Se você fosse Galeno, escolheria a Seleção Brasileira ou Portugal?
Dilema de atletas com dupla nacionalidade envolve escolhas esportivas e pessoais
O que você faria se fosse jogador profissional de futebol e, tendo dupla nacionalidade, precisasse optar por jogar pela Seleção Brasileira ou pela portuguesa?
Parece fácil responder pela ótica da paixão e do suposto patriotismo aplicado ao esporte profissional.
Mas há vários pontos pelo caminho que merecem ser analisados na tentativa de entender as opções dos jogadores.
O caso mais recente é o do atacante Wenderson Galeno, do Porto, que foi convocado por Dorival Júnior para a Seleção Brasileira. Galeno tem nacionalidade portuguesa e seu nome aparece nas listas prévias do treinador espanhol da seleção lusitana, Roberto Martínez.
O jogador fez cinco gols na Champions desta temporada europeia. O mais recente deles um golaço, na vitória do Porto sobre o Arsenal, no jogo de ida das oitavas de final. Muitos brasileiros ouviram falar dele pela primeira vez quando viram este gol.
No jogo de volta ele e outro brasileiro convocado por Dorival, Wendell, perderam os dois pênaltis do Porto na eliminação para o Arsenal.
Nesta sexta-feira, 15 de março, Martínez convoca a seleção portuguesa para amistosos contra Suécia e Eslovênia. Segundo o jornal português A Bola, Galeno tende a aceitar a convocação portuguesa se for chamado. Mas, teoricamente, ele já aceitou a convocação brasileira.
Qualquer que seja sua escolha, Galeno não poderá servir outra seleção caso entre em campo por uma.
Houve casos parecidos recentemente, como Diego Costa, que escolheu atuar pela Espanha, e Matheus Nunes, que em 2021 foi convocado por Tite para a Seleção Brasileira, mas optou por jogar por Portugal.
É preciso analisar a vida esportiva e social desses jogadores antes de fazer julgamentos precipitados sobre suas escolhas.
Galeno desenvolveu sua carreira em Portugal. Nunca jogou uma partida de liga nacional no Brasil. Atuou em Goiás, pelo Grêmio Anápolis, em 2016, e no ano seguinte foi para Portugal, onde jogou por Rio Ave, Portimonense e Braga até se firmar no Porto.
Aos 26 anos, Galeno está há sete em Portugal. Ali se fez jogador e certamente fincou raízes com família e criou laços sentimentais e de gratidão com o país.
Alguns torcedores mais radicais consideram traição um atleta escolher jogar por uma seleção de outro país tendo nascido no Brasil.
Prefiro avaliar por outro caminho. Tudo depende das oportunidades que o país para onde o jogador emigrou lhe ofereceu. O que em vários casos significa uma vida mais digna, segura e de maior reconhecimento profissional ou simplesmente uma identificação maior com um cantinho do mundo.
Esporte não é guerra, e convocação para seleção não é um chamado às armas.
Basta direcionar a situação para outros ramos de atividade. Quantos executivos brasileiros são contratados por empresas estrangeiras e emprestam seus talentos para desenvolver negócios em outros países? Ou mesmo cientistas? Também existe nesses ramos competitividade, como no esporte.
Ninguém deve ser considerado traidor quando decide atuar futebolisticamente por outro país.
Em muitos casos a única oportunidade que um atleta terá em sua carreira de disputar uma Copa do Mundo ou uma Olimpíada pode vir de um processo de naturalização.
Ainda que essa escolha seja puramente financeira e não envolva laços efetivos com o país da nova nacionalidade, é uma decisão legítima.
Galeno seguirá sendo cidadão brasileiro e português caso escolha ser jogador de uma seleção ou de outra.