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    Thais Herédia
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    Thais Herédia

    Passou pelos principais canais de jornalismo do país. Foi assessora de imprensa do Banco Central e do Grupo Carrefour. Eleita em 2023 a Jornalista Mais Admirada na categoria Economia do Jornalistas & Cia.

    Alta dos juros é pela inflação ou pela credibilidade?

    A semana do Copom chegou e as expectativas estão todas ajustadas para um novo ciclo de alta da taxa de juros, começando na próxima quarta-feira (18)

    Nesta semana o BC irá decidir sobre a taxa Selic e deverá elevar o juro para, no mínimo 10,75%, dos atuais 10,50%. A mudança de direção na política monetária foi cantada aos sete ventos pelo futuro presidente do BC, Gabriel Galipolo, e pelo atual chefe, Roberto Campos Neto, semanas antes da reunião do Copom desta quarta-feira (18).

    A antecipação não dissipou a dúvida sobre qual seria o principal propósito do comitê em iniciar um ciclo de alta da taxa de juros: reforçar a credibilidade do BC ou garantir o cumprimento da meta de inflação de 3%? Ambos é a resposta mais consensual, mas há divergência sobre a dose, sobre a comunicação da decisão e dos próximos passos.

    Do ponto de vista econômico, a pressão sobre os preços neste ano aumentou com o forte crescimento da atividade econômica e mercado de trabalho aquecido. O câmbio sofreu forte desvalorização nos últimos meses e, mesmo com expectativa pela redução dos juros nos Estados Unidos, o dólar encontrou uma barreira para sair da casa dos R$ 5,50.

    As expectativas de inflação estão desancoradas, ou seja, acima dos 3%, por pelo menos 3 anos, além do horizonte relevante considerado pelo Copom, de 18 meses a frente. Pelo modelo do BC e pelas contas dos economistas, uma alta dos juros seria necessária para garantir a convergência. Há quem diga que o Copom poderia esperar mais um pouco para confirmar a necessidade de ajuste na Selic, sob o risco de provocar uma desaceleração indesejada no crescimento.

    Do ponto de vista politico, a pressão tem outra natureza. A desconfiança de que o BC de Lula, com presidente e maioria dos diretores apontados pelo petista a partir do ano que vem, será leniente com a inflação e cederá aos pedidos do governo para reduzir os juros. A dúvida sobre o compromisso com a contas públicas também pesa nas expectativas de inflação.

    A primeira reação veio nos juros futuros que subiram embutindo nos preços dos ativos altas seguidas da Selic até os 12% em 2025. Os economistas demoraram um pouco mais para apoiar o ajuste na taxa, mas foram vencidos pelos dados da atividade econômica e pela piora na gestão das contas públicas com a volta da contabilidade criativa.

    Depois de passar um ano e meio atacando fortemente Roberto Campos Neto, o presidente Lula escolheu Gabriel Galipolo para assumir o BC. O economista sempre foi o favorito e estava há um ano na diretoria de Política Monetária numa espécie de um estágio antes de ser promovido.

    Para tentar acalmar o mercado, Galipolo soltou o primeiro sinal de que os juros voltariam a subir. Para a surpresa do mercado, ele foi corrigido por Campos Neto, numa nova falha grave de comunicação do BC que gerou ruído excessivo no mercado com reflexo nos ativos financeiros. Quem não se abalou com a confusão foi o presidente Lula que chegou a dizer que “se precisar subir o juro, tudo bem”.

    A semana do Copom chegou e as expectativas estão todas ajustadas para um novo ciclo de alta da taxa de juros, começando na próxima quarta-feira. Qualquer decisão diferente disso vai provocar nova crise de credibilidade do BC porque o fundamento econômico não é mais suficiente para assegurar as escolhas do comitê de política monetária.

    A poucos meses de troca no comando, o BC terá dois presidentes atuando em conjunto, numa transição que pode ser feita de forma técnica e pouco ruidosa. A decisão do Copom, o comunicado do colegiado e a reação do governo e do PT serão o termômetro para calibragem do que deverá ser a gestão da politica monetária a partir do ano que vem.

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