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    Rita Wu
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    Rita Wu

    Arquiteta e designer apaixonada por tecnologias. Interdisciplinar por natureza e indisciplinar por opção, é palestrante, maker e mãe do doguinho Ovo

    MWC: evento em Barcelona mostra que IA já é realidade nas redes móveis

    Edição do Mobile World Congress superou as estimativas iniciais da organização e recebeu mais 101 mil pessoas de 205 países

    Neste dia 29 de fevereiro, chegou ao fim o MWC (Mobile World Congress), que foi realizado em Barcelona. A feira se autodenomina como “o maior e mais influente evento para o ecossistema de conectividade”, e conta com dezenas de milhares de participantes de fabricantes, operadoras móveis e outras empresas.

    Essa edição de 2024 superou as estimativas iniciais da organização, que recebeu mais 101 mil pessoas de 205 países, e claro, com poucas mulheres (26%), apesar de já ter melhorado bastante.

    Por ser bastante nichada, apesar de gigantesca, a feira tem quase 60% de visitantes provenientes de indústrias que fazem parte do “ecossistema mobile”.

    Segundo a GSMA, associação internacional que representa os interesses do setor, o evento reuniu mais de 2,7 mil expositores, patrocinadores e parceiros, além de mais de mil palestrantes. E eventos dessas proporções têm um impacto econômico gigante, que no caso é de cerca de 400 milhões de euros.

    Para além do lançamento de produtos, que muitas vezes são ideias de produtos e protótipos, que chamam a atenção do público e despertam a curiosidade de quem não pôde estar em BCN, o evento traz discussões e decisões importantes que impactam a comunicação global e como nos conectamos de forma mobile.

    Este ano, assim como no ano passado, o grande tema do evento foi a inteligência artificial generativa, mas agora com um olhar mais cuidadoso de como isso vai impactar os smartphones, que são os principais dispositivos de conexão, assim como questões ao redor do nosso tema mais urgente, a emergência climática.

    Mas antes de entrar nesses dois pontos, só pra dizer que não falei sobre nenhum celular — afinal, o MWC é um evento focado em dispositivos móveis — vou falar rapidamente sobre um que me chamou a atenção. E não, não é o smartphone flexível da Motorola (que já tinha sido apresentado ano passado), mas sim que foi chamado de “telefone sem aplicativos”. É o Brain.ai em parceria com a Deutsche Telekom.

    A ideia do dispositivo (ainda conceitual) é que ele terá uma interface sem aplicativos que prevê e gera a próxima interface contextualmente. Bem interessante, já que ao longo dos anos os smartphones adotaram uma fórmula de design incremental, tirando a revolução das telas dobráveis. Pra quem quiser ficar por dentro de outros gadgets que chamaram atenção, só dar uma olhada nesta matéria.

    Sobre IA

    As teles se uniram em uma aliança global para desenvolver LLM (Large Language Model ou Grande Modelo de Linguagem), que são os modelos usados na GenAI (IA generativa). Isso mostra o quanto a aplicação prática de IA já é realidade nas redes móveis. Vemos isso claramente acompanhando o investimento das principais teles em empresas e startups de IA.

    Por exemplo, no ano passado, a SK Telecom (SKT), uma das principais operadoras móveis da Coreia do Sul, investiu US$ 100 milhões de dólares na Anthropic, que está desenvolvendo o Claude, um dos principais concorrentes do ChatGPT da OpenAI. Recentemente, fecharam uma parceria com a startup de Perplexity IA , plataforma de pesquisa na internet com IA, para oferecer um mecanismo de busca com base em IA como alternativa ao Google. Isso faz parte de um investimento estratégico na área, que ainda está muito encabeçada pelas Big Techs americanas.

    Esse tipo de parceria também eleva o nível dos dispositivos móveis, que estão prestes a passar por uma revolução quando a IA estiver na sua base, o que vai mudar radicalmente a forma como nos conectamos e comunicamos conhecimento e informações, assim como com as pessoas e espaços, sejam eles físicos ou digitais. Sendo assim, todos os parceiros envolvidos na Global Telco AI Alliance estão mirando nesse futuro, que para o setor, tem suas especificidades e garantir a otimização desses modelos para elas é um dos pontos centrais.

    É bom lembrar que o presidente da Microsoft e do CEO da DeepMind (Google) estavam no evento, fator que também ajudou para o tema não faltar em nenhuma das falas, assim como fez parte da maioria das propostas dos fornecedores para otimizar as experiências de telecomunicações B2B e B2C, assim como o desempenho de hardware e software por meio de redes.

    Outro tema bastante abordado foi o 5G (6G também), que claramente tem bastante a ver com a promoção da IA em network edge e que vai avançar para as próximas fases tendo papel central na interação com os novos dispositivos, de smartphones a tudo que envolve IoT (Internet das Coisas), e a estruturação das cidades inteligentes e da infraestrutura em rede.

    Future First

    O tema deste ano foi “Future First”, basicamente olhar para os desafios de hoje, mas com o olhar do que virá amanhã. Apesar de parecer genérico, acredito que quando pensamos no futuro, as incertezas em relação à nossa continuidade enquanto humanidade, faz com que o olhar para as tecnologias seja mais sistêmico. Por isso mesmo, temas que giram em torno da sustentabilidade ampliada acabaram sendo centrais.

    Por isso, na parte das conferências não se deixou de falar de IA, mas principalmente como humanizar a IA, já que isso já está impactando a forma como trabalhamos, vivemos e interagimos. Há concordância no fato de que todas as empresas devem ter uma abordagem responsável em relação à IA, relacionados a governança, governança de dados e privacidade, modelos e riscos de vieses, impactos na segurança cibernética e por aí vai.

    Claro que com esse tema, não poderiam deixar de abordar o ESG para o ecossistema de comunicações, que ainda não conseguiu atingir maturidade nessa discussão, que deveria ir além das métricas de emissão de gases de efeito estufa.

    Tudo que consegui acompanhar de longe me pareceu ainda não atingir questões fundamentais de resolução, principalmente quanto ao E (environmental, ou seja, a parte ambiental da coisa), mas chamo atenção novamente para a IA e em como ela pode ajudar a reduzir o consumo de energia, apesar de também consumir bastante energia.

    Esse tipo de evento/feira é um parque de diversões pra quem gosta de tecnologia, mas devemos estar sempre atentos às questões fundamentais que os permeiam.