Final da Libertadores em jogo único é um grande erro
Ao tentar imitar a Champions, Conmebol ignora realidade econômica e geográfica da América do Sul e pune torcedores
Desde 2019 que a Confederação Sul-Americana de Futebol (Comnebol) instituiu a final em jogo único para a Copa Libertadores. A principal competição de clubes do futebol sul-americano, até então, era decidida em duas partidas — ou três — de acordo com o regulamento vigente.
A ideia de realizar o jogo único foi implementada depois da trágica decisão de 2018, entre os argentinos Boca Juniors e River Plate, que foi parar em Madri, na Espanha. O primeiro jogo terminou 2 a 2, no campo do Boca. O segundo foi adiado em virtude de um ataque contra o ônibus do Boca Juniors por torcedores do River. Após um impasse, o duelo decisivo foi marcado para o Estádio Santiago Bernabeu, na capital espanhola, com vitória do River por 3 a 1.
A partir de 2019, numa tentativa de imitar o modelo de final em jogo único da Champions League, a Conmebol colocou seus interesses econômicos e políticos acima dos clubes e seus torcedores. A decisão em partida única na América do Sul é uma insanidade. Só faz atrapalhar clubes e dificultar a vida das torcidas.
Pelas enormes distâncias envolvidas, malha aérea e hoteleira insuficientes e a ausência de conexões por ferrovias, a final única é um transtorno e deixa o jogo e a Conmebol à mercê de fiascos. Aconteceu na decisão da Copa Sul-Americana (que tem o mesmo modelo) de 2021. O jogo entre os brasileiros Athletico-PR e Red Bull Bragantino foi disputado no Estádio Centenário, em Montevidéu, que estava às moscas.
A final da Libertadores desta temporada, que muito provavelmente terá o Botafogo enfrentando o já classificado Atlético-MG, está marcada para o Monumental de Núñez, em Buenos Aires, com capacidade para 86 mil torcedores.
A Rádio Mitre, da Argentina, informou que existe a possibilidade de mudar o jogo do dia 31 de novembro para o Estádio Libertadores de América, do Independiente, em Avellaneda, que comporta 42 mil pessoas. O fantasma de um estádio vazio.
O respeito à cultura e às tradições do esporte mais tradicional do continente é fundamental. É preciso evoluir? Claro! Buscar novas receitas? Certamente! Mas ignorar aspectos óbvios do cotidiano e tentar impor, na base da carteirada, um padrão europeu à realidade sul-americana é um erro grosseiro.
A locomoção por trem na Europa é fácil e barata para os padrões do continente. A integração entre os países da Zona do Euro facilita entrada e saída.
Tente ir do Brasil à Venezuela e vice-versa, ou da Colômbia ao Uruguai, e até mesmo viajar em alguns trechos dentro do Brasil, para entender o drama.
Sem falar na diferença de qualidade entre os estádios. Atualmente, os melhores estádios do Brasil são peças de ficção científica para a maioria dos adversários continentais.
A volta ao sistema tradicional de dois jogos é mais justa e honesta com os principais interessados na final: os torcedores dos clubes finalistas.