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    Priscila Yazbek

    Priscila Yazbek

    Correspondente em Paris, Priscila é apaixonada por coberturas internacionais e econômicas — e por conectar ambas. Ganhou 11 prêmios de jornalismo

    Conflito entre Irã e Israel sai da sombra; entenda histórico de tensão

    Hostilidades entre os países eram vistas como uma guerra fria e agora vêm à tona

    Conflito entre Irã e Israel sai da sombra; entenda histórico de tensão
    Conflito entre Irã e Israel sai da sombra; entenda histórico de tensão

    As tensões entre Irã e Israel não são novidade. Há décadas os dois países vivem o que se convencionou chamar de “guerra por procuração”, “guerra fria Irã-Israel” ou “guerra nas sombras”. Mas o ataque de Israel ao consulado iraniano no dia 1º de abril e a resposta de Teerã com drones e mísseis neste sábado (13) traz a guerra da sombra para a luz.

    As relações entre Irã e Israel se dividem em quatro períodos: de 1947 a 1953, a dinâmica entre os dois países foi marcada por ambiguidades; de 1953 a 1979 as relações foram amistosas; de 1979 a 1990, a Revolução Islâmica no Irã desencadeou uma fase de estremecimento; e a partir de 1991, desde o fim da Guerra do Golfo, as duas nações se tornaram hostis.

    Em 1947, o Irã votou contra o plano de partilha da ONU para a Palestina, que previa a criação de um Estado judeu e outro palestino; e, em 1949, contra a entrada de Israel na ONU. Por outro lado, foi o segundo país de maioria muçulmana a reconhecer Israel como um Estado, depois da Turquia, em 1948.

    Em 1953, um golpe de Estado apoiado pelos americanos e britânicos levou à derrubada do primeiro-ministro Mohammed Mossadegh e à entrada do governo monárquico do xá Reza Pahlevi. Os laços entre Israel e o governo do Irã, apoiado pelos Estados Unidos, se estreitaram.

    As relações floresciam até 1979, quando o sistema político mudou profundamente no Irã. A Revolução Islâmica instituiu a República Islâmica, um governo baseado nos preceitos do Alcorão, com um sistema político complexo no qual o poder fica centralizado num líder supremo, que é o aiatolá Ali Khamenei desde 1989.

    Líder supremo do Irã, Ali Khamenei declarou após lançar drones: “Malicioso regime sionista será punido” / Divulgação via Reuters (02.jan.22)

    A partir de então, o Irã cortou laços diplomáticos com Israel e deixou de reconhecê-lo como Estado. Um período de guerra fria entre os países se instaurou.

    Depois da derrota do Iraque na Guerra do Golfo, em fevereiro de 1991, e a dissolução da União Soviética meses depois, em dezembro, Irã e Israel passaram a disputar poder na região.

    As trocas de hostilidades se tornaram recorrentes, ainda que acontecessem de forma velada. O Irã passou a atuar por “procuração”, financiando grupos radicais, como o Hamas e o Hezbollah, e Israel passou a realizar ataques pontuais.

    O Irã começou a enviar homens e recursos para apoiar seus aliados em três das fronteiras de Israel – Líbano, Síria e nos territórios palestinos. Ao longo de mais de quatro décadas, as principais ações militares de Israel miraram um dos aliados ou representantes do Irã.

    Entre os episódios mais relevantes das hostilidades recentes, em 2020, um ataque ordenado pelo ex-presidente dos EUA, Donald Trump, matou o comandante de segurança e inteligência mais poderoso do Irã, o general Qassem Soleimani em Bagdá. O Irã reagiu e atacou duas bases americanas no Iraque.

    O então comandante da Força Quds iraniana, Qassem Soleimani, em reunião com o aiatolá Ali Khamenei, em 18 de setembro de 2016.
    O então comandante da Força Quds iraniana, Qassem Soleimani, em reunião com o aiatolá Ali Khamenei, em 18 de setembro de 2016. / Pool / Press Office of Iranian Supreme Leader/Anadolu Agency/Getty Images

    O dia 7 de outubro de 2023 marcou um novo capítulo de tensão entre os dois países, quando o Hamas atacou Israel, dando início à contraofensiva em Gaza.

    Desde então, uma série de ataques feitos por milícias apoiadas pelo Irã aconteceram na região.

    No dia 1º de abril, Israel realizou o fatídico bombardeio ao consulado iraniano em Damasco, que matou sete oficiais iranianos. Entre eles, estava Mohammed Reza Zahedi, um alto comandante da elite da Guarda Revolucionária do Irã, o alvo iraniano de maior destaque morto desde o assassinato do general Qassem Soleimani.

    Escombros de área do complexo diplomático iraniano em Damasco / 02/04/2024 REUTERS/Firas Makdesi

    Um detalhe importante: os americanos, aliados de Israel, foram avisados da ação em cima da hora. Fontes do governo Biden afirmaram à CNN que isso causou frustração em Washington, que vinha pedindo que os israelenses evitassem uma escalada das tensões na região.

    Na última quarta-feira (10), Khamenei, o líder do Irã, alertou que o “regime maligno” de Israel havia cometido um erro e seria punido.

    Em décadas de tensão, nunca houve um ataque do Irã dentro de Israel. No cenário mais contido, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, atuará pontualmente, sem uma ofensiva mais ampla. No cenário mais arriscado, vai ignorar o apelo dos EUA e das potências ocidentais e fará um ataque abrangente, acionando um ciclo de retaliação.

    A guerra saiu da sombra e a resposta israelense vai definir se assim permanecerá.