Análise: de olho em rejeição, Nunes e Boulos fazem ciranda de ataques em debate
Prefeito e deputado repetiram estratégias em confronto sem surpresas e pouco propositivo
A uma semana do segundo turno, o prefeito de São Paulo Ricardo Nunes (MDB) e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) foram para o debate organizado pela Rede Record e pelo jornal Estadão com estratégias desenhadas a partir das pesquisas de intenção de voto e fizeram uma ciranda de ataques mútuos.
À frente nas pesquisas, Nunes buscou administrar a vantagem explorando a rejeição a Boulos. Chamou o parlamentar de “extremista” e “invasor”, lembrando da atuação do deputado no Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, e o acusou de ser contra a Polícia Militar. Ainda questionou o adversário sobre a legalização de drogas e aborto.
Boulos, por sua vez, com a missão de tirar a diferença nas urnas, partiu para o ataque, tentando tirar o prefeito da zona de conforto. O candidato do PSOL aproveitou a crise energética e chamou o prefeito de “pai do apagão”. Apontou supostos esquemas na administração municipal e voltou a questionar por que Nunes não abre o sigilo bancário.
Ao longo do embate, mesmo diante da pergunta de jornalistas sobre questões da cidade de São Paulo, os candidatos insistiram num jogo de rejeição. Nunes apontou a falta de experiência em cargo executivo de Boulos, que rebateu chamando o prefeito de mau gestor.
Na tentativa de colar a imagem de “agressivo” no deputado do PSOL, Nunes levou – ao debate – o episódio em que manifestantes do MTST depredaram a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), na Avenida Paulista, em 2016.
Provocado, Boulos sacou um episódio em que Nunes, em 1996, teria ido parar em uma delegacia na cidade de Embu das Artes após supostamente ter dado tiros para cima na saída de uma boate.
Durante o programa, Boulos optou por repetir a estratégia de fazer questionamentos ao prefeito e acusá-lo de fugir das respostas. Nunes rebatia dizendo que o candidato do PSOL falta com a verdade e o chamou de “craque em mentiras”.
Boulos demonstrou mais firmeza e estar mais à vontade no confronto. Nunes, por sua vez, tinha reações demoradas às investidas do adversário, mas seguiu a estratégia de evitar subir o tom e acusar o psolista de falta de equilíbrio.
Os padrinhos políticos de Nunes e Boulos, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), foram pouco lembrados.
Já o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), fiador da campanha de reeleição do prefeito, foi citado até por Boulos, que disse que, se eleito, vai trabalhar em parceria com o chefe do executivo estadual.
Ao final, para o eleitor, pouca clareza sobre as propostas a sete dias da votação. Fica a dúvida se o debate que se alongou na repetição de ataques foi capaz de virar algum voto ou fazer sair de casa os paulistanos que indicam que não vão votar em ninguém.
Na última pesquisa Quaest, divulgada na quarta-feira (16), 19% disseram que votarão nulo, branco ou não vão votar. Outros 3% se declararam indecisos. Já Ricardo Nunes somou 45% da preferência do eleitorado, enquanto Boulos 33%.