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    Jussara Soares
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    Jussara Soares

    Em Brasília desde 2018, está sempre de olho nos bastidores do poder. Em seus 20 anos de estrada, passou por O Globo, Estadão, Época, Veja SP e UOL

    Atentado contra Trump teve mais menções na plataforma X no Brasil do que saída de Biden, aponta estudo

    Relatório indica que, pelo menos no Brasil, tiro no republicano gerou reação 113% maior do que a desistência do democrata

    A desistência do presidente dos Estados Unidos Joe Biden de concorrer à reeleição no último domingo (21) gerou menos repercussões nas redes sociais no Brasil do que o atentado ao ex-presidente Donald Trump, no dia 13.

    O volume menor de publicações é atribuído à dificuldade da direita brasileira em emplacar um novo discurso diante da reviravolta nas eleições americanas com a entrada da vice-presidente Kamala Harris na disputa.

    As conclusões constam no Relatório de Inteligência Digital, da FGV Comunicação Rio, que analisou 2,4 milhões de postagens de 27 de junho a 22 de julho no X (antigo Twitter).

    O estudo, coordenado pelo professor Marco Aurélio Ruediger, identificou na plataforma 532.839 menções sobre a a tentativa de assassinato de Trump durante um comício na Pensilvânia, e 249.592 publicações acerca da saída de Biden da corrida presidencial e o seu endosso para que sua vice, Kamala Harris, seja oficializada como candidata democrata.

    “A reação nacional, especialmente da direita, ao atentado contra Donald Trump foi 113% mais volumosa do que a mobilização em torno da desistência de Biden. Enquanto o primeiro caso possuía uma narrativa já conhecida a nível nacional, relacionada à teoria de perseguição política contra lideranças da direita, o segundo tópico pode ainda estar sendo assimilado pelo campo – o que pode explicar o volume relativamente menor”, cita o relatório.

    Nos dois episódios, o debate brasileiro alavancado pela direita buscou fazer comparações com o cenário político brasileiro. Boa parte do conteúdo compartilhado nas plataformas utiliza o humor para traduzir a disputa americana.

    O atentado contra Trump reforçou uma associação com a facada sofrida pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na campanha de 2018, atribuindo uma suposta violência da esquerda.

    Já no caso da desistência de Biden houve um aumento das comparações com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e associando a questão etária, estimulando a narrativa que o petista também não estará apto a concorrer à reeleição.

    O professor Marco Ruediger, diretor da FGV Comunicação Rio, cita que o menor engajamento nas redes sociais da direita diante da saída de Biden pode ser atribuído à surpresa da entrada de Kamala na corrida presidencial de modo revigorante para a campanha Democrata.

    Ao mesmo tempo em que o discurso etarista que era feito acerca de Biden, de 81 anos, agora pode ser usado pela esquerda contra Trump, que tem 78 anos. Kamala tem 59 anos.

    “A direita brasileira estava surfando na potência de Trump e não soube como atacar diante da entrada de Kamala. Eles vão buscar brechas e vão reagir, mas, agora, o silêncio nas redes falou mais alto.”, observa o professor.

    De acordo com o professor, o bolsonarismo aguarda a reação dos trumpistas para reproduzir nas redes no Brasil.

    “É preciso tempo para absorver o impacto da entrada de Kamala e criar uma estratégia. A direita brasileira aguarda a reação trumpista para replicar”, observa.

    Até agora, ainda de acordo com o estudo, as narrativas da direita se concentram em questionar a nacionalidade de Kamala Harris, filha de uma mãe indiana e de um pai jamaicano, propaganda que isso a impossibilitaria de concorrer à Presidência.

    O mesmo discurso foi utilizado contra Barack Obama, na eleição de 2008. Além disso, repetem que Kamala é uma adversária mais fácil de ser vencida por Trump do que Biden.

    O engajamento no Brasil no debate das eleições americanas é maior na direita que busca o espelhamento com os conservadores nos Estados Unidos, explica o professor.

    Com isso, uma eventual vitória do republicano reforça a direita no mundo e, no Brasil, é vista com a expectativa de contribuir para o ex-presidente Jair Bolsonaro reverter a inelegibilidade no Brasil.

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