As eleições terminaram, mas o clima não é bom
Considerando um cenário intermediário de mudanças climáticas, onde a sociedade avançaria de forma moderada com algumas políticas de mitigação, as projeções indicam que as temperaturas poderão chegar aos 40 °C na Região Metropolitana de São Paulo
Com o término das apurações, é natural que os partidos façam seus balanços políticos e, entre os vitoriosos, ocorra a atribuição de cargos que contemplem as alianças anteriormente configuradas. A política demanda arranjos eleitorais. Business as usual.
Entretanto, colocando os pés no chão, percebemos que os problemas continuam a existir. Relatório do Banco Mundial, utilizando dados do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, mostra uma perspectiva preocupante.
Considerando um cenário intermediário de mudanças climáticas, onde a sociedade avançaria de forma moderada com algumas políticas de mitigação, as projeções indicam que as temperaturas poderão chegar aos 40 °C na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) entre 2040 e 2059.
Mesmo em um cenário mais otimista, com uma transição acelerada para fontes renováveis de energia, investimentos em tecnologia limpa e políticas de conservação ambiental, poderemos tangenciar os 40 °C de temperatura máxima na RMSP. A cidade de São Paulo chegou perto dos 37 °C este ano, sem contar as ilhas de calor onde a temperatura é ainda mais elevada.
Na região metropolitana de Porto Alegre, tendo em conta o mesmo cenário intermediário de mudanças climáticas, em alguns meses a precipitação acumulada poderá ficar em torno de 400 mm a partir de 2040. A chuva de três a quatro meses caindo em apenas um único mês. O triste cenário de maio deste ano deverá se repetir.
No centro-oeste, a tendência é de uma sequência crescente de dias consecutivos sem chuva. Brasília tem enfrentado isso e a tendência é piorar. O Pantanal está ficando cada vez mais seco. Na Amazônia, há prognósticos de redução no volume anual de chuvas. A floresta tropical úmida se torna cada vez mais seca.
Aquilo que a ciência tem prognosticado já está ocorrendo. Sintomaticamente, na maioria das campanhas eleitorais, o clima não foi propício para discutir as mudanças climáticas. Acusações, muitas vezes, não faltaram. Mas, poucas soluções foram debatidas. Business as usual.
E o nosso Titanic comporta-se como se tudo estivesse normal, ou algo próximo disso. Batemos no iceberg, a água está entrando nos porões, mas o importante é que a orquestra esteja tocando no convés no navio.
Realmente, o clima não está bom.