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    Maurício Noriega
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    Maurício Noriega

    Mauricio Noriega é um dos jornalistas esportivos mais reconhecidos do país. Ganhou o prêmio ACEESP de melhor comentarista esportivo de TV seis vezes.

    É importante não misturar farsa com esporte

    Luta entre Popó e Bambam foi somente diversão embalada como coisa séria

    No teatro, a farsa é um tipo de comédia que faz uso de caricaturas, geralmente em produções curtas, de um ato, com ênfase em situações ridículas.

    Um dos assuntos mais comentados do Brasil na última semana foi o suposto combate de boxe envolvendo o pugilista aposentado Acelino Popó Freitas e o influenciador Kleber de Paula Pedra, o Bambam.

    Por tudo que envolveu a promoção do evento e sua conclusão rápida, com nocaute de Popó aos 36 segundos do primeiro assalto, fica evidente que foi montada uma farsa, no sentido teatral. Popó foi campeão mundial por quatro associações profissionais de boxe e em duas categorias diferentes. Bambam é uma dessas celebridades efêmeras que buscam a fama a qualquer custo.

    É preciso explicar claramente a diferença entre um evento promocional e uma competição esportiva oficial. Ainda que seja promovido e organizado de forma profissional, esse tipo de confronto envolvendo um ex-atleta de alto rendimento e um desafiante amador propõe somente diversão embalada como coisa séria.

    Deveria ficar claro para quem consome esse tipo de produto que o que se vê ao vivo ou em alguma tela é uma farsa.

    Esse tipo de promoção não é novidade.

    No México, faz enorme sucesso um tipo de luta livre ensaiada entre lutadores mascarados. Muitos são celebridades nacionais. Nos Estados Unidos também é bastante popular esse tipo de promoção. As pessoas se divertem, a transmissão pela TV tenta vender um clima de seriedade, mas no fundo todos sabem que é uma farsa e se divertem com isso.

    Um dos espetáculos esportivos de farsa mais longevos e reconhecidos do mundo é protagonizado pelos Harlem Globetrotters, no basquete. Nele, um time de atletas extremamente talentosos enfrenta um adversário que serve de escada para piadas e derrotas previamente combinadas.

    No tênis é comum que sejam realizados jogos de exibição, sem caráter competitivo, nos quais os pontos são interrompidos para interação com os espectadores.

    Em 1973, foi realizada a “Batalha dos Sexos” no tênis. O tenista veterano Bobby Riggs, que venceu Wimbledon em 1939, havia desafiado a jogadora Margareth Court, que era a líder do ranking mundial no período, para uma partida. Falastrão, Riggs venceu por 2 sets a 0 e engatou um discurso machista que ressaltava a superioridade masculina no esporte.

    Os Estados Unidos viviam um momento de grande reivindicação de direitos civis por parte das mulheres, e Billie Jean King, uma das melhores jogadoras do mundo e ativista, aceitou um novo desafio proposto por Riggs.

    Craques no marketing esportivo, os americanos produziram a ideia da “Batalha dos Sexos”. Capricharam na promoção em eventos pelo país, programaram transmissão ao vivo em rede nacional de TV para 50 milhões de telespectadores e reservaram uma arena para 30 mil pessoas, o Astrodome, em Houston, para o jogo.

    Riggs, de 55 anos, certamente não esperava que King, então com 30 e no auge da forma, utilizaria o evento como instrumento de mensagem dos direitos da mulher. Utilizando a estratégia de prolongar os pontos para desgastar o adversário, King venceu por 3 sets a 0 e deu uma dura lição em Riggs.

    O que surgiu como farsa serviu para valorizar o tênis feminino, que buscava justamente mais valorização em um momento no qual os homens ganhavam prêmios muito maiores.

    A promoção entre Popó e Bambam é uma versão brasileira de duelos protagonizados pelo ator e influenciador americano Jake Paul. Ele ganhou fama nos Estados Unidos desafiando lutadores de artes marciais profissionais e atletas de outros esportes para lutas de boxe (venceu inclusive o brasileiro Anderson Silva). Paul treinou bastante e efetivamente disputou lutas caraterizadas como boxe profissional por oferecerem as chamadas “bolsas” de premiação. Mas sem chancela das grandes associações.

    O perigo de colocar ex-atletas profissionais de excelência para enfrentar atletas amadores está no risco de uma lesão grave. Além de vender a falsa ideia de que qualquer amador está apto a desafiar profissionais de alto rendimento do esporte.

    Por isso é preciso deixar sempre bem claro a diferença que existe entre um evento promocional de entretenimento e um espetáculo de esporte profissional que entretém.

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