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    Victor Irajá
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    Victor Irajá

    Com passagens por Estadão e rádio CBN, foi editor do Radar Econômico, da revista Veja. É especializado em Economia pela FGV e pelo Insper

    Análise: Novo debate em SP vira exumação de esqueletos; veja detalhes

    “Não bato em covarde duas vezes”, diz Datena sobre Marçal; Ricardo Nunes e Pablo Marçal batem boca

    Uma frase atribuída ao ex-ministro Pedro Malan resume o novo debate entre candidatos à prefeitura de São Paulo: “No Brasil, até o passado é incerto”. Sobre o futuro, pouca coisa foi tratada. Mas o passado dos candidatos — esse, sim — foi cansativa e agressivamente passado a limpo durante a manhã desta terça-feira (17).

    Menos de 48 horas depois da agressão de José Luiz Datena (PSDB) a Pablo Marçal (PRTB), os candidatos à prefeitura de São Paulo voltaram a se encontrar em um debate promovido pela RedeTV! em parceria com o portal Uol.

    Exaustivas de assistir, como já virou uma triste regra, as mais de duas horas de debate foram marcadas pela agressividade por parte dos candidatos e a exumação de polêmicas passadas. Proposta que é bom, nada. Acusações envolvendo o passado dos candidatos pautaram quase que a totalidade do encontro.

    A partir daqui, este texto apresentará os acontecimentos e interações do debate em ordem cronológica.

    Além do apresentador e do ex-coach, participaram do debate Ricardo Nunes (MDB), Guilherme Boulos (PSOL), Tabata Amaral (PSB) e Marina Helena (Novo). Já na apresentação dos candidatos, Marçal fez questão de fazer seu tradicional gesto de ‘M’ e mostrando a mão enfaixada.

    Durante parte do debate, Marçal mirou Nunes, atrás dos votos do emedebista à direita. Depois do episódio de agressão no debate promovido pela TV Cultura no último domingo (15), Nunes, Boulos, Tabata e Datena focalizaram suas críticas a Pablo Marçal.

    Boulos iniciou o debate escolhendo Datena para fazer sua primeira pergunta e trouxe o episódio da agressão na primeira intervenção. Datena pediu que o “respeito à democracia” paute o debate, disse que não está feliz com o que aconteceu e justificou a agressão dizendo “honrar sua família”.

    O tucano voltou a focar em manifestações voltadas à segurança pública, dizendo que “com bandido é tolerância zero”, falou da cracolândia e da presença do crime organizado no transporte público e disse não saber “agir e falar” como político.

    “Não tenho o hábito de falar politicamente, mas sou um cara sincero”, afirmou Datena.

    Marçal já iniciou o debate mantendo a agressividade, dizendo que perguntaria para o “Bananinha” — tomou um pito da jornalista e moderadora Amanda Klein.

    “No último debate, eu estava terminando minha fala dizendo que o Datena não é homem e ratifico”, provocou Marçal, dizendo que o apresentador teve comportamento de um “orangotango” no último domingo.

    Durante sua primeira interação com o ex-coach, Ricardo Nunes disse que Marçal agrediu a todos durante o processo eleitoral, elencando as acusações contra Boulos, Tabata e, por último, Datena.

    Marçal dobrou a aposta: voltou a citar as acusações de suposta agressão de Nunes contra a mulher.

    Datena chamou o candidato do PRTB de “ladrão de velhinha” e disse que o único caminho para conversar com Marçal “é a Justiça”, afirmando que entrará com um processo em resposta às acusações e que “não bate em covarde duas vezes”.

    Ainda no início do debate, Marçal e Ricardo Nunes trocaram duras acusações e bateram boca, cada um em seu púlpito. Ambos receberam advertência, anunciada pela moderadora.

    Tabata também relembrou o episódio em que Marçal atrelou o suicídio do pai da deputada à ida de Tabata para estudar em Harvard. Ele pediu desculpas e disse que “passou do limite”.

    Marina Helena afirmou ser “contra a baixaria” e poupou Marçal na primeira interação com Tabata Amaral trazendo o relacionamento da deputada com o prefeito de Recife, João Campos (PSB), para a discussão, acusando a candidata do PSB de viajar com avião particular.

    Tabata disse que processará a candidata do Novo.

