Aumenta risco de IPCA fora da meta em 2024
Roberto Campos Neto pode terminar seu mandato como presidente do BC que mais descumpriu a meta de inflação
O resultado do IPCA-15 de outubro confirmou um cenário que o governo e o BC torciam para não se confirmar. A inflação ganhou impulso mais forte e os preços mais sensíveis aos juros subiram acima do esperado no último mês. A seca e a alta do dólar explicam boa parte do desempenho pior, mas isso não significa que veremos alívio pela frente com a chegada das chuvas, muito pelo contrário. Um cenário que corrobora o ciclo de elevação dos juros, talvez com ritmo mais acelerado a partir de novembro.
As casas financeiras já se deram conta de que o IPCA de 2024 deve ficar, “no mínimo”, em 4,5%, ou seja, no teto da meta de inflação permitido pelo regime brasileiro. Com tanta incerteza pela frente, não valendo milagre, o viés é de alta. Do lado externo, temos eleição americana e conflitos no oriente médio. Do lado de cá, temos o fiscal e o quanto Lula vai permitir os cortes necessários.
Portanto, o risco de descumprimento da meta de inflação aumentou consideravelmente. Se isso acontecer, Roberto Campos Neto deixará o cargo depois de seis anos com uma carta de despedida e outra para explicar o que aconteceu. E entra para história como o presidente do BC que mais descumpriu a meta de inflação. Em 2021, 2022 e provavelmente 2024.
Não há dúvida de que isso será usado contra a independência do Banco Central, numa lógica nada realista e até desonesta de como as coisas aconteceram no país nos últimos anos. A expansão fiscal desde a pandemia, acelerada nos últimos dois anos, responde por boa parte do comportamento dos preços. Por outro lado, a desancoragem das expectativas de inflação é alimentada pelo risco fiscal, com peso cada vez maior.
Este ano é o primeiro com a meta em 3%, objetivo que passou a ser contínuo pelos próximos cinco anos. Em nenhum momento desde janeiro as estimativas ficaram perto disso, ou seja, todo mundo já sabia que a meta não seria cumprida à risca este ano. Aliás, desde junho de 2022 o relatório Focus já mostrava descolamento das expectativas para o IPCA de 2024.
Ainda assim, havia uma leitura de que a trajetória da inflação seria descendente, possibilitando queda continua dos juros, portanto. O problema são os fatos e a forma como o governo Lula vem lidando com eles nesses quase dois primeiros anos de mandato, entre a negação da realidade e a convicção de que fazer a coisa errada novamente pode acabar dando certo.
Em Washington, onde está participando da reunião anual do FMI, Roberto Campos Neto disse que um “choque fiscal” ajudaria a reduzir a inflação e, consequentemente, a taxa de juros. A pouco mais de dois meses de deixar o cargo, o presidente do BC vem ousando nos recados público, seja pela oportunidade de, finalmente, dizer o que pensa mais livremente, seja como contribuição para pressionar o governo a reagir.
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