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    Luísa Martins
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    Luísa Martins

    Em Brasília, atua há sete anos na cobertura do Poder Judiciário. Natural de Pelotas (RS), venceu o Prêmio Esso em 2015 e o Prêmio Comunique-se em 2021. Passou pelos jornais Zero Hora, Estadão e Valor Econômico

    Análise: liminar que derruba licença prévia da BR-319 é alívio para Marina Silva

    Ministra tem defendido estudos mais criteriosos para levar obra adiante enquanto trava embate silencioso com o Ministério dos Transportes

    A derrubada da licença prévia para reconstrução e asfaltamento do trecho do meio da BR-319, um dos empreendimentos mais controversos do país, representa alívio — pelo menos temporário — para a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que trava mais um embate com a ala “desenvolvimentista” do governo.

    Mesmo em meio às agendas do G-20, a cúpula do Ministério do Meio Ambiente acompanhava com lupa o desenrolar da ação civil pública ajuizada pelo Laboratório do Observatório do Clima. Assim que foi concedida a liminar da juíza Maria Elisa Andrade, da 7ª Vara Ambiental do Amazonas, houve uma discreta celebração.

    O assunto é especialmente caro para Marina. A obra ainda estava longe de começar — falta a licença de instalação (segunda etapa do processo de licenciamento) –, mas a ministra já manifestava preocupação com a dimensão do impacto ambiental.

    Ao programa CNN Entrevistas, em maio, Marina chegou a defender a exigência de uma “Avaliação Ambiental Estratégica” para a BR-319, que liga Manaus a Porto Velho.

    É um modelo semelhante ao adotado no projeto de exploração de petróleo na Foz do Amazonas, com estudos amplos e prolongados, o que jogaria para um futuro pouco palpável o início efetivo da obra.

    “Você não vai fazer a licença olhando só o empreendimento. Tem que ver toda a área de abrangência: como isso vai repercutir nas terras indígenas, em desmatamento… Qual a capacidade de essa estrada dar resposta a determinados problemas”, disse ela na ocasião.

    Para Marina e seus auxiliares no ministério, há chances de o projeto tornar-se um divisor de águas (negativo) na Amazônia, impulsionando um eixo de desmatamento em áreas ainda bem preservadas da maior floresta tropical do mundo. O risco, com acesso facilitado ao coração da floresta, é de aumento descontrolado da grilagem de terras.

    Não é uma avaliação consensual. O Ministério dos Transportes reconhece a sensibilidade ambiental do projeto. No entanto, a gestão de Renan Filho entende que a proposta não só é sustentável, como totalmente exequível.

    A ideia é inovar e construir uma “estrada-parque”, com mais de uma centena de túneis para passagem de fauna, isolamento por cercas e monitoramento eletrônico para coibir a atuação de garimpeiros e desmatadores.

    Além disso, técnicos da pasta apontam que a BR-319 é a única a conectar as capitais do Amazonas e de Rondônia, e que a pavimentação do “trecho do meio” é essencial para o desenvolvimento econômico e social da região.

    A ideia, no Ministério dos Transportes, é transformar a BR-319 em um “case” de infraestrutura que respeita o meio ambiente. Um projeto capaz de colocar o Brasil como referência de desenvolvimento sustentável.

    Marina não se convence. Nos bastidores do Ministério do Meio Ambiente, pesa o fato de a licença prévia ter sido concedida ainda no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em meio a um contexto de esvaziamento das políticas públicas de preservação do meio ambiente, o que foi reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

    Para completar, a ação tem como réus o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, e o Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (Dnit), que está sob o guarda-chuva de Renan Filho. Ou seja, embora o assunto oponha essas duas alas do governo, ambas precisarão atuar juntas nos próximos passos da celeuma judicial.

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