    Uma observação rápida: para se ter noção do nível do encontro, tudo escrito acima aconteceu durante a primeira meia hora do debate.

    Continuando: Marina disse a Datena, “peço para deixar esse pleito porque você não tem controle emocionou para usar a cadeira de prefeito de São Paulo”.

    “Cadeirada quem levou fui eu”, respondeu Datena. “Fui acusado de uma forma vil e essa é a pior cadeirada que alguém pode sofrer”, disse o apresentador. Sobre Marçal, Datena provocou: “Deveria ter sido internado no oitavo andar do Sírio, que é a área psiquiátrica”.

    O debate começou às 10h20. A primeira vez em que se ouviu algo similar a propostas foi apenas a partir de 11h10, quando os jornalistas começaram as indagações aos candidatos. E, claro, com acusações e mais e mais pedidos de direito de resposta entre as apresentações de planos de campanha.

    Marina Helena foi indagada sobre transporte público e o trajeto da periferia ao Centro de São Paulo. Datena teve de responder sobre uma suposta “traição” por não compor chapa com Tabata — e foi elogioso à deputada, com quem disse “manter amizade”. A fala de Datena sobre Tabata talvez tenha sido a única interação do debate sem qualquer tipo de acusação.

    Boulos foi indagado por uma jornalista sobre a relatoria do processo de cassação do deputado André Janones (Avante) na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). O candidato do PSOL disse que apenas seguiu a jurisprudência proposta pelo STF e que é contra rachadinha de quem quer que seja — e voltou a acusar Nunes.

    Já Marçal foi perguntado sobre suas falas em que chamou o Bolsa Família de “Bolsa Miséria”. “Você sabe que é uma miséria”, disse Marçal. Ele optou pelo discurso em torno de “mudar a mentalidade” e gerar emprego na cidade de São Paulo para mudar essa realidade.

    Rotineiro quando se corre como atual prefeito, Nunes foi indagado sobre políticas de sua gestão. Tabata aproveitou a pergunta dos jornalistas para afirmar que “as pessoas estão cansadas de baixaria, polêmicas que só servem para fazer fumaça e esconder os muitos BOs e esqueletos que muitos aqui têm no seu armário”.

    No bloco seguinte, na nova interação direta entre candidatos, Nunes tentou trazer o aspecto da mobilidade com Datena, levantando suas políticas como prefeito. “Não sei falar politiquês”, respondeu o apresentador, afirmando querer “tirar o PCC” dos contratos de ônibus. “Não tem como você fazer proposta para a mobilidade enquanto o povo é carregado pelo PCC”, disse Datena.

    Pablo Marçal escolheu Boulos para indagar sobre ações do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). “Você foi preso três vezes, diz que foi só na delegacia por conta de despejo. Na FIESP tinha alguém morando lá, quando você depredar patrimônio público?”, iniciou Marçal. Boulos disse que Marçal “vive de mentiras, ataca e mente, e depois toma uma cadeirada”.

    Com acusações, o candidato do PSOL escolheu Nunes para fazer sua pergunta. Entre rispidezes, é verdade, ouviu-se uma rara discussão sobre a cidade: Boulos trouxe as obras e um suposto atraso da gestão de Nunes em relação às entregas na área da saúde. O prefeito chamou de “conversa fiada” e disse que não há nada atrasado na cidade de São Paulo.

    Marina também trouxe dados a respeito de filas na saúde pública para Pablo Marçal. O empresário disse que vai criar convênios com o setor privado e apostar na telemedicina, além de colocar centros especializados para tratar as mulheres — aí, para variar, voltou a acusar candidatos, sem citar nomes, sobre supostos casos de violência contra a mulher. Nunes e Datena pediram direito de resposta.

    Foram concedidos: Datena voltou a chamar Marçal de “ladrão de velhinhos” e disse que o candidato continua atingindo sua honra. “Quem mente para você sobre a vida dos outros deveria explicar como ficou bilionário em tão pouco tempo, agindo dessa forma na internet e roubando banco”, disse Datena. Nunes, por sua vez, afirmou que Marçal “dá golpe nas pessoas” e fazer cortes para as redes sociais.

