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    Jussara Soares

    Em Brasília desde 2018, está sempre de olho nos bastidores do poder. Em seus 20 anos de estrada, passou por O Globo, Estadão, Época, Veja SP e UOL

    Pai de Mauro Cid nega à PF ter vazado delação de ex-ajudante de ordens

    General Mauro Lourena Cid negou ter vazado detalhes sobre depoimentos do filho ao entorno de Jair Bolsonaro

    A Polícia Federal abriu uma frente de investigação para apurar o vazamento da delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL).

    Nesta sexta-feira (6), o general Mauro Lourena Cid, pai do ex-ajudante de ordens, prestou depoimento à PF no Rio de Janeiro (RJ) e foi questionado sobre as tentativas do entorno de Jair Bolsonaro para ter acesso às declarações feitas pelo tenente-coronel no âmbito da colaboração premiada. O general negou ter vazado informações sobre o acordo.

    “No relatório final do inquérito de tentativa de golpe de Estado, a PF apontou que, em cima da mesa de um assessor do general Walter Braga Netto, na sede do PL, havia um documento que descrevia perguntas e respostas relacionadas ao acordo de colaboração premiada firmado pelo ex-ajudante de ordens.”

    “O contexto do documento é grave e revela que, possivelmente, foram feitas perguntas a Mauro Cid sobre o conteúdo do acordo de colaboração realizado por este em sede policial, as quais foram respondidas pelo próprio, em vermelho”, diz o relatório.

    O documento traz perguntas sobre a “minuta do artigo 142” e sobre o general Mario Fernandes, preso acusado de ser o autor do plano Punhal Verde e Amarelo, que consistia na execução do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do vice Geraldo Alckmin (PSB) e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

    No papel localizado pela PF, ainda há questionamento sobre a atuação das Forças Especiais nos dias 12 e 24 de dezembro de 2022 e 8 de janeiro de 2023. “Respectivamente, nas datas em que houve incêndio de veículos em frente à sede da PF em Brasília, mesmo dia da diplomação do presidente Lula; quando uma bomba em um caminhão-tanque foi localizada próximo ao aeroporto de Brasília, e na data dos ataques às sedes dos três Poderes.”

    “Em um trecho do documento, a pergunta é: ‘O que está saindo na imprensa e não foi delatado?'”

    “O contexto do referido documento confirma que o grupo criminoso praticou atos concretos para ter acesso ao conteúdo do acordo de colaboração firmado por Mauro Cesar Cid com a Polícia Federal”, diz.

    O relatório também aponta, com base em uma troca de mensagens entre general Mario Fernandes e o coronel Jorge Kormann, que os pais de Mauro Cid teriam conversado com os generais Braga Netto e Augusto Heleno, ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), e informado que “é tudo mentira” o conteúdo de reportagens publicadas na imprensa.

    A troca de mensagens, segundo a investigação, ocorreu apenas três dias depois de Cid fechar o acordo de delação, em setembro de 2023. Na época, o ex-ajudante de ordens ainda estava preso.

    Aliados do general Braga Netto afirmam que o documento encontrado na sede do PL era um roteiro preparatório para depoimentos de pessoas convocada a prestar depoimento no CPMI de 8 de Janeiro.

    Nesta quinta-feira (5), o ex-ajudante de ordens também prestou depoimento à PF. Mauro Cid tem um acordo de colaboração premiada desde setembro de 2023 e já foi ouvido 14 vezes. As suas declarações têm subsidiado investigações sobre o caso das joias, a falsificação do cartão de vacina da Covid-19 e sobre tentativa de golpe de Estado.

    O pai do ex-ajudante de ordens é investigado no caso das joias sauditas recebidas pelo governo Bolsonaro e supostamente colocadas à venda nos Estados Unidos. O general seria o responsável pelas negociações dos bens no país.

    Outro lado

    Em nota, a defesa de Braga Netto afirmou que o general “não tomou conhecimento do documento que tratou de suposto golpe e muito menos do planejamento para assassinar alguém”.

    “O general não coordenou e não aprovou plano qualquer e nem forneceu recursos para tal”, informaram os advogados do militar.

    A delação

    Mauro Cid é considerado uma das principais peças da apuração sobre a possível tentativa de golpe encabeçada por Bolsonaro, integrantes de seu governo e aliados. O STF homologou o acordo de delação do ex-ajudante de ordens em 9 de setembro de 2023.

    Ao firmar o acordo, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro deixou a prisão. Ele estava preso desde 3 maio do mesmo ano, após ser alvo de investigação que apura a inserção de dados falsos nos cartões de vacina do ex-presidente.”

    O ex-ajudante de ordens correu o risco de perder a delação duas vezes. Em março deste ano, Mauro Cid ficou enfrentou a possibilidade de perder a delação premiada após áudios vazados mostrarem ele criticando Alexandre de Moraes e a Polícia Federal (PF).

    Após prestar depoimento a Moraes no dia 22 daquele mês para explicar o vazamento dos áudios publicados pela revista “Veja”, o militar foi preso novamente. Mauro Cid foi solto em 3 de maio deste ano, por decisão de Alexandre de Moraes, que manteve integralmente o acordo de delação premiada.

    No dia 21 de novembro, Mauro Cid foi chamado para uma audiência com Alexandre de Moraes após a PF apontar omissões e contradições do ex-ajudante de ordens. Mais uma vez, o ministro do STF manteve os benefícios do acordo de delação premiada.

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