A fatura de US$ 9 trilhões que o mundo de 2023 nem sabia que pagou
Esse valor representa o dobro de tudo que a Alemanha produziu no ano em bens e serviços e vem da perda de produtividade de trabalhadores desengajados
A conta é complexa e foi feita pela Gallup, uma consultoria internacional gigantesca. Eles analisaram líderes e inúmeros indicadores de empresas do mundo todo pra colocar em números o que a gente vê na prática todos os dias no mercado… os trabalhadores de hoje têm os piores índices de saúde mental da história recente.
O relatório chama “Estado do Ambiente de Trabalho Global” e traz números relacionados, por exemplo, à solidão. Esse é um problema que, na média, atinge 20%, ou seja, um em cada 5 trabalhadores no mundo, por mais contraditório que isso possa parecer. Trabalhar numa empresa, essencialmente, é tá perto de outras pessoas, às vezes dezenas, centenas de colegas. Mas tá perto é só o primeiro passo pra se conectar e criar vínculos com os outros.
É aquela história de correr o risco de se sentir sozinho mesmo numa sala lotada de gente. Esse sentimento bate com mais frequência pra quem é mais jovem (22%) e, claro, atinge mais quem trabalha de forma totalmente remota, atinge um quarto pra galera do home office total, que faz de casa uma extensão do escritório.
Isoladamente, esses números podem não significar muita coisa pra você, mas experimenta cruzar esses dados com outros da Organização Mundial da Saúde (OMS), que colocam o Brasil como o país mais ansioso do mundo. Quase 10% da nossa população, segundo a OMS, sofre com esse problemaço de saúde mental (ou equilíbrio emocional, como eu prefiro chamar).
Levando em conta esses dois fatores – solidão mais ansiedade – a gente tem nas mãos a receita perfeita pro baixo engajamento dos funcionários de uma parcela MUITO significativa da força de trabalho do nosso país.
O estudo traz uma análise do que eles chamam de trabalhadores “ativamente desligados”. É tipo o funcionário que tá super de saco cheio e ativamente vai contra as metas que os empregadores estipulam (vai falar que você não conhece alguém assim trabalhando a poucas mesas de você?!). E essa galera totalmente desengajada representa incríveis 15% dos trabalhadores do mundo. É muita gente sem tá afim de trabalhar (muitas vezes com justificativas fortes, claro, mas é muita gente mesmo).
A pesquisa também mostrou que esse negócio de “não deixar o trabalho interferir na vida pessoal” é meio que quase impossível. Uma coisa, obviamente, tá diretamente ligada à outra na medida em que trabalhadores que não tão felizes com seus empregos têm uma tendência muito maior de ter mais estresse, preocupações e emoções negativas diárias no geral, na vida, pra muito além da porta da empresa pra fora.
Olhando esse resultado, se o mundo não tivesse nenhum trabalhador nessas condições, teria produzido quase 10% mais do que de fato gerou em bens e serviços. A gente tá falando de US$ 9 trilhões que deixaram de ser gerados. É mais de 4 vezes a soma de tudo que o Brasil produziu no mesmo período.
É claro que nem todos os nossos muitos problemas emocionais de hoje tão ligados diretamente ao nosso trabalho, mas, pela pesquisa, quando os funcionários tão engajados no trabalho, eles têm esperanças significativamente maiores pras próprias vidas futuras. No caso de quem tá na contramão do otimismo, a sensação de olhar o próprio rosto no crachá de uma empresa que não gera interesse é praticamente a mesma de tá desempregado.
São informações pesadas, mas que, pela nossa vivência – minha e sua – não são lá novidades enormes, né?! Infelizmente, é muito comum encontrar colegas de trabalho e até líderes nessas condições, desengajados, tristes e sem perspectiva de futuro. É comum, mas não pode ser normal.
Todo mundo tem boleto pra pagar, mas o que esses números reforçam é que, do ponto de vista de qualidade de vida, não adianta muito tá empregado só pelo salário. Não ter as condições ideais de trabalho afeta bastante esse engajamento.
Grande parte dos que responderam à pesquisa disseram que muito dessa falta de condições ideais vem da economia dos contratantes. Com esses dados, dá pra ver o quão caro custa essa falta de investimento. É deixar de investir de um lado pra deixar de faturar do outro.
É claro que, de maneira geral, o comprometimento do equilíbrio emocional das pessoas vem de inúmeros fatores, incluindo as redes sociais. Mas acordar de manhã e, consecutivamente, sofrer pra pegar o caminho do trabalho é um indicador forte de problema. E isso, definitivamente, não pode ser normalizado. Repito: pode até ser comum, mas normal é se sentir bem. Inclusive no lugar onde a gente trabalha!