Análise: a transição energética de que o Brasil precisa
O país tem avançado neste quesito, mas ainda falta um plano nacional
No final de março, o Conselho Ambiental da União Europeia aprovou uma proposta que determina que todos os veículos novos reduzam suas emissões de CO2 em 55% a partir de 2030, comparado aos níveis de 2021. Esse mesmo regulamento estabelece que todos os carros novos comercializados estejam livres de emissões de CO2 a partir de 2035. Na prática, isso significa que, a partir daquele ano, os europeus não terão mais a possibilidade de comprar carros movidos a diesel ou gasolina.
Essas metas, que ainda precisam ser validadas pelo Parlamento Europeu, visam acelerar a descarbonização das novas frotas. A Comissão Europeia, no entanto, se comprometeu a criar uma via legal que permita a venda de veículos novos que usem exclusivamente combustíveis sintéticos (e-fuel) que sejam neutros na emissão de CO2.
A Europa vem caminhando fortemente no desenvolvimento de políticas voltadas para a redução de emissões de gases de efeito estufa. Isso é importante não somente para garantir a consecução de metas ambientais já pactuadas, mas também para nortear os investimentos governamentais e privados. Planejamento é fundamental e a União Europeia faz isso há anos.
O Brasil vem se notabilizando por um crescimento acelerado no uso de fontes renováveis, tanto para geração de energia elétrica quanto para movimentação da frota. Há iniciativas do governo e do Congresso, por meio de Projetos de Lei, para ampliar o uso de biocombustíveis, acrescentando mais etanol à gasolina ou biodiesel ao diesel obtido a partir do refino do petróleo. Incentivos têm ajudado a acelerar o crescimento de plantas eólicas e solares. Assumimos uma posição de relevância que ainda é pouco explorada nas nossas relações internacionais.
Iniciativas e opções não faltam. O que falta é um plano nacional de transição energética. Um plano que proponha uma estratégia voltada à substituição dos combustíveis fósseis. Não digo que, neste momento, tenhamos condições de adotar posturas ousadas como aquela proposta pelo Conselho Ambiental da União Europeia. Entretanto, um documento nacional que permita um planejamento unificado no uso das diversas fontes mostra-se cada vez mais necessário. Isso ajudará a concentrar recursos e investimentos.
O governo federal indica que teremos esse plano em 2025. Ele será mais ousado ou mais comedido? Ainda não é possível saber. A negociação de metas e restrições tende a ser um processo demorado. Caso o governo realmente pretenda apresentar um plano de transição energética no próximo ano, já é mais do que necessário que isso seja pautado publicamente.