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    Jussara Soares
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    Jussara Soares

    Em Brasília desde 2018, está sempre de olho nos bastidores do poder. Em seus 20 anos de estrada, passou por O Globo, Estadão, Época, Veja SP e UOL

    Isolado entre militares, Braga Netto diz a interlocutores que não pressionou por golpe, mas cobrava posição de comandantes

    Candidato a vice de Bolsonaro em 2022 disse que cobrança era para que membros da Defesa dessem uma resposta para finalmente concluir uma transição de governo tranquila.

    Um dos principais alvos da investigação sobre a suposta tentativa de golpe de Estado e isolado por militares, o general Walter Braga Netto, candidato a vice na chapa de Jair Bolsonaro (PL) em 2022, tem dito a interlocutores que suas mensagens, algumas delas usando palavras de baixo calão, eram apenas uma cobrança para que comandantes das Forças Armadas agissem e dessem uma resposta à pressão bolsonarista no fim do governo.

    A explicação de Braga Netto, que foi ministro da Casa Civil e da Defesa, é que, na época da troca de mensagens reveladas pela investigação da Polícia Federal, ele não tinha cargo no governo e vinha sendo pressionado por militares da reserva e apoiadores sobre o fim do mandato de Bolsonaro.

    Ou seja, não cabia a ele tomar uma decisão fosse ela qual fosse.

    Ainda segundo a versão do ex-ministro, a cobrança dele era que para que comandantes do Exército, Marinha e Força Área Brasileira (FAB), e o então ministro da Defesa, general Paulo Sergio Nogueira, dessem uma resposta para finalmente concluir uma transição de governo tranquila.

    Nessa conversas, o general costuma minimizar os xingamentos a outros militares, dizendo se tratar de uma linguagem comum entre integrantes das Forças Armadas.

    Ao fim de 2022, os acampamentos na frente dos quartéis pediam uma intervenção que impedisse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), eleito em outubro, tomasse posse, e Bolsonaro ficasse no poder.

    Em novembro daquele ano, ao sair do Palácio da Alvorada, Braga Netto disse a apoiadores: “Vocês não percam a fé, é só o que eu posso falar para vocês agora”.

    De acordo com as investigações, em dezembro de 2022, Braga Netto em conversa com Ailton Barros, capitão reformado do Exército, critica o então comandante do Exército.

    “Meu amigo, infelizmente tenho que dizer que a culpa pelo que está acontecendo e acontecerá e do Gen. Freire Gomes. Omissão e indecisão não cabem a um combatente”, escreveu Braga Netto.

    Na sequência, Ailton Barros, referindo-se a Freire Gomes, responde: “Vamos oferecer a cabeça dele aos leões.” Braga Netto concorda e escreve mais uma vez: “Oferece a cabeça dele. Cagão”, diz o trecho destacado do relatório da PF.

    Em outra mensagem, também de dezembro de 2022, Braga Netto envia mensagens para Ailton Barros orientando ataques ao então comandante da FAB, tenente-brigadeiro Baptista Junior, a quem adjetivou de “traidor da pátria”. O ex-ministro ainda determina que se faça elogio ao almirante de esquadra Almir Garnier, então comandante da Marinha.

    Ainda segundo as investigações, Garnier teria concordado com um golpe de Estado e teria colocado suas tropas à disposição de Bolsonaro. Intimado a prestar depoimento, o ex-comandante da Marinha ficou em silêncio.

    A revelação da troca de mensagens causa indignação em integrantes da cúpula das Forças Armadas, principalmente porque a conversa de Braga Netto se deu com Ailton Barros que foi expulso do Exército por abuso e desacato por decisão do Superior Tribunal Militar (STF), em 2006.

    Após ser alvo de busca e apreensão na operação da Polícia Federal em 8 de fevereiro, Braga Netto perdeu o salário de cerca de R$ 40 mil no PL, onde tinha o cargo de secretário de Relações Institucionais.

    Proibido de manter contato com o ex-presidente Bolsonaro, ele tem passado a maior tempo no Rio de Janeiro e se dedicado ao diretório estadual do partido.