Prime Time

seg - sex

Apresentação

Ao vivo

A seguir

    Iuri Pitta
    Blog

    Iuri Pitta

    Jornalista, mestre em administração pública e governo e professor universitário. Atuou como repórter, editor e analista em coberturas eleitorais desde 2000

    O tempo de Lula para resolver a crise envolvendo a Petrobras

    Presidente tem hábito de arbitrar conflitos e tomar decisões por fato consumado, depois que as melancias se acomodam na caçamba do caminhão

    Não há governo sem divisão de grupos: a diferença é o nível de exposição e potencial explosivo de cada disputa, além do estilo e da estratégia dos contendores.

    A depender do rumo e do tempo que durar, a atual crise na qual foi envolvida a Petrobras tem o risco de ser, com o perdão do trocadilho, a mais inflamável até agora do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

    Há diferenças importantes em comparação, por exemplo, com a demissão do ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Gonçalves Dias, após a CNN revelar com exclusividade vídeos que mostram a atuação do ex-ministro durante o 8 de Janeiro.

    Aquele era um episódio muito mais conectado ao governo anterior do que à gestão atual, envolvia um dos setores mais “bolsonarizados” da estrutura estatal e foi resolvido com a urgência que a gravidade do caso refletia (demissão no mesmo dia).

    Desta vez, a responsabilidade é 100% do atual governo e dos personagens envolvidos, todos escolhidos pelo próprio presidente. O tempo que Lula levar para decidir mexer ou não nas peças só pode ser atribuído a ele, e a mais ninguém.

    Tampouco seria justo chamar de crise da Petrobras: se, em tempos passados, a associação da companhia aos governos do PT remetia a investigações da Operação Lava Jato por corrupção e a uma variável relevante para o impeachment de Dilma Rousseff, em março a empresa anunciou o segundo maior lucro líquido da história em 2023, tem valor estimado de meio trilhão de reais e um plano de investimentos de mesma monta até 2028.

    São números com os quais o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, imaginava esfriar a frigideira que já vinha dando sinais de aquecimento desde o ano passado, quando chegavam a Lula críticas de que não havia investimento em áreas caras ao presidente, como a indústria naval – em uma dessas cobranças, a resposta foi um vídeo de um estaleiro em Angra dos Reis (RJ) com mais de 2 mil funcionários trabalhando em encomendas da petroleira.

    Ofuscou o balanço que se pretendia positivo a decisão do Conselho de Administração da Petrobras de não liberar o pagamento de dividendos extraordinários, num total que supera os R$ 43 bilhões, dos quais mais de R$ 12 bilhões podem ajudar o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a buscar o cumprimento da meta fiscal de 2024.

    O porta-voz da posição majoritária daquela decisão foi o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, ao afirmar que “todos os investidores sabem que o governo é o controlador” da Petrobras por ter a maioria do conselho. É ele quem representa, mas não é o único dentro do governo, a posição crítica a Prates.

    Nas gestões anteriores de Lula sempre houve divisão na Esplanada dos Ministérios, como a disputa no primeiro mandato entre José Dirceu (Casa Civil) e Antonio Palocci (Fazenda), e entre Dilma Rousseff (Casa Civil) e Marina Silva (Meio Ambiente) no período seguinte. Ou ainda entre Dilma, já presidente, e a então senadora Marta Suplicy em 2014, quando a hoje novamente petista vocalizava o “Volta, Lula”.

    A arbitragem desses conflitos seguiu a lógica do caminhão de melancias: os solavancos na estrada tratam de acomodar os frutos na caçamba e chega-se ao fato consumado. Leva tempo e alguns podem cair pelo caminho, e só quem está no comando do caminhão pode acelerar ou reduzir a marcha desse processo.