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    Phelipe Siani
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    Phelipe Siani

    Comunicador, palestrante e âncora na CNN Brasil desde 2019. Empreendedor serial, fundador da Albuquerque Content e da Intrend.AI

    Dinheiro traz felicidade; pelo menos, segundo os dados

    O ranking global da ONU de nações felizes contraria o ditado e mostra que o topo do ranking é ocupado por quem tem mais grana

    Eu já ouvi da minha avó, você já ouviu da sua e assim a vida segue. “Dinheiro não traz felicidade“, elas sempre disseram. A ideia era mostrar que muita gente rica não necessariamente era feliz, o que é uma enorme verdade. Mas, quando a gente deixa de olhar o individual e vai pro coletivo mais macro, essa lógica parece se quebrar.

    E quem mostra isso é o relatório de felicidade global de 2024, da Organização das Nações Unidas. A ONU mapeou 143 países olhando vários indicadores, mas principalmente suporte social, renda, saúde, liberdade, generosidade e corrupção. Pela sétima vez seguida, a Finlândia é o país mais feliz do mundo e os três primeiros da lista são os mesmos do ano passado.

    Além da Finlândia, Dinamarca e Islândia. Países que a gente não tem lá muita familiaridade com a gente ou com os roteiros mais de viagem.

    Dos 20 primeiros, só tem uma novidade… a Lituânia. Nos últimos lugares da lista tão, principalmente, países africanos, tipo Namíbia, Gana e Níger e países destruídos por guerras, como Líbano e Afeganistão. Nesse caso, gente, não precisa ser nenhum gênio estatístico pra ligar lé com cré e perceber o óbvio… os países mais felizes do ranking são mais desenvolvidos – e os últimos são mais pobres.

    A CNN conversou com o professor Jan-Emmanuel De Neve, que é diretor do Centro de Pesquisa de Bem-Estar da Universidade de Oxford e também é editor desse relatório da ONU.

    Ele explica melhor essa história, mostrando que a felicidade geral de um país aumenta quando são mais altos indicadores como os ganhos médios dessa população, uma distribuição de riqueza menos desigual, um estado de bem-estar que fornece estabilidade psicológica e uma esperança de vida saudável. Ou seja… mais dinheiro, mais felicidade.

    Se estabilidade psicológica pesa muito nessa lista, realmente fica difícil pra gente porque o Brasil, segundo a mesma ONU, é o país mais ansioso do mundo, com quase 10% da população convivendo com o problema. Olhando a bolha do meu círculo de amigos, eu acho esse número oficial até baixo. Muitas vezes, a impressão que eu tenho é que todo mundo tá, em maior ou menor grau, meio ferrado da cabeça por aqui.

    Mas, no tal ranking de felicidade, o Brasil até que não tá tãooooo mal assim, ficou na posição 44, só que atrás de Kosovo, El Salvador e Nicarágua, por exemplo. Mesmo assim, essa colocação foi melhor que a do ano passado, quando a gente tava na posição 49.

    Pra mim, em linhas gerais, isso mostra o quanto a gente precisa entender o quanto ter dinheiro não precisa ser visto como algo “feio” ou que precisa ser escondido. Quantas pessoas bem sucedidas você conhece que não assumem que melhoraram de vida ou que ganham bem? A nossa cultura sempre chama mais atenção pras dificuldades de se ter grana, é essa brincadeira que a gente ouve bastante que os outros “só veem as cachaças que a gente toma, mas não veem os tombos que a gente leva”.

    A gente aprende que ter dinheiro é algo pra se esconder, pra não se ter orgulho. Não tem jeito, isso é cultural e é até difícil entender o porquê a gente age assim. Assumir que ganhou dinheiro, pra gente que é brasileiro, é quase que uma demonstração de falta de humildade. O que não faz o menor sentido se isso é feito de uma maneira que não desabone ou humilhe ninguém.

    A obviedade latente do ranking da ONU pode mostrar que só é feio ter dinheiro se ele foi conquistado de um jeito desonesto ou é usado de forma extremamente egoísta, sem levar em consideração o outro. Os países mais ricos tem uma média de população com mais recursos e menos dificuldades triviais, mais acesso a direitos básicos.

    Nos países mais infelizes, não é só a falta de dinheiro que impede o acesso a esses direitos, mas a má aplicação do dinheiro que se tem, com, por exemplo, muitos desvios por meio de corrupção… aí sim um jeito horrível de enriquecer e proliferar epidemias de má distribuição de renda.

    O que eu tô falando é bem básico, mas acho que serve de reflexão pra gente aprender a colocar cada coisa numa prateleira. Num país como o Brasil, com quase 38 milhões de empregados com carteira assinada e mais de 20 milhões de empresas abertas tem muita gente batalhando pra melhorar de vida. E, se isso for feito de um jeito bacana, não pode ser visto como algo a ser escondido. Até mesmo porque, como mostra o ranking global de felicidade, se bem usado, o dinheiro pode sim deixar a vida de todo mundo bem mais feliz. Ele não é o único caminho, mas claramente é uma parte importante da jornada.