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    Pedro Duran
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    Pedro Duran

    O pai do Benjamin passou pela TV Globo, CBN e UOL. Na CNN, já atuou em SP, Rio e Brasília e conta histórias das cidades e de quem vive nelas

    Igreja ouvirá novo denunciante contra Júlio Lancellotti e Câmara pode alterar pedido de CPI

    Nova manifestação da igreja fez a ideia de uma CPI contra o vigário recuperar forças na Câmara Municipal de São Paulo

    A Cúria Metropolitana de São Paulo decidiu ouvir um novo denunciante que acusou o padre Júlio Lancellotti de atos equivalentes à importunação sexual.

    A Igreja recebeu um e-mail do homem, que teria 37 anos, manifestando interesse em depor contra o vigário.

    O depoimento deve acontecer nos próximos dias e fará parte de uma apuração preliminar aberta pela Igreja para investigar denúncias contra o padre.

    O novo caso foi revelado pela Revista Oeste. A reportagem traz o relato do homem que, aos 11 anos de idade, teria recebido carícias indevidas do religioso na sacristia, área da igreja dedicada à preparação dos padres para missas. A revista intermediou o contato entre a Igreja e o denunciante.

    Em uma nota divulgada nessa segunda-feira (5), a Arquidiocese de São Paulo, comandada por Dom Odilo, afirma que novas investigações sobre o caso envolvendo Lancelotti serão feitas.

    “A recente divulgação de laudos periciais com resultados contraditórios e a notícia de um suposto novo fato de abuso sexual envolvendo o referido sacerdote requerem uma nova investigação da parte da Arquidiocese para a busca da verdade”, diz o texto.

    As perícias se referem a um video onde supostamente o padre aparece em uma chamada de vídeo com um menor de idade em conversa com teor sexual. As imagens circularam em 2020 e já tinham sido avaliadas pela Arquidiocese e pelo Ministério Público, em investigações arquivadas por falta de provas.

    A nova manifestação da igreja fez a ideia de uma CPI contra o vigário recuperar forças na Câmara Municipal de São Paulo.

    Na reunião do Colégio de Líderes desta terça-feira (6), o presidente da Câmara Municipal de São Paulo, Milton Leite (União Brasil), indicou que a CPI das ONGs pode ser instalada depois do Carnaval.

    Leite, que é favorável a instalar a comissão, pediu à assessoria legislativa, no entanto, que analise o requerimento já feito pelo vereador Rubinho Nunes (União Brasil) para entender se ele contemplaria a possibilidade de investigar assédio sexual ou se seria necessário fazer uma nova solicitação.

    “No caso em tela, se não houver objeção, seria medida de cautela aguardarmos o depoimento dessa vítima que veio a público, como instrumento de prova inicial o depoimento dele na diocese, livre, e outros que me parece que vão aparecer, daí sim a Câmara preservando o outro lado […], em se confirmando esse fato nós temos instrumentos suficientes pra dar prosseguimento”, disse Leite.

    A discussão se deu porque o objeto do vereador Rubinho são as ONGs que recebem recursos públicos — o que não é o caso do padre, que trabalha na Pastoral da População em Situação de Rua com recursos próprios da Igreja e de doações.

    Depois do requerimento assinado, o próprio vereador passou a falar publicamente que a CPI investigaria o padre, o que causou descontentamento em parte dos vereadores que tinham aderido ao pedido.

    À CNN, o padre disse receber a nota da Arquidiocese com “paz de espírito” e “serenidade” e disse que as acusações são faltas e partem de uma rede de desinformação.

    Uma série de autoridades manifestaram apoio ao vigário, reconhecido nacionalmente pelo trabalho de proteção à população de rua na cidade.

    Caso o requerimento mude, mirando mais diretamente o padre, haverá dois novos obstáculos: voltar a reunir 28 assinaturas e furar a ordem de preferência, o que é visto por vereadores ouvidos pela CNN como algo difícil, especialmente em ano eleitoral.

    A Câmara dos Vereadores de São Paulo tem três CPIs instaladas hoje: da violência contra mulheres, de cabos e fios e da Enel. O máximo são cinco. E há 45 pedidos protocolados. O novo requerimento enfrentaria forte resistência de partidos como PT e PSOL.

