Mauro Sousa, filho do cartunista Mauricio de Sousa, lembra quando seu pai o perguntou o que era uma pessoa transexual.

“Ele perguntou isso numa ingenuidade de realmente querer saber e eu expliquei”, contou ao Na Palma da Mari.

Para Mauro, é inspirador que seu pai tenha 89 anos e continue aberto para aprender. “Eu espero chegar nos meus 89 anos com essa mesma humildade”, afirma.

Os personagens de Maurício nasceram em 1963, mas a turminha do bairro do Limoeiro está sempre sendo atualizada para os tempos atuais. Mauro, que é diretor de espetáculos da Mauricio de Sousa Produções (MSP), contou que uma das grandes conquistas da empresa foi a criação de um Comitê de Diversidade e Inclusão.

“Trabalhamos com os principais eixos, que são étnico, racial, LGBT+ e de corpos. Como um reflexo disso, vão vir personagens, histórias, peças. É muito claro para a gente da importância disso. Apesar de muita gente dizer que é mimimi, nós sabemos a importância disso para você, para mim e para quem realmente está disposto a entender”, refletiu.

Além dos personagens, outro impacto é na própria família Sousa. Um dia, Mauricio publicou uma foto com Mauro e seu marido, Rafa, e a legenda: “Tomando café com meu filho e o meu genro”. No dia seguinte, a publicação estava em todos os lugares da internet. Ao mesmo tempo que recebeu muito amor e apoio, também foi alvo de muita homofobia, e isso inclui ameaças.

Mauro lembra que sua foto foi parar até na Câmara dos Deputados, com um deles apontando e dizendo que eles eram “do demônio” e que “querem transformar as nossas criancinhas”.

“Foi muito difícil. Eu estava entrando num quadro de depressão porque não soube lidar com essa enxurrada de energia negativa. Mas eu tive acolhimento dos meus pais, dos meus irmãos, do meu marido”, lembra.

“A família, para qualquer LGBT é essencial, crucial para a gente conseguir sobreviver. É uma questão de sobrevivência”, explica. “É o que nos ajuda, que nos fortalece, faz a gente continuar. Você tem pra onde voltar. Eu tenho pra onde voltar, eu tenho quem abraçar. Não é todo mundo que tem isso, eu sei se esse privilégio que tenho”.

Um caso que mostra a consequência do trabalho de diversidade na MSP e de mostrar sua família nas redes sociais aconteceu na CCXP, quando uma garota trans de 17 anos o abordou no evento.

“Ela tava muito tímida, falou: ‘Mauro, obrigada. Obrigada por mostrar a sua família porque foi assim que meu pai me aceitou’. E aí veio o pai dela, super emocionado, agradecer também. Falou: ‘Muito obrigado! Hoje eu amo minha filha'”, recorda.