Análise: Em ascensão nas pesquisas, Fuad Noman vira alvo de “bombardeio” em debate de BH
Gestão do atual prefeito foi escrutinada em meio a crescimento da candidatura; mobilidade urbana foi principal tópico
Numa eleição marcada por encontros propositivos entre os principais candidatos e discussões sobre a cidade, os pleiteantes ao cargo de prefeito de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, se encontraram no penúltimo debate entre sete dos candidatos mais bem-posicionados nas pesquisas, promovido pela rádio Itatiaia, na manhã desta terça-feira (1º).
Mobilidade urbana e as linhas de ônibus da capital mineira foram os principais tópicos tratados pelos candidatos. A saúde, a construção civil e políticas de segurança também foram abordadas.
Estiveram presentes sete candidatos: Mauro Tramonte (Republicanos), Bruno Engler (PL), Fuad Noman (PSD), Duda Salabert (PDT), Rogério Correia (PT), Gabriel Azevedo (MDB) e Carlos Viana (Podemos).
Se, anteriormente, em posição mais confortável nas pesquisas, Tramonte era o alvo principal dos demais candidatos, o apresentador licenciado viu o papel de alvo dos principais questionamentos virar Fuad Noman. Em suas considerações finais, o próprio prefeito classificou o debate como um “bombardeio porque está crescendo nas pesquisas”.
A capital mineira tem uma das disputas mais emboladas por uma vaga no segundo turno. De acordo com o Índice CNN, que agrega diversos levantamentos, Tramonte e Engler estão empatados numericamente em 21% das intenções de voto. Segundo o agregador de pesquisas, o atual prefeito Fuad Noman aparece com 18%.
Os políticos fizeram dobradinhas para criticar a atual prefeitura e atacar a gestão de Fuad Noman. Os candidatos pouparam Bruno Engler e o candidato do PL teve atuação discreta do debate.
O momento de maior destaque do candidato do PL envolveu a tentativa de nacionalização do debate, trazendo Jair Bolsonaro e políticas envolvendo o financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e escândalos como o Mensalão e o Petrolão durante gestões do PT com Rogério Correia.
O candidato do PT trouxe as acusações contra Bolsonaro envolvendo as investigações em torno da suposta conspirata em torno de um golpe de Estado e o escândalo das joias sauditas.
Vendo sua vantagem para os demais candidatos diminuir nas últimas pesquisas, Tramonte adotou uma estratégia de atacar a gestão do atual prefeito. Ele já iniciou sua participação, numa interação com Duda Salabert, atacando a administração dos ônibus municipais pela atual gestão — em dobradinha com a candidata do PDT.
Posteriormente, Tramonte levantou a bola para que Engler cortasse, perguntando sobre investimentos dos atual gestão na saúde.
Segundo pesquisa Quaest divulgada nesta segunda-feira (30), a gestão do prefeito Fuad Noman é avaliada como positiva por 39% dos eleitores, regular por 37% e negativa por 13%. A porcentagem de eleitores com percepção positiva era de 27% em agosto.
Gabriel Azevedo também escolheu Fuad como alvo. Ele acusou o atual prefeito de fugir das conversas, por não ter comparecido a alguns dos debates e, quando teve a possibilidade de escolher a quem indagaria — o primeiro pelo sorteio, no segundo bloco —, escolheu o atual prefeito.
Em outra ocasião, o candidato do PT provocou o prefeito: “Estava com saudade de você, você ainda sumido”, ironizou. Fuad indagou os números e dados trazidos pelos demais candidatos e voltou a defender sua gestão, afirmou que “as questões tratadas aqui têm divergência com a realidade” e chamou as críticas de “eleitoreiras”.
Disputando voto a voto vaga no segundo turno com Engler, Fuad abordou pessoas em situação de vulnerabilidade e a população LGBTQIA+ e indagou o candidato do PL sobre programas da prefeitura voltados a essa população. Engler também atacou a atual gestão e disse que a prefeitura não tem “ferramentas” para atender crianças autistas.
Quando teve a oportunidade de escolha, o atual prefeito preferiu indagar o líder das pesquisas, Tramonte, sobre políticas para a saúde e antecipar uma eventual discussão de segundo turno. Foi criticado pelo apresentador e respondeu às críticas. “Atualmente, somos reconhecidos como melhor acesso à saúde”, disse, trazendo um levantamento do jornal Folha de São Paulo como fonte.
A estratégia dos candidatos envolve a tentativa de limitar o crescimento da candidatura do atual prefeito. Em agosto, segundo o Índice CNN, Fuad Noman tinha apenas 8% das intenções de voto — porcentagem que mais que dobrou segundo o compilado das pesquisas mais recentes.
Tramonte, por sua vez, foi indagado sobre a gestão do ex-prefeito Alexandre Kalil (PSD) e a revisão do plano diretor da cidade e os direitos de construção na cidade. Ele procurou se afastar da consolidação do plano diretor pelo ex-prefeito, que o apoia. “Não sou advogado do Kalil e nunca serei”, disse Tramonte, que afirmou que a “burocracia impera em Belo Horizonte” e disse que o processo de consolidação de alvarás deve ser acelerado.
Noutra ocasião, Duda Salabert levantou a bola para Carlos Viana cortar: indagou o senador sobre a manutenção de contratos de concessão da operação de ônibus e defendeu a revisão dos contratos. “A cidade tem que voltar a ter controle”, afirmou Viana. O senador também fez dobradinha com Engler para criticar as políticas voltadas à população em situação de rua na atual gestão.
Engler e Gabriel também fizeram uma dobradinha e acusaram a gestão dos transportes por parte do atual prefeito, o associando ao deputado Aécio Neves (PSDB) — de cujo governo Fuad foi secretário. Gabriel Azevedo pediu para que os eleitores colocassem os dois no segundo turno.
Em direito de resposta concedido pela rádio, Fuad respondeu a acusações dizendo que não há qualquer acusação contra ele e que, se há qualquer máfia no comando dos transportes, a culpa é do atual presidente da Câmara Municipal. “Falar em máfia é conversa fiada de época de eleição”, afirmou o prefeito.
Uma passagem curiosa: ex-apresentadores de televisão, Carlos Viana e Mauro Tramonte trocaram farpas sobre a atuação como parlamentares. Tramonte foi acusado de faltar à Assembleia Legislativa já que conciliava a apresentação de um programa com a atuação como deputado. Viana ouviu querer tomar o jornal apresentado por Tramonte pelo candidato do Republicanos. “Apresentei o seu programa até ele ficar estruturado e você chegar”, disse Viana. “Balanço Geral você não vai ter”, alfinetou Tramonte.