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    Priscila Yazbek
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    Priscila Yazbek

    Correspondente em Paris, Priscila é apaixonada por coberturas internacionais e econômicas — e por conectar ambas. Ganhou 11 prêmios de jornalismo

    França cria CPI para apurar crimes sexuais na indústria cinematográfica

    Assembleia Nacional da França abre comissão para investigar crimes sexuais no cinema, no teatro e na publicidade na mesma semana em que Gerard Depardieu foi preso por denúncias de agressão sexual

    A Assembleia Nacional, a câmara baixa do Parlamento francês, aprovou por unanimidade nesta quinta-feira (2) a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar abusos e violências contra menores e adultos nos setores cinematográfico, audiovisual, no teatro, na moda e na publicidade.

    A aprovação acontece poucos dias depois de uma das principais estrelas do cinema francês, o ator Gerard Depardieu, ter sido detido pela polícia para depor sobre duas denúncias de crimes sexuais na segunda-feira (29). Depardieu foi liberado no mesmo dia, mas será julgado em outubro por agressão sexual.

    A comissão vai buscar identificar os mecanismos e falhas da indústria que propiciam abusos e violências, além de apontar responsáveis e emitir recomendações sobre as ações a serem tomadas. O escopo de investigação inicialmente incluía apenas os crimes contra menores, mas os parlamentares decidiram posteriormente incluir também abusos contra adultos.

     

    A abertura da comissão foi aprovada depois de uma campanha feita pela atriz francesa Judith Godrèche, que atuou em filmes como “O Homem da Máscara de Ferro” (1998) e “A Arte de Amar” (2011).

    Ela discursou no Senado francês no final de fevereiro e na Assembleia Nacional em março para pedir aos parlamentares a criação da CPI.

    Judith Godrèche se tornou uma das principais vozes da luta contra a violência sexual contra menores no país após apresentar queixas contra os cineastas Benoît Jacquot e Jacques Doillon por supostos abusos durante a sua adolescência.

    Godrèche denunciou Jacquot por “estupro de menor”, por manter relações com ela quando a atriz tinha apenas 14 anos e o diretor tinha 39 anos. 

    À agência AFP, a atriz disse que é preciso que a comissão seja realizada com sucesso. “Foi extremamente comovente ouvir estas palavras no lugar onde fazemos as leis, enquanto há ausência da Lei durante as gravações”, disse Godrèche à AFP após a votação.

    A proposta para a criação da CPI foi enviada pela deputada ambientalista Francesca Pasquini e foi aprovada pelos 52 parlamentares que estavam votando. 

    No seu discurso, Pasquini citou números que dão a dimensão do problema na França e afirmou que 160 mil menores são vítimas de abusos todos os anos, segundo a estimativa de uma comissão independente sobre violência sexual (Ciivise), além de 84 mil mulheres, segundo dados do Ministério do Interior francês.

    Os debates durante a sessão parlamentar para a abertura da comissão foram majoritariamente consensuais, mas deputadas de partido de esquerda fizeram duras críticas ao presidente Emmanuel Macron por ter apoiado o ator Gérard Depardieu, que enfrenta cinco queixas formais sobre crimes sexuais, sendo quatro na França e uma na Espanha.

    As acusações sobre Depardieu têm despertado intensos debates na França. Mulheres dizem que o ator representa a incapacidade do país de lidar com o abuso sexual por parte de homens influentes, na esteira do movimento #Metoo.

    Mas atores saíram em sua defesa, junto a homens poderosos, como Macron, que disse que Depardieu é “um ator imenso, um gênio de sua arte” e “deixa a França orgulhosa.”