Economia sem emoção em 2024
País segue sem ameaça real para a economia, mas problemas estruturais impedem crescimento saudável
A economia brasileira pode ter um ano sem emoção em 2024. Pela primeira vez em uma década o Brasil não tem no horizonte uma ameaça real, ou uma crise em ponto de bala. Muitos dos nossos problemas estruturais seguem como obstáculos ao crescimento sustentável, ao enfrentamento da desigualdade ou a melhora substancial do ambiente de negócios, mas sobre esse terreno o país sabe caminhar.
A expectativa para o crescimento do PIB tem melhorado e alcançar 2% ao final do ano já virou cenário base. Talvez a inflação preocupe em algum momento, dependendo da dinâmica dos preços dos serviços. São eles que mantêm o Banco Central em alerta para um desgarramento do processo inflacionário rumo à meta de 3%. Aqui também não há receio de uma bomba armada que pode desarticular a política monetária, apenas prováveis solavancos.
A taxa de juros está em trajetória de queda e deve seguir no ritmo de redução até chegar a um dígito, entre 9% e 9,5% em dezembro. Ainda em terreno restritivo, é bom lembrar. Os juros nos Estados Unidos, mais do que qualquer evento interno, ameaçam uma queda mais forte da Selic. Os dados mais recentes da economia americana acionaram luz amarela sobre o início do corte da taxa do FED, alimentando incertezas.
Na falta de riscos graves iminentes, o risco maior, portanto, é perder o tempo e a medida para decisões que poderiam promover alguma mudança de rumo da economia brasileira, para melhor. Os dois maiores inibidores do bom senso são a ideologia estatista do governo Lula e o pragmatismo paroquial do Congresso Nacional.
Quem fica à deriva, mesmo que em mar calmo, é o equilíbrio das contas públicas. Se 2024 for de um certo marasmo com PIB de 2%, a crise fiscal não vai estourar. Ainda que insuficiente, a capacidade arrecadatória do governo aumentou, podendo gerar alívio de curto prazo aos gestores do caixa federal. Está longe de ser solução para a incoerência do atual arcabouço fiscal, mas com pequenas doses de criatividade contábil dá para fechar o ano.
“O maior risco está no que parecem ser pequenos erros de política econômica que não provocam crises rapidamente, mas que deixam uma fatura enorme para o futuro”, já disse um ex-presidente de Banco Central e gestor conhecido no Brasil. A frase é do início do governo Dilma, em 2011, quando o então ministro Guido Mantega colocava em prática a Nova Matriz Econômica. A corda só estourou 4 anos depois e vimos no que deu.