a Gazeta estipular regras mais rígidas — com a possibilidade de expulsão de candidatos em caso de descumprimento do acordado pelas campanhas junto à rede de televisão. As ausências do trio no debate anterior foram criticadas por Pablo Marçal e Tabata Amaral.
Entre as regras, estava a proibição de apresentação de objetos pelos candidato.
Pela ordem definida por sorteio, Marçal já iniciou dando o tom que o debate teria. Ele iniciou as discussões provocando Guilherme Boulos. O candidato do PRTB passou as mais de duas horas referindo-se ao candidato do PSOL de “Boules”, em alusão ao episódio envolvendo a adaptação do Hino Nacional com linguagem neutra em um evento de campanha do psolista. Ele voltou a aludir que Boulos já fez uso de drogas.
“Sobre o uso de droga, a farsa já foi demonstrada. O cidadão usar um homônimo para atacar uma pessoa mostra o nível de alguém que quer ser prefeito de São Paulo”, respondeu Boulos, que, em tom mais duro do que anteriormente, afirmou que Marçal “é bandido e condenado” e que a população “está sabendo disso agora”. Ele mencionou supostas condenações de Marçal e ligou o candidato a Nunes e Bolsonaro.
Tentando colar sua imagem à de Jair Bolsonaro, Nunes adotou um tom mais parecido com o do ex-presidente e iniciou o debate chamando o candidato do PRTB de “Pablito”, com quem divide os votos bolsonaristas. “[Marçal] participou, foi condenado e preso por integrar uma quadrilha que entrava na conta das pessoas e subtraía recursos dos mais humildes e aposentados”, acusou o prefeito. Ele chamou o candidato de “tchutchuca do PCC”, referiu-se a Boulos como “invasor”.
Boulos mirou os eleitores da periferia, onde tem menos afeição por parte do eleitorado. Ele apresentou em mais de uma ocasião sua candidata a vice, Marta Suplicy (PT), que já foi prefeita de São Paulo e foi bem avaliada nas regiões mais pobres.
Além de trazer ao debate os vídeos produzidos pela campanha repletos de acusações contra Pablo Marçal, Tabata mirou Nunes e indagou o prefeito sobre índices envolvendo a educação na capital paulista e sobre políticas para a cracolândia.
Datena mirou sua narrativa em mostrar-se como um prefeito que basearia sua gestão no combate à criminalidade, trazendo sua experiência como apresentador de um programa policial.
Marçal repetiu a estratégia de outros debates, inventou apelidos para todos os candidatos e aproveitou os momentos em que dividiu a tela com adversários para pedir, fazendo gestos com as mãos, votos.
Ao final de um cansativo debate, o eleitor ficou carente de respostas sobre as políticas públicas para a maior e mais rica metrópole do país. Os cortes para as redes sociais, porém, estão garantidos.