Análise: as dificuldades de Lira em negociar com Lula
Pressão não costuma surtir efeito no petista, que prefere a negociação por meio-termo
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), ainda tem dificuldades em negociar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O debate sobre a chamada “taxa da blusinha” é uma mostra de que a estratégia do parlamentar tem pouco efeito sobre o petista.
Na semana passada, Lira chegou a indicar que votaria o fim da isenção sobre as compras internacionais de até US$ 50 com ou sem consenso com o Poder Executivo.
Irritado, Lula veio a público dizer que, se a proposta fosse aprovada, vetaria. Nas palavras de um assessor do governo, Lira trucou, mas Lula não caiu.
Para que não houvesse ruídos, Lira pediu, na semana passada, um encontro com Lula.
O presidente só o recebeu nesta terça-feira (28), horas antes da análise da proposta em plenário.
Não é a primeira vez que Lira eleva o tom e Lula faz ouvidos moucos.
Desde o início do governo, Lira reclama de Alexandre Padilha, ministro da articulação política, e defende sua troca.
Quanto mais Lira se queixa, mais Padilha se fortalece. O motivo, dizem petistas da velha guarda, é que Lula não aceita pressões.
O mesmo tem ocorrido com a ministra da Saúde, Nísia Trindade.
Lula até estava insatisfeito com a gestão dela, mas a ministra ganhou sobrevida diante das críticas de Lira.
A pressão não costuma surtir efeito em Lula. O presidente cede, dizem aliados do petista, quando é convencido por meio do diálogo.
Ou quando lhe oferecerem um meio-termo. É o que Lira ofereceu em encontro com Lula para discutir a “taxa da blusinha”.
Para integrantes do bloco do Centrão, o erro de Lira foi não ter modulado o seu estilo de negociação a um presidente do campo político oposto ao dele.
Lira tinha em Jair Bolsonaro um interlocutor privilegiado, sobre o qual tinha ascendência.
Tanto é que, com a criação das emendas de relator, Lira era apelidado de “ministro do Planejamento”, pelo controle que detinha sobre a peça orçamentária.
Com Lula, a relação é outra. Só que, mesmo depois de dezesseis meses, Lira ainda insiste no erro.