    Marçal também pediu direito de resposta. Foi concedido. Aproveitou para levar para levar o eleitor para sua rede social e voltou a acusar Datena e Nunes. O apresentador pediu outro direito de resposta…

    Posteriormente, Tabata Amaral e Marina Helena voltaram a discutir saúde pública, mais especificamente sobre políticas voltadas à saúde mental. As duas, para variar, se alfinetaram: Tabata disse que Marina não tem propostas; ouviu acusação de que teria copiado propostas envolvendo a saúde mental.

    Na última rodada do quarto bloco, Datena voltou a aproveitar a oportunidade para focalizar em sua principal política: segurança pública e combate ao crime organizado. Fez dobradinha com Tabata, que elencou a penetração do PCC em contratos públicos. Ela trouxe supostas ligações de Marçal com o crime organizado para sua resposta. “Só faço denúncia com processo e não tenho medo desse sujeito, desse marmanjo”, disse ela.

    O penúltimo bloco já se iniciou com um direito de resposta de Nunes a respeito de acusações de Marçal envolvendo acusações sobre violência contra a esposa dele.

    Em mais uma rodada de perguntas a jornalistas, Ricardo Nunes teve de responder sobre obras emergenciais sem licitação e indícios de cartel e a participação de pessoas próximas ao prefeito nesses contratos. Nunes disse que as contas de sua gestão foram aprovadas respondeu que a prefeitura pediu ao Ministério Público para investigar as acusações de combinação de preços entre as empresas — e aproveitou para levantar números de sua prefeitura.

    Tabata Amaral foi indagada sobre alianças políticas com o ex-governador Ciro Gomes (PDT) e Datena, além de seu posicionamento nas pesquisas. “Se tem uma marca na minha trajetória política é a coerência”, respondeu. “Tenho uma visão de conciliar políticas sociais e um fiscal forte”, afirmou.

    Boulos ouviu que, apesar de sua trajetória no MTST, até agora não conseguiu aumentar as intenções de voto na periferia de São Paulo e foi perguntado sobre os motivos dos eleitores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) terem resistência a votar no psolista. Boulos respondeu dizendo que mora na periferia e que a candidatura vem crescendo entre os mais pobres.

    “‘Bananinha’, ‘Dapena’, ‘comedor de açúcar’, ‘Chatabata’”, começou uma jornalista, indagando ao candidato do PRTB sobre uma crítica vinda de um tio de Marçal a respeito das agressões contra os demais candidatos. Marçal disse que este parente é candidato em Goiás e que pediu um vídeo para esta candidatura — o que, segundo ele, não enviaria.

    Marina foi perguntar sobre a relação com Marçal durante a eleição. Ela voltou a trazer a discussão sobre a possibilidade de um processo de impeachment contra Alexandre de Moraes e criticou as perguntas da imprensa aos candidatos — mantendo a estratégia de se aproximar do bolsonarismo e suas pautas.

    Datena foi indagado sobre posições a respeito de radares durante a cidade e acidentes recentes. O apresentador defendeu “sua classe”, a imprensa, e chamou a política de radares de “roubalheira desgraçada”, em mais uma rara manifestação entre candidatos sem acusações. Datena defendeu “multas justas”.

    Finalmente, as manifestações derradeiras chegaram.

    Por ordem de manifestações: Marina Helena trouxe a experiência em sua participação no Ministério da Economia de Paulo Guedes como amarração final. Datena elencou as políticas envolvendo o combate ao crime organizado como principal agenda. Nunes trouxe Deus para suas manifestações finais, mirando o eleitorado evangélico, e trazendo sua trajetória política como trunfo.

    Tabata acusou os adversários de irem com estratégia conjunta de se acusar para conseguir direitos de resposta e elencou propostas aprovadas como deputada. Boulos disse que as discussões vêm de “gente que não tem o que apresentar” e trouxe Lula e Marta para sua fala. No minuto e meio final de suas manifestações, ele fez uma fala bíblica e disse representar “a revolução do povo”.

    O anúncio do fim do debate feito pela jornalista Amanda Klein veio como alento para aqueles que acompanharam mais um triste debate: “Esperamos que este debate tenha contribuído para o eleitor de São Paulo refletir melhor sobre as propostas e os comportamentos de cada candidato”, disse ela. Sobre as propostas, não foi possível. E, se depender do comportamento, pobre São Paulo.

     

    O que o eleitor pode e não pode levar para a urna no dia da votação?

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