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    Phelipe Siani
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    Phelipe Siani

    Empreendedor, palestrante e âncora na CNN Brasil desde 2019

    O futuro da tecnologia imersiva é um misto de realidade e ficção

    Como os óculos ultra tecnológicos de hoje vão mudar o jeito que a gente consome produtos físicos

    Você já usou óculos de realidade virtual? Veja bem, eu falei realidade virtual, aquela totalmente diferente da nossa vida cotidiana. Esses equipamentos, especificamente, são óculos enormes que a gente veste e foge totalmente do mundo real. A gente deixa de enxergar o ambiente de fato e se transporta pra um universo digital 100% distinto, que pode ser um jogo, uma sala de cinema ou qualquer outra coisa do tipo. Essa tecnologia já é bem antiga, por mais maluca que essa afirmação possa parecer.

    Os primeiros protótipos apareceram nos anos 60 e 70, acredita?! E por mais que eles tenham ficado mais comuns principalmente nos últimos 10 anos, não dá pra dizer que os óculos de realidade virtual foram assim um tipo de produto que se popularizou.

    Pensa comigo… colocar algo na frente do rosto que te tira totalmente da realidade é muito legal e disruptivo da primeira vez que você experimenta. Mas qual a chance da gente usar todos os dias um produto grande e pesado que, pra interagir, a gente tem que abrir mão do convívio total e absoluto com tudo ao redor?! É esquisito.

    É por isso que, pra grande massa, a realidade virtual virou meio que uma brincadeira de luxo. Uma experiência legal e diferente pra se ter não mais que uma meia dúzia de vezes na vida. E isso, do ponto de vista dos negócios, limita o crescimento e o desenvolvimento de uma indústria promissora ao redor dessa tecnologia.

    Mas, nos últimos anos, o conceito se reinventou e cresceu consideravelmente. Com a evolução e a miniaturização dos chips, os óculos de realidade virtual se mostraram como um primeiro passo pro que hoje a gente conhece como realidade mista. Essa, sim, já mais atrativa pra um uso mais intenso.

    Ela é mista porque, quando a gente veste os novos óculos atuais, a gente segue enxergando o mundo ao nosso redor. Se a gente colocar os óculos de realidade mista no rosto na sala de casa, a gente continua vendo a sala de casa porque esses equipamentos têm câmeras externas que captam o cenário onde a gente tá e o reproduz pras telas que ficam coladas nos nossos olhos dentro dos óculos.

    Aí, a tecnologia insere virtualmente em cima da mesa da sala um monitor onde tá passando um vídeo no YouTube, cola digitalmente na porta da geladeira uma lista de compras de supermercado e abre na parede do quarto um portal pra um aplicativo de games, por exemplo. Por mais que você caminhe pela casa, todas essas inserções digitais seguem ali paradinhas, como se fossem físicas mesmo.

    Esse é o conceito por trás dos dois principais óculos de realidade mista do mercado: o Apple Vision Pro e o Meta Quest, das big techs que acompanham o nome dos produtos. Você já testou algum deles?

    São impressionantes demais e parecem ser produtos realmente revolucionários que mudam totalmente o jeito que a gente entende a tal da realidade. Mas o Vision Pro, lançado em fevereiro desse ano, tá com as vendas muito abaixo do esperado pela Apple e um dos motivos ainda é o preço. Os óculos custam incríveis US$ 3.500, o que, na conversão direta, sem contar os impostos de importação, belisca a casa dos R$ 20 mil… dá pra comprar um Celta antigo com 200 mil quilômetros rodados.

    Eles são bem superiores, do ponto de vista de tecnologia e usabilidade, em relação ao Quest. Mas esses óculos da Meta têm versões de entrada que custam a partir de US$ 299 e oferecem uma experiência que, apesar de bem inferior, ainda assim é conceitualmente parecida. Com o preço de um único Apple Vision Pro, você compra 11 unidades do Meta Quest mais barato e ainda sobra mais de US$ 200 pra comprar em aplicativos e jogos.

    Mas mesmo o mais barato Quest ainda não parece um objeto de desejo generalizado. É que, em ambos os casos, as limitações da tecnologia do mercado atual ainda se sobrepõem ao conforto e ao bem-estar humano. Colocando na balança, será que os benefícios que esses óculos trazem pesam mais do que o eventual fardo de ter que usar um gadget ainda bem grande e meio desengonçado na frente do rosto?

    Acreditem, ninguém parece sexy usando um óculos de realidade mista. Eu uso, mas eu sou nerd e fissurado por tecnologia. Essa não é a média dos consumidores.

    Mas, assim como os óculos de realidade virtual foram o primeiro passo pros óculos de realidade mista, os produtos de hoje se mostram como um pontapé inicial do que o Mark Zuckerberg, da Meta, apresentou como protótipo no último grande evento feito na sede americana da empresa, no Vale do Silício, agora em setembro desse ano. Eu tava lá e vi de perto o tal do Orion.

    Ele também se mostra como óculos de realidade mista, mas com o tamanho e o jeitão de um par de óculos comuns. Uma armação relativamente pequena e convidativa pra ser de fato usada na rua, no dia a dia.

    A tecnologia pra isso já existe, mas lançar esse equipamento hoje seria o mesmo que colocar no mercado um produto ainda caríssimo. Em breve, os componentes necessários vão ficar ainda menores e mais baratos, viabilizando um modelo de negócio que faça esse tipo de produto, enfim, se popularizar de verdade. Aí, quando isso acontecer realmente, a gente pode esperar uma revolução no jeito que a gente consome produtos físicos.

    Com acesso a óculos que durante todo o dia vão me permitir enxergar uma realidade paralela em cima do mundo de fato a um custo acessível, não é impossível imaginar um futuro de lares cada vez mais minimalistas, com paredes vazias a olho nu, mas cheias de quadros e elementos virtuais de decoração que só vão tá disponíveis nos óculos de quem viver ali ou visitar aquele espaço.

    Pra que comprar TVs enormes, que mal passam na escadaria do seu prédio na hora da mudança, se com os óculos você enxerga na frente da sua cama um telão virtual de 100 polegadas ou mais? Deu pra entender o tamanho do mercado que se apresenta diante dessa possibilidade?

    Isso me faz pensar no timing de lançamento de tecnologias que, muitas vezes, não emplacam porque, por mais que a ideia seja boa, os hardwares ainda não evoluíram o suficiente pra viabilizar o conceito na prática de um jeito eficiente e financeiramente acessível.

    Esses futuros óculos vão, provavelmente, materializar a volta do conceito de Metaverso. Universos digitais forjados a partir do mundo físico e em paralelo a ele. Espaços abertos pra infinitas novas possibilidades comerciais e de novos negócios que a gente ainda nem imagina.

    Já deu pra entender, né?! É melhor eu parar por aqui pra não bugar a cabeça de ninguém… principalmente a minha.

    Meta lança o Orion, seu primeiro par de óculos de realidade aumentada

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