Efeito Tiktok: prefeitos embarcam em trends para fidelizar eleitores jovens
Movimento se intensificou com o carnaval e as ações de combate à dengue nas cidades


Das músicas do momento às locuções com inteligência artificial, tudo temperado com legendas e efeitos com um objetivo preciso: viralizar. Se a presença digital nas redes sociais para políticos postulantes a cadeiras no executivo e legislativo já era obrigatória nas últimas eleições, em 2024 ela passou a ter novos contornos, com requintes de profissionalismo mas sem deixar de lado a pegada espontânea, quase improvisada, do que bomba na internet.
O banho com balde de água no meio da terra é a porrada com cano de PVC nas costas parecem ter funcionado pra levar o prefeito de Sorocaba, Rodrigo Manga (Republicanos), ao patamar de influencer. Foram 5,8 milhões de reproduções no vídeo com o humorista Bigmartt para divulgar a gestão da cidade. Oito vezes a população da cidade que fica no interior de São Paulo.
As cenas da prefeita Rossane Patriota (PSDB) cantando e dançando no palco do show da pequena Ielmo Marinho no carnaval bateram 3,7 milhões de visualizações, o que equivale a mais de 300 vezes a população da cidade do Rio Grande do Norte.
Marketeiros eleitorais consultados pela CNN apontam que a estratégia ajuda, inclusive, políticos menos conhecidos e pode funcionar entre os eleitores jovens, mas precisa ser usada com moderação.
Os dados mais atualizados do Tribunal Superior Eleitoral apontam que o Brasil tem mais de 20 milhões de eleitores com idade entre 16 e 24 anos.
A faixa etária equivale, por exemplo, a 41% dos usuários do TikTok no Brasil. A penetração é forte na geração Z. Os ‘zoomers’ nasceram entre 1997 e 2010. Já no instagram, a rede mais popular do Brasil, 83% dos jovens de 16 a 29 anos, abrem o aplicativo várias vezes ao dia ou deixam aberto o dia todo. Os dados são do DataReportal, da Cuponation e da TIC Kids Online Brasil.
A receita para viralizar funciona inclusive para políticos, que costumam adotar postura mais institucional. Prova disso é o boom de influencers eleitos em 2018, 2022 e 2022.
Manga e Rossane não são os únicos prefeitos a explorarem a fórmula viral das redes sociais. Embarcaram na mesma estratégia prefeitos de capitais como Recife, Florianópolis, Rio de Janeiro, Maceió e Salvador.
Em Floripa, Topázio Neto (PSD) aparece entrando misteriosamente dentro de um carro numa montagem feita pra divulgar o combate ao mosquito da dengue. De óculos Juliet, João Campos (PSB) comemorou a entrega de 800 escadarias em Recife ao ritmo de piseiro.
Um vídeo com o prefeito fazendo propaganda de uma tampa de bueiro de fibra com sonorização, legendas e efeitos bateu 3,8 milhões de visualizações no TikTok. No Instagram o primeiro vídeo do prefeito surfando na trend do “nevou” e platinando o cabelo alcançou 2,7 milhões de espectadores.
Sob inteligência artificial e com uma ajudinha esporádica da associação com a imagem do presidente Lula (PT), o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), frequentemente rompe a barreira do milhão.
Em Maceió, além do prefeito JHC (PL), a primeira dama, Marina Candida, também entrou no jogo. JHC usa quiz e explora nas redes eventos e encontros com a população. Um vídeo de menos de dez segundos com Marina dançando forró já bateu 1,4 milhão de visualizações.
Com um vídeo lavando um carro na inauguração de um lava-jato, Bruno Reis (União Brasil), já ultrapassou meio milhão de visualizações no Instagram. Outro vídeo, “batendo um rango” no carnaval, bateu 1 milhão de views.
O uso de algumas das muitas ferramentas disponíveis na internet, no entanto, foi restringido pelo Tribunal Superior Eleitoral na corrida às prefeituras e Câmaras de 2024. Às peças com inteligência artificial, por exemplo, precisarão de um rótulo de identificação. Já o deepfake, que manipula imagens reais, foi vetado.
Candidatos e plataformas ainda precisarão tirar do ar imediatamente e sem ordem judicial conteúdos que promovam condutas e atos antidemocráticos e também discursos de ódio, como racismo, homofobia, fascismo e qualquer tipo de preconceito.