    Fontes da Arquidiocese de São Paulo ouvidas pela CNN relataram uma preocupação de que o depoimento e o avanço das investigações ocorra o quanto antes.

    A leitura é de que, até mesmo no caso de inocentar o padre ou arquivar o inquérito, o trabalho ágil ajudaria a proteger a imagem dele e da igreja.

    Uma regra de 2019 baixada pelo papa Francisco, por meio de uma carta apostólica, prevê que qualquer notícia de abuso sexual contra menores supostamente praticado por membros do clero precisa necessariamente de uma investigação interna.

    Baseada nela, a Arquidiocese abriu uma apuração preliminar no ano passado, quando o vídeo de 2020 voltou a circular.

    No dia 5 de janeiro deste ano, o presidente da Câmara, Milton Leite, disse ao jornal Folha de São Paulo que teria outras denúncias de “extrema gravidade” contra Lancellotti.

    No mesmo dia, a Cúria enviou um e-mail à Câmara pedindo que as denúncias fossem encaminhadas. Três dias depois, o ofício foi protocolado.

    As novas denúncias só foram enviadas à Cúria no dia 22 de janeiro, às vésperas da missa que celebraria o aniversário de 470 anos de São Paulo e os 70 anos da catedral da Sé.

    Nesse meio tempo, segundo fontes da Igreja e da Câmara Municipal, Milton Leite e Dom Odilo tentaram se encontrar.

    Odilo queria que o vereador fosse à sede da administração da Igreja, em Higienópolis, e Leite queria receber a visita do cardeal na Câmara, no centro da cidade.

    O encontro não aconteceu e, com base no material remetido, a Arquidiocese fez uma nova manifestação pública nesta segunda-feira (5) reforçando que investigaria as perícias e a nova denúncia.

    A apuração preliminar contra Julio Lancellotti será feita por uma comissão própria que se reportará diretamente ao Vaticano.

    Em um primeiro momento, ela não precisa reunir provas, mas indícios de plausibilidade e veracidade. O processo é chamado de “invstigação prévia”.

    A CNN apurou que essa será a terceira vez que o clérigo passará por esse processo.

    Em 2020, uma investigação sobre o suposto vídeo fora arquivada pela comissão.

    Em 2007, após acusar um casal de extorsão, o padre também teve uma investigação interna arquivada depois de o próprio Ministério Público apontar que ele era vítima de uma quadrilha.

    Se desta vez a comissão concluir que a denúncia é minimamente consistente, caberá ao arcebispo da cidade, Dom Odilo, decidir se vai ou não instaurar um processo penal canônico, com eventuais medidas cautelares — como o afastamento — e o encaminhamento direto para a Santa Sé.

    Fontes da Igreja Católica que conhecem o direito canônico afirmaram à CNN que há uma sutileza nesse processo.

    Embora a lei que prevê o crime de importunação sexual tenha sido aprovada e sancionada em 2018, décadas depois do suposto fato, a Igreja se baseia em um código mais rígido que pode, sim, punir um religioso ainda que inocentado pelas leis civis.

    No entanto, pessoas ouvidas pela CNN que acompanham o processo avaliam que as circunstâncias já reveladas são insuficientes para qualquer tipo de penalização do vigário.

    Ao contrário, defendem muita cautela na apuração, para não expor a imagem de Lancellotti em meio à uma clara guerra de narrativas patrocinadas por setores da direita.

    No Colégio de Líderes, Leite afirmou que os indícios contra o padre são “razoáveis” e as acusações “graves e sensíveis”. Rubinho Nunes também disse receber constantemente novas acusações contra o religioso em seu gabinete, mas não apresentou nenhuma nova prova contra ele.

    Por parte da Igreja, há uma preocupação com a imagem. Tanto é que Lancellotti foi orientado a não se expor ou entrar no enfrentamento direto pra evitar mais tensionamento.

    Como na gestão do papa Francisco as acusações de assédio, abuso e pedofilia se transformaram em ponto ainda mais sensível para a Igreja, com o endurecimento de regras de investigação, o caso é tido como prioridade pela sede da congregação em São Paulo.

    A CNN procurou Lancellotti e aguarda retorno.