Lula sacrifica convicções sobre Venezuela para recuperar popularidade
Presidente brasileiro disse ser "grave" que a candidatura da indicada, Corina Yonis, não possa ter sido registrada
Políticos minimizam em público pesquisas de opinião desfavoráveis, mas sabem que é um erro ignorá-las. É esse pragmatismo que move as declarações do presidente Lula sobre as eleições na Venezuela.
Lula sabe que o apoio a ditadores como Nicolas Maduro está saindo caro. Por isso decidiu manifestar, de viva voz, a preocupação com o processo eleitoral venezuelano que sua chancelaria já havia deixado clara um dia antes — evidentemente, com seu aval.
Depois de dizer no início do mês que “se a oposição na Venezuela for igual a do Brasil, não valia nada” e que as eleições no país mereciam a “presunção da inocência”, Lula suavizou o tom.
Respondendo a uma pergunta de um jornalista, recorreu a um paralelo com sua experiência pessoa para dar um puxão de orelha em Maduro.
Lula disse ter ficado “surpreso” com a decisão de Maria Corina Machado, a quem tinha chamado de “chorona”, de indicar uma sucessora.
Afinal, ele, Lula, indicou Fernando Haddad em 2018 para concorrer em seu lugar quando estava preso.
E o presidente afirmou ainda que era “grave” que a candidatura da indicada, Corina Yonis, não possa ter sido registrada.
Grave é um adjetivo leve para o que vem acontecendo na Venezuela, que há anos deixou de ser uma democracia.
Mas a esquerda brasileira está convencida que a direita venezuelana é fascista e aliada aos Estados Unidos. E que para vencer os americanos vale tudo para Maduro: até solapar a democracia.
É essa lógica, do tempo da guerra fria, que também guia Lula. Só que, animal político que é, ele sacrificou temporariamente suas convicções em nome da popularidade. Não foi a primeira vez e não será a última.