Análise: Galípolo tenta se mostrar independente de Lula enquanto espera indicação ao BC
Atual diretor de Política Monetária afirmou que alta de juros "está na mesa" e votou contra os interesses do próprio governo em relação à Selic
Diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo já age como a autoridade que tem a prerrogativa de falar como o próximo presidente da autarquia. Se a escolha não está confirmada por parte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Galípolo já passa o recado de que não seria leniente com suas obrigações à frente da autarquia.
Isso, claro, caso a confirmação de que Galípolo substiuirá o atual presidente Roberto Campos Neto como presidente do BC venha nos próximos dias ou semanas, como o esperado.
Nesta quinta-feira (22), Galípolo reiterou uma posição “conservadora” do Banco Central em relação ao combate à inflação. “O sujeito que está no BC tende sempre a ser conservador. O BC não gosta de correr risco, é como uma função de zagueiro, ou, como dizia Paulinho da Viola, tem que fazer como um velho marinheiro que diante do nevoeiro leva o barco devagar”, afirmou.
Na semana passada, durante evento da corretora Warren Rena, em São Paulo, Galípolo reiterou que a possibilidade de elevação da taxa básica de juros, a Selic, “está na mesa” do Comitê de Política Monetária, o Copom, para controlar a inflação.
Naquela ocasião, na segunda-feira (12), o dólar fechou em queda de 0,28% aos R$ 5,49, em parte por causa das declarações do diretor do Banco Central.
Em paralelo, em entrevista ao jornal O Globo, Campos Neto preferiu dar sinais trocados. Afirmou que o Copom não quis antecipar o que acontecerá na próxima reunião e afirmou que “os economistas não estão prevendo alta para este ano”, mas o mercado, sim.
Em Brasília e entre expoentes do mercado financeiro, a tradicional troça já está posta: o café de Campos Neto já está sendo servido frio.
O mercado está levando em consideração de forma mais expressiva as sinalizações de Gabriel Galípolo do que os recados de Campos Neto.
As três próximas reuniões do Copom, porém, ainda serão sob a batuta do presidente do BC indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro — em setembro, novembro e dezembro.
Enquanto isso, Galípolo vem tentando demonstrar autonomia em suas decisões e afastar-se da acusação de que suas decisões serão pautadas pelo governo.
“Jamais me senti pressionado a ter qualquer tipo de atitude a partir da minha indicação no BC, o presidente tem tido uma atitude republicana”, disse ele durante um evento promovido pela VB Comunicação, em Belo Horizonte (MG) nesta semana.
“Eu não sinto qualquer tipo de pressão. Pelo contrário, todas as vezes é renovada a liberdade e autonomia”, disse. Nas duas últimas reuniões do Copom, Galípolo votou pela manutenção da Selic no atual patamar de 10,5%, diferentemente do defendido pelo governo.
Numa entrevista realizada na última sexta-feira (16,) à Rádio Gaúcha, o presidente, que promovia reiterados ataques a Roberto Campos Neto, mudou o tom em relação à política monetária do país. “Quando tem que aumentar a taxa de juros, tem que aumentar”, afirmou ele. “Não há interferência do governo”, disse Lula. Que assim seja.