A Conmebol humilha o futebol feminino
Libertadores das mulheres é tratada como lixo pelos dirigentes sul-americanos
As imagens são ultrajantes. O principal torneio de futebol feminino da América do Sul é tratado como lixo pela organizadora, a Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol). Há torneios amadores de clubes sociais com estrutura melhor do que a disponibilizada para a Copa Libertadores Feminina de 2024.
Estádios pequenos e vazios, com gramados esburacados. Jogadoras transportadas por ônibus caindo aos pedaços. Programação que esconde os jogos em horários ruins e em meio à disputa da Data Fifa.
A impressão que fica é que, usando uma expressão do universo esportivo, a Conmebol faz a Libertadores Feminina apenas para “cumprir tabela”.
Curiosamente, a entidade que comanda o futebol sul-americano programou uma série de atividades paralelas à Libertadores das mulheres com o sedutor nome de “Futebol com F de Feminino”. Mas o que se vê no Paraguai para a disputa do torneio está mais para Futebol com F de Fiasco.
Viralizou uma imagem postada pela jogadora Gabi Zanotti, do Corinthians, na qual ela mostra as condições do ônibus destacado para conduzir a equipe. O veículo parecia saído de um ferro velho, com equipamentos quebrados e cadeiras destruídas. Zanotti também reclamou dos péssimos gramados.
Laurina Oliveros, goleira do Boca Juniors, engrossou o coro de protestos: “Jogar a cada três dias, em estádios com gramados que não têm condições, com o calor que faz. É uma loucura, não entra na minha cabeça. É preciso mais carinho com o futebol feminino, assim não há como crescer”.
A título de comparação, sugiro que o amigo leitor procure na internet imagens da final da Eurocopa Feminina de 2022. A Inglaterra conquistou o título derrotando a Alemanha no estádio de Wembley, que estava lotado.
Um palco mítico do futebol, com gramado perfeito e 87.192 torcedores, recorde histórico da competição. Tendo a Inglaterra como sede, o torneio ofereceu gramados perfeitos em todas as partidas. O público total da competição europeia foi de 574.875 torcedores, média de 18.544 por partida.
A final da Champions League Feminina de 2023-24, vencida pelo Barcelona sobre o Lyon, reuniu mais de 50 mil torcedores em Bilbao, na Espanha. O título (sem contar o acumulado por fases), rendeu 350 mil euros ao clube catalão.
A cota de participação na fase de grupos foi de 400 mil euros. Cada vitória rendeu 50 mil euros (o empate valia 17 mil). O vencedor de cada grupo levou um bônus de 20 mil euros. Quartas-de-final pagaram 160 mil e semifinais, 180 mil.
Curioso é que a Conmebol faz uso político do discurso de inclusão quando aborda o tema do futebol feminino.
Na prática, a realidade é outra. A premiação para o time campeão da Liberadores Feminina é de 2 milhões de dólares. No torneio masculino, o título rende 23 milhões de dólares ao vencedor — sem contar o acumulado das outras fases.
Quando a Copa do Mudo Feminina de 2027, que será no Brasil, está no horizonte, fica ainda mais feio para a Conmebol, que é a confederação do país-sede, tratar a Libertadores das mulheres como um produto de segunda classe.
Disputada por 16 equipes divididas em quatro grupos, a Libertadores Feminina é uma competição realizada a toque de caixa. Começou em 3 de outubro e terminará neste sábado, dia 19. Duas semanas de jogos em que somente a final será realizada num estádio digno desse nome: o Defensores Del Chaco, a casa da seleção paraguaia.
A semifinal em que o Corinthians derrotou o Boca Juniors foi disputada no antigo estádio Adrian Jara, que pertencia ao General Diaz, time da terceira divisão paraguaia. Com capacidade para quatro mil torcedores, o estádio foi comprado pela Conmebol, que pretende reformá-lo para a Copa de 2030, ampliado a capacidade para 60 mil pessoas.