Análise: Galípolo será um presidente do BC com fortes pontes com a política
O economista foi confirmado pelo governo Lula para suceder Roberto Campos Neto
O indicado por Lula para assumir a presidência do Banco Central (BC), Gabriel Galipolo, tem uma característica diferente daqueles que ocuparam a mesma cadeira nos últimos 24 anos. Galípolo é economista, como todos, mas tem um perfil bem mais político do que seus antecessores.
Antes de assumir a diretoria de Política Monetária do BC há um ano, Galípolo foi secretário executivo de Fernando Haddad nos primeiros seis meses do governo Lula. E antes disso ele teve uma aproximação e ascendência meteóricas sobre Lula, com diálogo direto com presidente da república que, aliás, mantém até hoje.
Motivo para desconforto do ministro da Fazenda e de Roberto Campos Neto, ambos com posição de chefia, ou de maior hierarquia sobre Galípolo.
Pouco tempo depois de ter sido acolhido no núcleo duro da campanha do então candidato petista em meados de 2022, Galípolo circulava livremente ao lado de Lula, gerando ciúmes na cúpula do partido.
Naquele tempo, o futuro diretor do BC atuou intensamente na elaboração e aprovação da PEC da Transição, que deu liberdade bilionária nos gastos federais para o primeiro ano do terceiro mandato de Lula.
Foi nessa negociação ainda em 2022 que ele se aproximou das lideranças do Congresso Nacional, criando uma ponte direta com Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, presidentes da Câmara e do Senado. Mais uma ligação que manteve ativa desde que chegou ao BC.
Galípolo também atuou para melhorar sua relação com mercado financeiro, onde passou pouco tempo, sem atuar em tesourarias ou gestão direta de finanças, uma característica comum entre banqueiros centrais do Brasil.
Com a mesma habilidade que teve com a política, o economista construiu pontes diretas com executivos que vão de banqueiros a operadores de mercado.
Agora que a indicação para a presidência do BC foi confirmada, a avaliação mais comum feita por gestores do setor financeiro, economistas entre eles, é sobre a cautela que Galípolo terá que adotar na condução da política monetária.
A dúvida sobre a credibilidade de sua gestão foi reduzida nas últimas semanas com suas falas sobre uma possível alta dos juros. Ainda que seu tom tenha agradado, já que mostra (certa) independência do governo Lula, muitos criticaram o excesso de falas seguidas, o que não é recomendável a um banqueiro central.
O perfil político e comunicador de Gabriel Galípolo facilitou sua acessão no governo petista e nas rodas mais influentes de Brasília. Com a imprensa não foi diferente.
A partir de agora, a atuação do economista precisa assumir um caráter mais institucional para blindar sua gestão de questionamentos sobre qual seria sua maior lealdade: a estabilidade da moeda, ou ao projeto político do governo Lula.