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    Fernando Nakagawa
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    Fernando Nakagawa

    Repórter econômico desde 2000. Ex-Estadão, Folha de S.Paulo, Valor Econômico e Gazeta Mercantil. Paulistano, mas já morou em Brasília, Londres e Madri

    Dia deve R$ 1,1 bi; supermercado culpa inflação de alimentos e concorrência pela crise

    Pedido de recuperação judicial cita que varejista perdeu clientes e passou a ter prejuízo com avanço de marcas do "atacarejo", como Assaí e Atacadão

    A dívida do supermercado Dia descrita no pedido de recuperação judicial soma R$ 1,1 bilhão. A varejista diz que a crise é resultado de uma série de problemas que se acumulam desde 2021: inflação de alimentos, forte concorrência do “atacarejo” e a guerra de preços para atrair clientes.

    O pedido entregue à Justiça mostra que cerca de 90% da dívida do supermercado tem origem nos fornecedores. Essa conta, porém, já foi paga por bancos. E, por isso, a dívida agora é do Dia com o sistema bancário.

    “As instituições financeiras contratadas pelo Dia antecipam os pagamentos desses fornecedores para receber do Dia a prazo, mediante cobrança de uma taxa”, cita o documento. Ao todo, são R$ 986,6 milhões nessas operações.

    O problema com os bancos é muito superior ao visto entre os demais credores: R$ 48,9 milhões são devidos a microempresas e fornecedores de pequeno porte e outros R$ 45,8 milhões são compromissos trabalhistas.

    O balanço da sede espanhola indica que a filial brasileira registro queda das vendas de 12,4% em 2023. No fim do ano, o resultado antes do pagamento de juros e tributos — o chamado Ebtida — foi negativo em cifra equivalente a R$ 835 milhões. O balanço original do Dia é publicado em euros pela sede na Espanha.

    Nas 34 páginas do pedido entregue à Justiça, os advogados do escritório Galdino & Coelho, Pimenta, Takemi e Ayoub explicam as razões da crise financeira. O documento menciona que a crise tem início após a pandemia da Covid-19.

    A partir de 2021, a empresa começa a ter “regressão” nos resultados. Os advogados citam que os números do supermercado começam a piorar em reação à disparada do preço das commodities, especialmente os alimentos.

    Com os preços mais altos, o Dia argumenta que parte dos clientes deixa de frequentar as lojas. Assim, também cai a venda de outros itens oferecidos nos supermercados.

    “O Dia concebe suas lojas de modo que o consumidor seja atraído por produtos fornecidos em suas seções de perecíveis e padaria, para, na visita, comprar outros itens”, explica o documento.

    “O incremento substancial do preço das commodities encareceu justamente os produtos destinados a atrair os clientes causando um duplo prejuízo: houve uma redução significativa tanto no fluxo médio de clientes, como na margem de lucro dos produtos atrelados às commodities”.

    A crise financeira da empresa foi agravada com o aumento da concorrência. No mesmo período, houve forte expansão de redes do “atacarejo” — segmento que originalmente vendia no atacado, mas também permite compras no varejo. Assaí e Atacadão são dois dos principais nomes desse segmento no Brasil.

    “Os atacarejos apresentam maior variedade de produtos que os usualmente fornecidos pelos retalhistas tradicionais e geralmente dão preferência aos produtos mais acessíveis, com descontos para compras em volumes maiores”, citam os advogados do Dia, ao mencionar que a rede acabou sendo afetada pela concorrência.