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    Maurício Noriega
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    Maurício Noriega

    Mauricio Noriega é um dos jornalistas esportivos mais reconhecidos do país. Ganhou o prêmio ACEESP de melhor comentarista esportivo de TV seis vezes.

    Tragédia no Sul deveria paralisar Brasileirão pelo menos por uma rodada completa

    Trata-se, antes de mais nada, de empatia e solidariedade. Depois, de tentar dar alguma condição de isonomia para os times gaúchos

    Sei que vou tomar porrada dos lacradores de plantão e alguns chamarão de hipocrisia meu argumento. Pouco importa. O que não pode acontecer é estarmos insensíveis ao que acontece no Rio Grande do Sul, um pedaço de Brasil como todos os outros cantos desse País.

    O futebol faz parte dessa realidade. Está, inclusive, dando belos exemplos de solidariedade através de atitudes de jogadores profissionais de clubes do Sul, inclusive estrangeiros, que estão trabalhando no auxílio aos desabrigados.

    Há três times do Rio Grande do Sul na Série A do Campeonato Brasileiro: Grêmio, Internacional e Juventude. Numa rodada em que não se enfrentem dois clubes gaúchos, é um envolvimento de 30% da competição, já que seriam seis clubes afetados entre 20. O impacto é grande em termos esportivos para justificar uma paralisação de ao menos uma rodada.

    Mas há um impacto muito maior que o esportivo, que é humano, de cidadania e, inclusive, patriótico, no melhor uso da palavra.

    Estamos presenciando aquela que certamente se transformará numa das maiores, se não for a maior tragédia da história do Brasil.

    Entendo que a vida tenha que seguir adiante, que num País de dimensões continentais e realidades muito distintas temos pessoas cotidianamente enfrentando problemas gravíssimos.

    Mas trata-se de prioridades.

    Em 2023, a Turquia paralisou seu campeonato nacional de futebol após um terremoto. Algumas imagens que vemos do que ocorre no Rio Grande do Sul remetem ao rastro de destruição de um terremoto ou um maremoto.

    Não sou o dono da verdade. Sei que muita gente pensa diferente, e também sei que há um custo econômico e político na paralisação. Sou paulista, nascido no interior do estado, e me pergunto qual seria a reação da mídia esportiva daqui se uma tragédia semelhante se abatesse sobre São Paulo, ou sobre o Rio de Janeiro?

    Numa análise o mais fria possível, paralisar o torneio por completo por uma rodada deixaria os clubes praticamente no mesmo patamar de disputa, exceto os seis já envolvidos nos jogos adiados. Seria empurrar o torneio mais algumas datas adiante. Além de dar uma condição próxima à igualdade em termos de disputa. Próxima porque será impossível igualar.

    Como chegar a ou sair de Porto Alegre com a pista do aeroporto Salgado Filho inundada? Qual será a prioridade quando ele voltar a operar?

    Como se deslocar pela cidade para ir a um estádio, como preparar um time com centros de treinamento e estádios alagados?

    Esses são apenas aspectos diretamente ligados ao futebol.

    Há outros muito mais importantes nesse momento. Empatia e solidariedade talvez sejam os mais significativos.

    Por mais que eu siga analisando os jogos por dever profissional, como meus colegas, em certos aspectos pode parecer até falta de sensibilidade.

    Muita força aos nossos irmãos gaúchos!

    Muita atenção aos recados que a natureza está mandando.

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