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    Phelipe Siani
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    Phelipe Siani

    Empreendedor, palestrante e âncora na CNN Brasil desde 2019

    Vivendo num capitalismo cada vez mais feroz, uma boa fatia da nova geração só quer o necessário

    Hoje eu apresento o conceito de "underconsumption core", movimento que nasceu nos Estados Unidos e desafia os padrões de consumo forjados pelos pais

    Deixa eu começar já explicando o termo porque um palavrão bizarro desse em inglês pode fazer parecer que a gente tá falando de uma parada muito mais complexa do que de fato é.

    Underconsumption Core” dá pra ser traduzido livremente como “núcleo de subconsumo“. Mesmo em português fica um troço esquisito de entender, mas é simples. Quem passa a viver jurando fidelidade a esse movimento só quer um produto pela utilidade que ele tem ou só compra aquilo que precisa de verdade, mostrando um padrão de consumo nada muito além da aquisição daquilo que é estritamente necessário.

    Esse estilo de vida Timão e Pumba de ser começou – como a maioria desses movimentos – nas redes sociais, mais especificamente no TikTok, onde o perfil de uma jovem de 18 anos começou a gritar pros 4 ventos que queria o “neeeecessário, somente o necessáriooo… o extraordinário é demais!”. Ela não fez isso literalmente, mas você entendeu.

    O tempo todo ela mostra coisas como um secador de cabelo bem surrado que funciona, jeans furados e roupas que ela usa desde a sétima série. Tanta gente se identificou com esse jeito de boa de viver que os vídeos dela já têm mais de 2,3 milhões de visualizações.

    Nos posts e comentários de quem segue esse negócio, a gente logo percebe que é também meio que um estilo de cuidar das finanças pessoais, que critica a compra pela compra e incentiva mobiliar a casa com a cômoda que era da avó e a mesa que veio da casa da mãe. É uma galera que acredita que é errado jogar fora coisas que ainda conseguem manter a mesma utilidade da época em que foram fabricadas.

    Pra deixar bem claro, eu entendo de onde esse movimento vem e concordo que, na maioria das vezes, o consumo pelo consumo só tenta cobrir uma cratera de meteoro com uma tampa de pote de sorvete. O ato de gastar e “conquistar” mais uma coisa pra si é realmente gostoso num primeiro momento, pode liberar dopamina, aquela substância do nosso cérebro que oferece pra gente aquela sensação de prazer, que dá pro nosso cérebro aquele sentimento de recompensa imediata, principalmente em momentos em que a gente tá precisando de um autoconforto. Mas como todo caminho mais fácil, esse comportamento trás consequências que a maioria nem sempre leva em consideração. Do nadão, o sentimento de recompensa tende a virar culpa pelo gasto desnecessário de dinheiro e por colocar dentro de casa mais uma coisa sem a menor necessidade.

    O núcleo de subconsumo (que nome zuado, sério) vem pra combater isso. Eu só tomaria um pouco de cuidado com o conceito do que é “necessário”. Chegar à conclusão de que se precisa de alguma coisa é um negócio um tanto quanto subjetivo.

    Tem pessoas que convivem bem com uma casa cheia de utensílios feios e meio quebrados que, no fim do dia, cumprem minimamente o seu papel. Eu, de verdade, gostaria de ser assim, mas hoje não sou.

    Eu fico muito incomodado quando vejo um eletrodoméstico ou um móvel com alguma parte quebrada, lascada ou algo do tipo. Se o dispenser de gelo do meu refrigerador para de funcionar ou eu tento arrumar ou eu penso em trocar de geladeira pra ter um equipamento que funcione por inteiro. Eu até faço uma doação das minhas coisas antigas quando eu compro novas, mas eu não consigo ficar em paz com um monte de coisas quebradas ou não funcionando tão bem dentro da minha casa. Quem leva esse raciocínio ao extremo pode colocar de lado uma conquista importante do ser humano moderno, o conforto.

    Eu acho que um movimento como esse pode e deve servir pra gente pensar e evitar comportamentos extremos, como aquelas pessoas que nem tem mais espaço no armário, mas seguem comprando roupas compulsivamente ou alguém que vive acumulando produtos de beleza que nunca usa e acabam perdendo o prazo de validade. Isso é horrível, acho que quase todo mundo concorda. Mas eu acho justo alguém querer trocar a TV da sala por uma maior e mais moderna. Aquela tá na parede funciona bem, mas tem uma resolução baixa, não acessa a internet e tá com um pequeno arranhão na tela que não atrapalha a imagem, mas incomoda o dono. É uma questão de upgrade. Nesse caso, não é sobre ter mais coisas, mas sobre ter coisas melhores e mais úteis, que gerem mais benefícios, mais conforto. Doar a TV antiga, por exemplo, pra quem precisa também traz uma sensação boa pra caramba.
    Pensar num meio termo entre esses dois comportamentos, acho eu, é o melhor caminho.

    Principalmente quando a gente é o tempo todo bombardeado nas próprias redes sociais com gente oferecendo e incentivando mais e mais compras. E os números mostram que isso funciona. A consultoria de influência Youpix divulga pesquisas sobre esse mercado o tempo todo e mostra que 6 em cada 10 usuários das redes sociais já compraram alguma coisa divulgada por um criador de conteúdo que elas seguiam.

    Eu entendo que o problema não tá só em comprar demais ou comprar de menos. A questão é calibrar a percepção de necessidade de um jeito que uma eventual compra não faça mal ou gere sentimentos ruins no médio e no longo prazo. Talvez não seja claro pra todo mundo, mas, muitas vezes, a fatura alta do cartão de crédito diz muito sobre uma baixa saúde mental. Nesse caso, é possível que gastar dinheiro nem seja tanto problema. Talvez esteja na hora de gastar investindo em profissionais que te ajudem a viver mais em paz.

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