Brasil retoma padrão histórico sobre Israel na ONU, abandonado por Bolsonaro
Decisão foi tomada pelo Itamaraty nos últimos dias e comunicada à diplomacia brasileira em Genebra, dizem fontes
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O Brasil vai retomar o seu padrão histórico de votação sobre Israel, que havia sido abandonado no governo Bolsonaro, em discussões realizadas em organismos internacionais, como a ONU. Fontes diplomáticas afirmam que a decisão foi tomada nos últimos dias, após uma análise política do Itamaraty, e foi comunicada ao posto da diplomacia brasileira em Genebra.
A mudança de postura já tem sido demonstrada desde o início do governo Lula, mas a guerra em Gaza exige a demonstração de uma posição mais definida, segundo pessoas que acompanharam as recentes discussões.
Uma prova da nova postura foi dada nesta sexta-feira (5), quando o Brasil votou a favor da resolução aprovada no Conselho de Direitos Humanos da ONU e apresentou uma crítica mais contundente a Israel durante a defesa de seu voto. A nova resolução pede que países interrompam o fornecimento de armas a Israel e que o país seja responsabilizado por possíveis crimes de guerra e crimes contra a humanidade na Faixa de Gaza.
“O Brasil votará a favor da resolução em consideração porque acreditamos que a responsabilização credível, oportuna e abrangente por todas as violações do direito internacional é fundamental para quebrar este ciclo implacável de violência e impunidade”, disse o embaixador Tovar Nunes da Silva durante a defesa de seu voto, nesta sexta-feira.
O embaixador também reforçou mais uma vez que o Brasil apoia os processos apresentados pela África do Sul na Corte Internacional de Justiça a favor da condenação de Israel por genocídio.
Diplomatas explicam que o Brasil sempre votou a favor do direito internacional e humanitário do respeito à autodeterminação e à proteção dos civis. E dizem que essa postura sempre foi adotada em qualquer conflito global, não apenas em relação ao conflito árabe-israelense. “Não é uma postura contra Israel, mas em defesa dos direitos humanos. O critério absoluto é o direito internacional e humanitário, que se impõe a todos os países”, esclarece uma fonte.
A visão da diplomacia brasileira é de que o Brasil deixou de adotar essa postura durante o governo Bolsonaro e agora retoma sua posição histórica e tradicional.
Na gestão do ex-presidente, o Brasil passou a se abster ou votar contra resoluções favoráveis à causa palestina. Desde o início do governo Lula, a posição começou a mudar em votações no Conselho de Segurança da ONU, na Assembleia Geral, além da Corte Internacional de Justiça (CIJ) e do Tribunal Penal Internacional.
Mas agora a posição fica mais definida e clara com textos e votações focados em Gaza e com a exigência de uma postura mais contundente por causa da catástrofe humanitária na região.
Diplomatas negam que a mudança de postura do Brasil tenha relação com a adoção de uma cobrança mais enfática dos Estados Unidos sobre Israel. Lula foi duramente criticado ao comparar a ofensiva em Gaza ao holocausto, mas conforme a crise humanitária se intensifica em Gaza, até os americanos, aliados históricos dos israelenses, estão endurecendo o tom com Israel.
Fontes afirmam que além da resolução apoiada nesta sexta-feira, o Itamaraty deve demonstrar de forma mais clara a nova postura em votações futuras. O Brasil está patrocinando outras resoluções em Genebra, apesar de não estar propondo textos por conta própria. A diplomacia brasileira também vai continuar apoiando o cessar-fogo e a assistência humanitária, além do processo de condenação de Israel por genocídio na Corte Internacional de Justiça.