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    Pedro Côrtes
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    Pedro Côrtes

    Professor titular da Universidade de São Paulo (USP) e um dos mais renomados especialistas em Clima e Meio Ambiente do país.

    Em breve teremos a “reestreia” do La Niña e isso pode não ser uma boa notícia

    As mudanças climáticas têm acentuado os efeitos de fenômenos climáticos

    O ciclo climático que alterna o El Niño e o La Niña é algo normal. Para o Brasil, o El Niño provoca chuvas na Região Sul e seca nas regiões Norte e Nordeste. O La Niña faz o contrário, causando secas no Sul e chuvas no Norte e Nordeste. É como se fosse uma gangorra que há muito tempo controla o clima entre essas regiões.

    As mudanças climáticas, entretanto, têm acentuado os efeitos desses fenômenos. Durante o El Niño que agora se encerra, tivemos chuvas extremas na região Sul e em diversas áreas da região Sudeste e uma seca sem precedentes históricos conhecidos na região Norte. Em diversas áreas, a temperatura ascendeu a níveis históricos.

    Em sua última temporada, o La Niña também apresentou seus extremos. Foram praticamente dois anos e meio, encerrados no início de 2023, que levaram a uma estiagem severa no Rio Grande do Sul, com prejuízos a diversos plantios. No período, também enfrentamos uma seca sem precedentes na região central, com várias hidroelétricas deixando de operar simplesmente por falta d’água.

    As bandeiras tarifárias convencionais não foram suficientes para que o consumidor bancasse o aumento dos custos de geração devido ao uso mais intensivo das termoelétricas. Passamos a ter a bandeira de escassez hídrica, o maior sobrepreço já aplicado às tarifas. O La Niña, potencializado pelas mudanças climáticas e falta de planejamento, nos trouxe essa surpresa.

    Com o retorno do La Niña, as previsões climáticas indicam uma situação peculiar. As chuvas na região Norte vão se deslocar para uma faixa acima das fronteiras nacionais. Na Amazônia brasileira, essas chuvas ficarão abaixo da média, cenário predominante nas demais regiões.

    No final do ano passado, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) já havia alertado que algumas usinas hidroelétricas estavam com uma vazão afluente reduzida. Esse é o termo técnico que indica quanto de água a natureza está aportando nos reservatórios por meio das chuvas e das nascentes, por exemplo. Essa tendência deverá se intensificar com o La Niña.

    Caso as hidroelétricas tenham que operar com uma capacidade reduzida, será necessário ampliar o uso das termoelétricas, que representam a fonte mais custosa de geração de energia elétrica no país. Quando isso acontece, esse maior custo é repassado aos consumidores com a aplicação das bandeiras tarifárias amarela, vermelha 1 e 2 ou de escassez hídrica.

    Em relação à temperatura, excetuando-se o extremo sul do Rio Grande do Sul e parte do Nordeste, enfrentaremos valores acima da média. Há um destaque especial para a região Centro-Oeste com um clima mais seco e quente, o que poderá prejudicar a agricultura e deixar o Cerrado e Pantanal mais suscetíveis às queimadas.

    Diante disso, vale sempre lembrar que, embora não seja possível negociar com o clima, contamos com ferramentas que antecipam cenários. O correto uso desses recursos, a ampla divulgação de informações e um bom planejamento poderão reduzir seus impactos.